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APOLLONIA

Milão
16, março 1997

Enquanto os membros da família concordavam e discordavam entre si mediante o assassinato de Tony, ela continuava sentada ao chão do escritório vendo as fotos que havia tirado naquela semana.

— Você está maluco?!- gritava o mais velho dentre os Moretti- Acha que por ser o filhinho mimado do papai pode fazer tudo que lhe dá na telha?

— É claro que posso!! Eu sou o Don, Aléssio!! O Don!!!!- disse Fredo tentando cobrir seus gritos em cima dos de seu irmão.

- Calem a boca!! Que droga!! Parecem duas menininhas mimadas brigando por bonecas!! Aléssio, qual é o seu problema? O Fredo mandou que matassem nazistas!! E Fredo, que tipo de merda você tem na cabeça pra planejar tudo isso sem contar à nenhum de nós?!

Parecia que a bronca de Marco aos irmãos foi o bastante para que todos eles se dividissem para um canto da casa. Aléssio foi o primeiro a sair, sem dizer uma única palavra que resultasse em mais outro sermão.

Ficaram apenas il ragazzo Marco, Apollonia e Al, que tentava se acalmar.

— Bom, vou resolver mais algumas coisas com De Rosa. Depois peço para que Aléssio os entregue as notas fiscais e recibos.

Depois que Marco saiu, Apollonia percebeu o estado de ódio em que o parceiro estava. Então foi até a porta e girou a chave 3 vezes para a direita. A trancou.

Depois chegou junto à ele, que sentado em sua enorme poltrona por detrás da mesa, ponderava qualquer outra coisa que pudesse o distrair. Ela sentou à sua frente e tomou cuidado para que não danificasse as coisas sobre a mesa, mesmo sabendo que ele não se importaria nem um pouco se todas aquelas coisas fossem para o chão.

O pobre ragazzo Fredo, que parecia imerso em suas próprias paranoias, agora se encontrava mirando seus olhos aos dela. E por incrível que pareça, não parecia afobado.

— Essa roupa caiu bem em você.

Depois disso, foi possível ouvir apenas papéis e canetas rolando para de baixo da mesa.

X

ÂNGELA
14, março 1997

Em algum lugar da Itália estava ela, contemplando sua nova vida feliz. Longe de Milão, longe de sua família, longe de tudo de ruim que possa imaginar. Menos de seus traumas, que ela carregava sem mesmo querer para todo e qualquer lugar que vai.

Naquela noite ela decidiu sair sozinha para comemorar seu primeiro e último salário. A biblioteca onde ela tinha acabado de se firmar fecharia as portas na semana seguinte e ela provavelmente não teria outra opção a não ser pedir dinheiro para o seu pai. Então decidiu aproveitar a última gota de independência que lhe restava.

A última mesa do bar, lá aos fundos onde não havia quase luz, parecia ser o lugar perfeito para uma pessoa tão solitária quanto ela. Então se acomodou ali mesmo.

— Aí Pietro... - disse o misterioso rapaz sentado no balcão- Sabe eu... Cara eu acho que vou me dar bem. -disse rindo.

— Do que está falando, Vincent?- perguntou o barmen.

O rapaz olhou em redor de si mesmo, a fim de verificar se realmente o bar estava vazio o suficiente.

— O departamento cara... Eu estou falando disso à você desde o começo do ano se lembra? - o barbudo homem balançou a cabeça- Então é que... Cara eu tenho quase certeza de que vou conseguir entrar na investigação.

— Que investigação? Pelo o que me lembre você estava interessado em duas. Uma do tal Coppola e outra do... Como se chama?

— Não, eu já decidi. Os Moretti é negócio fundo, eles devem temer muito mais que o Coppola. E... Se eu conseguir pelo menos um fiasco de provas contra o Don, ele vai apodrecer na cadeia.

Pobre Ângela... Justamente no dia em que saiu para comemorar, pensava seriamente em qual era a porcentagem de um assassinato ao tal detetive dar certo. Mas quem ela queria enganar, afinal? Não tinha coragem nem para matar a si própria e se ver livre da própria dor. Matar pela proteção de um amor platônico só pioraria a relação que tinha com si própria.

Então ela torceu, rezou, pediu e implorou para qualquer força do bem, que pelo menos alertasse Fredo sobre um perigo geometricamente distante, mas relativamente próximo. 

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora