APOLLONIA
Milão
20, setembro 1997Apollonia percebeu que Fredo estava triste nos últimos dias, mesmo tendo voltado definitivamente aos negócios. Apesar da preocupação, ela poupou lhe perguntar o que havia acontecido, já que, ele ainda guardava tudo para si mesmo.
- O que você acha de um jantar esta noite no LeClerc? - convidou ele abrindo um sorriso.
- Ótimo. Passe na minha casa por volta das 20:30, certo? Estou um tanto quanto ocupada hoje.
A ocupação que tinha, na verdade havia pensado no mesmo instante que ele a convidou. Apollonia continha em seu guarda-roupas apenas ternos e casacos que se recusava a usar em uma ocasião como essa, principalmente com Al. Então houve de chamar Dante para ajudá-la.
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- O que você acha desse? - perguntou ela ao garoto.
- É muito bonito, senhora.
- Responda na opinião de Fredo.
- Olha... Minha mãe se vestia assim.
Ela entrou novamente no trocador revirando os olhos pelas palavras de Dante. E com a maior má vontade do mundo, vestiu qualquer outro que achou minimamente bonito.
- Olha Apollonia, o vestido tem mesmo importância? A senhora sabe que o Don vai te achar bonita mesmo se estiver coberta de lama, não é?
- Está bem, você venceu. - disse ela ao sair do vestuário- Esse é o último.
O garoto paralisou sua fala por alguns segundo. O que o fez aceitar sua incapacidade de produzir som, tendo de se virar com gestos que pôde para dizer algo que Apollonia não fazia ideia do que significava.
- Que droga Dante, diz alguma coisa!!
- É... Está, é... Na verdade, eu acho que ahm... Está... Muito bom mesmo.
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DON'ALAl foi buscá-la em sua casa 20:30, assim como ela pediu. E depois de poucos segundos batidos à porta, a moça apareceu como um anjo vestido de vermelho. Deus do céu, ele parecia tão feliz em meio aquele mundo triste e trazia consigo um buquê de rosas vermelhas o bastante para que ele visse a cor de outras coisas naquele dia, além do preto e branco que o cercava constantemente. A tristeza tinha o deixado para trás, mas ele sabia que era uma liberdade provisória. Ela voltaria de qualquer modo. Então ele decidiu aproveitar enquanto podia.
- Isso deve ser meu presente di Natale- brincou ele a fazendo rir.
O buquê agora estava nas mãos dela, que seguiu lentamente até o carro em que os levariam para o restaurante. Fredo seguiu a promessa a risca, eram apenas eles dois. Sem nem se quer um motorista.
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Em plena sexta feia, o LeClerc por mais incrível que fosse, não exibia sua capacidade total. Os dois agradeceram por isso. A possibilidade de haver repórteres era bem menor agora.
A mesa larga que Fredo havia reservado naquele dia estava em perfeita organização, e Apollonia animada com tal noite. Al ficou feliz no fim das contas. Mais ainda porque a felicidade era aliviante. Havia dado certo pelo menos o início da noite que tinha tudo para ser um desastre.
Mas não só o começo, como também o meio e o final foram um verdadeiro momento de paz, que tinha de ser aproveitado pelos dois, já que ele mesmo não sabia se teria outra oportunidade dessas na mão, e lhe cabendo perfeitamente como uma luva. Tudo nele parecia combinar com ela, naquela noite eles viraram um só, que se divertia consigo mesmo sem prestar atenção no mundo fútil e sozinho fora da bolha em que os dois se mantinham presos, se rejeitando a sair.
Porém, o relógio da catedral de Milão já havia tocado duas vezes desde o momento em que acabaram de comer, o que os forçava a ir embora, já que sabiam que no dia seguinte tudo voltaria ao normal.
Uma mão se levantou ao longe e foi possível se ouvir uma voz masculina chamando por ele. Era Bologna por fim. Ele realmente agradeceu mentalmente Bologna pela ajuda involuntária.
- Como vai, fratello? - perguntou Bologna.
- Bene, grazie. O que faz por aqui?
- Bounanotte, Santa ragazza Apollonia- ele disse antes de responder - Ah eu vim levar as crianças para comer, sabe como é... Depois que Alessandra se foi, tive de fazer tudo sozinho.
- Ah meu Deus, sua esposa faleceu? - perguntou ela cuidadosa com as palavras.
- O que? - Al riu- Não dê ouvidos à ele, a Alessandra está ali- disse Al rindo enquanto todos observavam a esposa de Bologna, e davam "tchauzinho" quando ela os olhava- Foi um prazer vê-los, fratello.
- Vão com Dio! Nos encontramos no próximo natal?
Fredo parou por um segundo no meio do caminho, temendo do que teria de falar. Naquele instante, Bologna pareceu ter devolvido a dor para Al, que mesmo assim se forçou a responder, empurrando para dentro o choro que viria a derramar.
- No próximo natal.
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Depois de algumas horas passadas do encontro acidental com Bologna, Al repensava sobre seu plano, e no segundo passo para que o concluísse. Mas a coisa do "no próximo na natal" ainda o fazia pensar nas consequências disso tudo.
Talvez morar em Toscana não era uma boa ideia. Talvez seus amigos chorariam ao se lembrar dele pelo resto da vida. Talvez houvesse um movimento mundial de apoio à dele depois que se mudasse. Talvez, teria de passar todos os dias torcendo para que demorasse muitos anos para rever Apollonia novamente. Talvez, a melhor alternativa era desistir disso tudo. Mas qual era a escapatória então? Não havia muito o que fazer depois de todos os planos que havia feito para que tudo acabasse relativamente bem.
No entanto lá estava ele, com Apollonia deitada em seu peito, um tanto quanto ofegante, falando sobre qualquer assunto menos preocupante e interessante que seu plano.
- Lônia, você me ama?
- Mais que tudo- disse ela sem pensar.
- Então se case comigo.
Apollonia se assustou tanto, que se levantou de certa forma, para ver os olhos de Fredo o mais claro possível. Ela parecia confusa e apreensiva no início, mas depois de ouvir um simples "eu te amo" dele, o fez calar com um beijo que provavelmente dava todas as respostas "sim" do mundo. Depois disso, voltaram ao ofício de minutos atrás.
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...