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AL

Milão
17, março 1997

Logo quando acordou naquela manhã, percebeu ao folear o jornal em sua cozinha, que Mac Taylor, o fotógrafo intruso, havia morrido à tiros na noite passada.

"ATAQUE DIRETO À MÍDIA MUNDIAL!!

Morreu na noite de ontem, o talentoso, fiel, fotógrafo e jornalista Mac Taylor. Ele foi encontrado morto em sua casa com 3 tiros do rosto e 6 espalhados pelo resto do corpo. A polícia inspecionou o apartamento na manhã de hoje e não encontraram nenhuma digital a não ser do fotógrafo.

Mas as autoridades apontaram um suspeito pelo crime. No dia anterior à sua morte, em seu último trabalho pelo ITM (Itália Times) capturou fotos de Johnny Coppola -proprietário da adega "La Birra" que tem fichas na polícia por envolvimento no tráfico de drogas- em um bar stripper. Ele foi convidado para comparecer à delegacia na tarde de hoje e deverá levar um advogado de defesa.

O Itália Times repudia o feito e lamenta a morte desse ser humano, que apesar de alemão, era um ótimo fotógrafo."

Apesar de não ser proposital, o momento que Al ordenou que matassem Mac foi perfeito. Não haveria suspeitas contra ele e ainda por cima prejudicaria seu adversário. Depois de muitas semanas, ele se sentiu um homem de sorte.

Então já sorrindo pela grande notícia, largou o jornal e cravou suas mãos nas fotos que o falecido alemão havia tirado dias antes. Al as estudou de perto, especialmente Apollonia, e naquele momento, por um minuto esqueceu do dia que teriam passado ontem.

Mas não demorou muito para que lembrasse. Consequentemente atirou-as sobre a mesa da cozinha, e saiu dali, sem se preocupar com quem as veria, ou as saqueassem.

X

Naquela manhã Al havia saído sozinho. Queria primeiramente esclarecer assuntos e pensamentos que não lhe deixavam ter uma boa noite de sono.

Andou por grande parte de Palermo, passou por bibliotecas, padarias, cafés e surpreendentemente por uma floricultura. E então, quando percebeu que havia chegado a hora de fazer o que era necessário, entrou em uma cabine telefônica e começou com as ligações.

— Marco? Oi, estou ligando porque quero que faça uma coisa por mim.

— Estou a disposição, fratello. - respondeu.

— Pensei que poderíamos aproveitar a má reputação que Coppola conquistou nos últimos dias para matar Rizzo. Quero dizer, além de ser acusado da morte de Mac, será suspeito pela dele também, já que ele substituiu a segunda família mandante. Cairia como uma vingança, não acha?

— Claro ahm... Eu e De Rosa vamos o fazer esta noite, fique em paz.

— Grazie per lo ombro amigo, fratello.

Ele apertou o gancho do telefone com o dedo e rapidamente discou um outro número, que dessa vez era de seu advogado, que também era seu irmão.

— Aléssio?

Giorno, Fredo!

— Preciso que prepare os papéis de meu divórcio o mais rápido possível.

— Está certo disso, fratello? Daqui alguns dias você pode se arrepen...

— Estou convicto. Mais convicto do que estava quando me decidi casar com essa maluca. Ah, quando conseguir, os deixe em minha mesa. E não se preocupe com o horário, provavelmente vou voltar para casa ao anoitecer.

— Pode deixar, Fredo. Mas não garanto que eu os consiga hoje. Sabe como é, divórcios são complicados e demorados.

— Dê o seu melhor. - concluiu Al.

E discou um novo número.

Dessa vez foram necessários alguns toques a mais do que os outros. Aguardou tempo demais na linha, e quando estava quase a desistir de concertar as coisas, ouviu um murmuro baixo e cansado parecido com um "alô".

O problema foi que ele não pensou antes mesmo de ligar, sobre o que e como ele falaria. Então houve um silêncio de sua parte por alguns segundos durante a chamada, até que soltou:

— Vou me divorciar, Lônia.

Ele imaginou, mesmo separados por quilômetros a reação de Apollonia. Não eram nada agradáveis na visão do homem de pensamentos negativos.

— Por... Por quê?

— Porque não a amo. Não fazia sentido para mim, para o momento em que vivo, com... As pessoas que vivo.

— Al... Me desculpe por ontem... Depois que me acalmei percebi que havia lhe taxado como um assassino qualquer...

— Não, eu... Eu também... Acho que me preocupo demais em manter os negócios acima de tudo. Mas quer saber a verdade, Lônia? A família, o comitê, a máfia é a única coisa que me resta. Provavelmente é o que me faz levantar da cama todos os dias. É tudo como se fosse uma droga. Você vicia e quando percebe isso, tem medo de entrar em abstinência.

Al se despediu dela com um sorriso amarelo estampado em seu rosto e encaixou o telefone de volta ao gancho, saindo da cabine e tirando o jornal debaixo de seu braço. O pobre ragazzo Fredo seguiu em frente, apreciando a bela visão que tinha sobre o centro da cidade de Milão. E seguidamente, passos depois após deixar a cabine telefônica, viu em frente, em direção à uma adega que não era comandada por nenhum traficante de drogas arrogante, e sim um velho amigo de seu pai.

Prontamente, apaixonado pelo vinho que acabara de beber com os olhos, à metros de distância e ansioso para rever um antigo "pai", Fredo passou pela porta sem hesitar.

O senhor que caminhava de bengalas, animou-se ao vê-lo. Ele lhe cumprimentou com muito carinho. Abraços e leves tapas nas costas foram dados em Al, que sem demorar muito falou que molhou a boca de água ao ver de longe o vinho na vitrine.

— Se chama "Chianti", veio de Arezzo, ragazzo Fredo. Un bello vino, com certeza. Começou em Toscana desde 1700. Dizem que trás sorte, dinheiro e prosperidade. - gargalhou uma risada sem fôlego.

— Vou levá-lo, Pedri. Mas se não me trazer nada nisso que promete vou querer o dinheiro de volta, ouviu? - ele fez o velho rir.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora