APOLLONIA
Milão
5, setembro 1997— Busquem as coisas do Al que ele deixou em Roma. Espero que tenha algumas fotos em algum lugar, as consiga para mim. - era o que Apollonia dizia na ligação com seus capangas no andar debaixo- Mas entregue a ele daqui algumas semanas, não quero ele pense que estamos fazendo as vontades dele.
— Fotos? Mas como saberemos quais são?
— São fotos que ele tirou em Roma. Quero saber por onde ele andou.
Ela não demorou muito após seus funcionários assentirem, para que suas mãos trêmulas colocassem de volta ao gancho, o telefone branco. Ela estava perto de chorar ao perceber que havia voltado. Que a dependência já era uma realidade fatal que teria de aprender a conviver. Havia duas saídas naquela situação: a primeira era se livrar temporariamente da abstinência usando mais drogas. A segunda no entanto, era aceitar sua doença e revelar isso ao mundo após iniciar o seu tratamento. Ela escolheu a primeira opção, obviamente. Sabia das consequências, que muito provavelmente não seria o comando interino dos negócios, com a afirmativa de que não é adequada para esse tipo de trabalho, no estado que se encontrava.
Mas garantia, apesar dos riscos, que ao abrir a última gaveta ao seu lado, uma caixinha feita de alumínio a esperava, contendo dentro uma seringa e doses de heroína, que a cada dia ela colocava em si a responsabilidade de repor o estoque.
Apollonia tirou o cinco, amarrou o mais firme que conseguiu em seu braço esquerdo, e aplicou com a mão livre, uma dose completa do que lhe deixava em paz. Ela se sentia calma obviamente, mas nunca havia voltado o efeito da primeira vez, mesmo que a todo dia fosse uma nova sensação. Cada dia mais fraco, sem graça, mas aliviador. Ela não era uma pessoa burra, e mesmo que drogada garantiu que ninguém a veria naquele estado, então houve de deitar-se ali mesmo e tentar a todo custo adormecer.
X
Ela acordou assustada, temendo as horas que havia despertado e torcendo para que mesmo em um possibilidade pequena, que tenha dormido apenas 2 horas de seu longo e ocupado dia. Mas já era noite, afinal. Não houve de se fazer muita coisa, a não ser prestar bem atenção no jornal da TV, que havia a despertado o suficiente para que fosse claro ver, quem era o assunto naquele dia.
— Và a fottere, Moretti. - xingou ela ao ver o que o jornal dizia que aconteceria dali poucos minutos.
X
Ela conduziu o carro tão rápido quando um foguete! As ruas estavam vazias, é claro. Milão inteira estava no centro da cidade, curiosos para ouvir o discurso de Al. Apollonia nem sabia ao certo o resultado do julgamento, mas temia que ele tivesse sido declarado culpado, mesmo que naquele momento, ela gostaria que ele morresse.
Lônia deixou o carro em frente a multidão, e sem nem fechar direito a porta do automóvel, correu no meio daquela gente toda, empurrando qualquer um que não lhe concedesse espaço. Até que em uma distância boa e clara do ragazzo, pode ouvir mais claramente o discurso que começou a alguns minutos antes de chegar ali.
— Eu não sou o Diabo... - disse ele Fredo temendo as possíveis vaias que cairiam por si- Por incrível que pareça eu só sou um homem solitário o suficiente para viver e morrer pelos meus negócios. Sei que ainda não devem acreditar, mas confirmo: eu ganhei.- ele abriu os braços conforme a multidão de servos possuídos -até mesmo os mais católicos- o saudavam como seu mestre gritando seu nome e abrindo uma extensa salva de palmas.
Não havia muito tempo, então Apollonia pensou rapidamente na mais óbvia coisa a se fazer, após o próprio Fredo anunciar sua volta ao negócios, como se ela não tivesse lhe proibido de mexer um dedo naquele mesmo dia. isto isso, percebeu que tinha de garantir sua permanência, mesmo se prejudicaria Al de todas as formas possíveis. Ele ficaria sem nada no fim das contas, mas ela não se importava mesmo.
X
Quando pisou seus pés novamente na casa Moretti, correu para o escritório com um saco de lixo nas mãos, além de olhos atentos a procurar qualquer fósforo que esteja espalhado pela casa. Mas ao entrar porta à dentro do grande lugar precioso, buscou por todas as gavetas qualquer documento que garantisse o poder do Don sobre sua família. Jogou processos, cartas de afiliação, contratos de grande e pequeno porte, tudo em nome do próprio Al, tudo no grande saco de lixo.
Ela desceu as escadas o mais rápido que pode, e quando fechou o porta malas, ouviu não tão longe o barulho da porta da garagem se abrindo, saindo de lá Al e Tom.
Ele estava apreensivo, ela percebeu isso sem esforço nenhum. E ao contrário do que aparentava em seu discurso, alegria e confiança não eram uma das suas principais características.
— Lônia, eu posso falar com você?
Ela mirou os olhos no que ele carregava nas mãos, quando percebeu a nova tatuagem ainda com o plástico filme. Al logo a escondeu da maneira que pode, provavelmente com medo do que ela pensaria dele. Apollonia não teve dó, no entanto. Seu olhar de julgamento não saiu de seu semblante, o que com toda certeza o deixou envergonhado o bastante para não insistir.
— Talvez amanhã. - ela disse - Tenho coisas mais importantes para fazer do que ouvir reclamações de um egoísta mimado.
X
Sentada em frente a grande pilha de folhas estava ela, confirmando que nada se acenderia ali a não ser de choros dolorosos e uma mente nada pensante naquele momento, que apenas perguntava a si mesma o por quê agindo de tal forma. Ela dizia que fazia tudo pelo amor do Al, mas logo isso se desmanchou. Apollonia era realmente boa no que fazia, e gostava muito disso. Parecia de fato, que a única coisa que a deixava viva o bastante para se sentir, é se preocupar 24 horas com os problemas de uma máfia que legalmente nem tinha posse.
Todavia, haviam outras perguntas que ela se culpava por não as ver com sentido. Fredo havia voltado de Roma diferente, mas que culpa ele tinha disso?
Porém, do mesmo modo em que se fazia várias perguntas sobre seu comportamento, também havia uma sobre os seus sentimentos. Ela ainda amava Fredo, apesar de tanto tempo passados longe? A resposta no fim das contas, era sim. Mas do que isso adiantaria se ele mesmo não mostrava mais nada? Apollonia queria amá-lo, mas se importava mais em ser amada. Então decidiu esperar o veredito final, de um coração que apesar de não muito longe, parecia se proteger para não sentir uma dor mortal.
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...