APOLLONIA
Milão
16, junho 1997Apollonia chorava como uma criança diante o túmulo de Marco, o implorando perdão de uma coisa que nem se quer fez, a fim de receber alguma resposta no lugar mais silencioso da cidade.
— Me perdoe, Marco... Por favor me perdoe...
Ela não esperava ouvir nada. Mas acreditava que sentiria uma leveza no coração se ele realmente a perdoasse. Ela não sentiu.
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Naquela noite o casino estava cheio. Repleto das pessoas mais populares e ricas de Palermo, que garantiam ali seu lugar para ver um dos maiores e mais importantes anúncios da Máfia Italiana.
Pobre Apollonia, havia se preparado tanto para o tal dia jurando que não seria necessário usar qualquer uma das drogas que a mantinha feliz e sociável. Claro, isso antes da pobre garota encontrar os mortais papéis. Afinal, quando chegou no cassino já havia fumado alguns cigarros de maconha.
— Santa Apollonia, que prazer tê-la aqui! - disse Sérgio, o responsável por tudo quando ela não está por perto.
Lônia não quis muito papo. Apenas subiu no palco e falou as palavras que esperou tanto para dizer.
— Boa noite à todos. É provável que já sabem o que venho anunciar aqui, então não vou fazer grandes discursos. Ahm... - ela se desiquilibrou por alguns segundos- Io sono la nova Don Moretti. Uhul... É, comemorem.
Surgiu como um raio, uma salva de palmas ensurdecedora! Todos ali ao mesmo tempo que pareciam estar desconfiados, saudavam Apollonia como uma santa ao abençoar todo o mundo. Ao menos 1 única pessoa poupou suas palmas. Lônia olhou 1, 2, 3 vezes para a mesma pessoa desejando que seja outra. Mas não era. Por mais que redesenhasse o ser humano que vinha em sua direção, ficava mais claro a cada segundo de que não mudaria o fato de ser Kate.
— Que bello, Palermo. Além de me afastar dele, ainda vai tirá-lo do controle de tudo?... Você é ridícula.
— Kate, você ouviu o que acabei de falar ali em cima? Eu sou a dona disso agora. E se eu fosse você, fecharia a boca pra não morrer.
A loira não ousou dizer mais mais nada. E esquivou-se por um segundo antes de virar as costas para Apollonia, provavelmente com medo do que ela poderia fazer.
Como se a mesma fosse louca de matá-la em pleno LeClerc.
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Não havia se passado nem 20 minutos desde seu anúncio, quando ela decidiu que queria ir embora. Sua bateria social já estava na reserva e o efeito da maconha que tinha fumado horas antes estava sumindo. Lônia naquele instante, depois de muito tempo, se viu sóbria diante uma celebração sem sentido.
"Ah Dio mio, 'Santa Apollonia' é a nova Don! Uau, que belo motivo para se fazer uma festa..." ironizou consigo mesma.
— Aléssio, trate de manter a festa funcionando. Tenho coisas melhores para fazer do que insistir em ficar nessa merda.
— O que?? Pra onde é que vai?- questionou ele.
— À uma reunião com a senhora heroína. Diga que mandei lembranças aos convidados.
Ela escutou alguns murmuros dele enquanto se afastava. Soava como uma bronca em meio aquela multidão barulhenta, e na verdade não haviam dúvidas de que realmente era.
Aléssio estava preocupado, era compreensível. Ela estava cada dia mais drogada e haviam ocasiões em que nem se quer sabia seu próprio nome. Apollonia não se preocupava, diferente dele. Ela dizia a si mesma que pararia quando ele retornasse.
Ela esperava alguém que não sabia quando iria voltar, se é que um dia vai. Era como enfrentar sua vida na esperança de que Coppola perceba que ela tem dependência no Fredo, e que depois de saber disso parasse de o perseguir. Apollonia realmente acreditou nessa hipótese por alguns minutos.
Logo quando saiu, mesmo com a chuva daquele desastroso dia, os fotógrafos e repórteres não saíram da porta do LeClerc. E mesmo com seguranças a cercando por toda parte, ainda ousou responder uma das várias perguntas absurdas com uma resposta pior ainda.
— Onde o Al está, Apollonia?? Onde ele está?- gritou mais alto que a multidão, a repórter do ITM.
— Na minha cama, sua vadia!
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— "Na minha cama, sua vadia"?... Você não está colaborando com o governo...- Disse o Ministro da Justiça.
— E quem foi o desavisado que lhe falou que quero colaborar com vocês? Olha...
— Pedro.
— Pedro, certo. Veja, eu não compactuo com o governo. Mio padre nunca fez isso, Vincenzo nunca fez isso, nem se quer Al fez!
— Se não quiser colaborar, tudo bem. Mas saiba que abriremos um processo para lhe tirar do poder daqui... 2 meses.
— O que?- assustou-se ela - Me tirar do poder de que modo? Moretti me cedeu!!
— Ah é? Onde estão os papéis? As assinaturas e os contratos de posse? Apollonia você simplesmente jogou o coitado em qualquer lugar nesse mundo sem ele lhe dar poder nenhum!! Você acha que ele lhe concedeu poder? Pergunte a ele se gostaria de voltar e veremos o que ele diz.
— Não vou lhe dar esse prazer.
— Não vai porque sabe bem a resposta dele. Bom, como ele não assinou nenhum dos papéis requisitos e vocês não são legalmente casados, o processo de retirada dos Moretti será tomado para o bem do Governo e da Itália. E com alegria lhe informo que todo o dinheiro sujo que esta família conseguiu será destinado aos fundos monetários da Receita Federal.
— Sem chance, os Moretti não foram extintos Pedro, ainda temos Aléssio.
— Aléssio? Deixe seus negócios na mão deste canalha e verá sua vida desmoronar como um barranco em meio à tempestade.
Ela precisou de alguns segundos para pensar em uma pergunta que lhe traçasse pelo menos o esboço de um caminho para seguir em meio ao labirinto da morte.
— Quem é o mandante do processo?
— Seu querido governador, Davide. Ele não é incrível?- disse Pedro com um sorriso que demonstrava tudo, menos empatia.
— Ah é... Ele é sim...

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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...