FREDO
Roma
16, junho 1997Fredo saboreava a grande xícara de café diante de si mesmo enquanto observava Mona servindo outros clientes da forma mais simpática possível, mesmo que não parecesse genuíno.
E mesmo que seus olhos buscavam os de Mona, seus ouvidos davam mais atenção ao anúncio que a ITM transmitia sobre alguém que pensava ter um maior interesse.
— Olhem como está esta mulher!! - pasmou Andrea Mancini- Dio mio, olhem como se veste!! Toda... Masculina!!
Ele redirecionou a atenção para a TV por final.
— Me lembra muito Don'Al, em sua época ativa. - complementou o convidado do dia - A forma como se veste, anda, fala... Jesus! É como vê-lo no corpo de uma mulher!!
— Será que esse foi o motivo de seu desaparecimento? Talvez um ritual satânico possa ter o colocado para dentro do corpo da Santa Apollonia, não acha?
Fredo franziu o cenho.
— Não duvido de nada quando se trata do Moretti. E acredito seriamente que ele tem ligação com o satanismo - terminou o homem pela TV.
Mona chegou bem ao fim dos comentários maldosos, no exato momento onde exibiram como estava Apollonia nos recentes dias. E ele não deixou de analisar com cautela cada detalhe do rosto que apesar de não lhe cativar tato quanto o que via ao vivo, deixava saudades ao saber que não o veria tão cedo.
— Ela é linda, não é?- perguntou Mona.
Fredo mirou Mona aos olhos novamente, mas dessa vez não se preocupou nem um pouco se ela o reconheceria. Por um minuto, ele realmente não ligou para nenhuma das piores possibilidades que poderiam acontecer naquele dia. Então ele apenas disse:
— Está livre esta tarde?
X
Mona foi liberada por 2 horas inteiras. A vigilância sanitária havia recebido uma denuncia contra a lanchonete, então Giussepe, o dono, resolveu fechar o estabelecimento durante a visita, para que não deixasse uma má impressão aos clientes. Mona dizia que ele se importava muito com a imagem que trazia não só para seus negócios, mas também -e principalmente- à sua própria pessoa.
— Então... Vamos ficar perambulando pelo parque gastando os últimos... 30 minutos que temos?
— Claro que não! - ela riu - Tenho uma ideia melhor que isso.
Ela indicou a mão pra exatamente o centro diante deles. Era uma pequena loja de livros antigos à poucos metros deles. A vitrine enorme, que cobria grande parte daquilo, mostrava o interior da biblioteca, cheia de livros e sem nenhuma ordem entre eles. Mesmo assim, eles seguiram.
Al não demorou muito para apunhalar a câmera que carregava consigo nos últimos dias, e tirar fotos do lugar caótico.— O que acha desse aqui? - Mona perguntou com um livro nas mãos.
— "O Código McAllister"... Me parece bom, do que é?
— Mistério. Ah, aqui tem a sinopse. Faz sentido um detetive lendo um livro de outro detetive.
— É hilário não é? Dio, tem alguma alma viva aqui?- procurou Fredo.
Uma miúda velha apareceu como um vulto lento, fazendo Al parar de respirar por 1 segundo. Ela tinha cabelos brancos como a neve, seus olhos pareciam verdes numa primeira impressão, seu rosto era cheio de rugas, como uma certa bruxa de um livro que Al havia lido qualquer dia de sua infância.
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...