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FREDO

Roma
23, agosto 1997

O pobre regazzo Fredo estava acabando de arrumar sua melancólica mala, quando lembrou de algo que ainda guardava em sua maleta. "O Código McAllister" e mais meio mundo de fotos ainda enfiadas por dentre a contracapa.

Ele deu passos curtos, com receio de quais sentimentos retornariam a si quando o mesmo paginasse as fotos impressas. Fredo lembrou que em seu último dia em Milão antes de partir, Apollonia lhe deu a câmera para que ele registrasse os momentos mais felizes que teve, mesmo que o contexto pelo qual ele iria não tenha sido nada animador, muito menos feliz. Porém ele pensou ter cumprido o que havia prometido. Os momentos capturados pela velha câmera o jogaram de volta para o mundo em que tentava manter como Vincent. Ele quis chorar por um momento, repensando que provavelmente nunca mais veria Mona e seu fim de vida seria ainda nos negócios, morto com uma provável bala bem no meio da testa.

Porém surgiu uma solução pouco viável dentre todas as outras como chorar e pedir desculpas novamente. E com a ciência de que ela não gostaria de o ver, garantiu que pelo menos seguiria as vontades da mulher, deixando o livro que prometeu na portaria de seu prédio, juntamente com as fotos.

X

A noite estava escura, como em tantas outras em Roma, mas diferente de como estavam no inicio de sua vinda à cidade, não haviam mais tantas luzes para se quer tentar iluminar a vida de algumas pessoas que passava por ali. Tudo parecia ter voltado à estaca zero, ele sabia que tinha. Mas decidiu entrar pela última vez dentro do grande prédio pouco luminoso.

Bounasera, signore. - disse ele em Italiano, cumprimentando o velho porteiro. - Será que poderia entregar isso para Mona do 8?

— Mona... Do 8?

Os dois pareciam confusos.

— O senhor é?...

Al parou por alguns segundos, mas o que de mal poderia acontecer Já estava feito, por fim.

— É Fredo, meu senhor. Mas peço para que por favor entregue isso em nome de Vincent, pode ser?

— Bom, Fredo... - disse o porteiro que contornava a fala entre sua tosse- Eu entregaria se soubesse de que Mona o senhor está falando.

— O que?... Ahm... O senhor pode...

Ele não conseguia acreditar que ela realmente havia mudado de prédio. "Qual é?! Ela acha que sou um psicopata?"

— Tem alguma coisa, alguma lista ou arquivo no computador do senhor que pode me dizer quem mora no apartamento 8?

O porteiro parecia desconfiado, ele deslizou seu óculos quadrado até a metade do nariz e analisou bem o rosto e índone que Al aparentava, antes de se virar e puxar no sistema, o tal novo morador.

— Bom... Aqui diz que ela mora no apartamento 8 já fazem muitos anos, o nome é... - esticou-se para que pudesse enxergar melhor- Ângela Coppola.

Fredo sentiu-se como se estivesse sem ar, e talvez realmente tenha parado de respirar naquele instante. Naquele minuto, todos seus órgãos pareciam se murchar e seu coração parando de pulsar aos poucos, como uma morte súbita. Antes fosse morte, pois o pobre ragazzo Fredo ainda continuava vivo e de pé, mas apenas vegetando e tentando entender o que havia acabado de escutar.

— Ah, tudo bem eu... Devo ter errado de prédio.

Foi a única coisa que ele teve forças para dizer sem que demonstrasse que dali poucos segundos lágrimas desvendariam caminho por seu rosto, então seguiu caminho porta à fora do pequeno prédio de Roma, com o coração mais que despedaçado, forçando suas pernas a voltar para casa, mesmo que ele não tivesse muita força de vontade para isso.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora