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FREDO

Roma
21, julho 1997

Já era a terceira ou quarta vez que Al tinha ido com Luca para a tal boate. Ou seja: três ou quatro vezes que ele ocupou seu tempo em uma crise existencial consigo mesmo, ao invés de fazer o que geralmente os outros caras faziam ali.

E como nas outras vezes, Fredo estava sentado sozinho na larga mesa ao fundo da boate, esperando que Luca termine de lançar cantadas à todas as garotas por lá. Porém dessa vez parecia ter uma mulher maluca o suficiente para chegar junto à Fredo e lhe perguntar:

— Está parado aqui por quê, gato? Vem, vamos dançar.

— O que? Não eu... Não quero não, obrigado.

Ela pareceu confusa.

— Então o que faz aqui? Olha cara se não quer nada é melhor... Ah... Já saquei. É casado, não é?

Ele a olhou nos olhos mas mesmo assim não respondeu.

— Tudo bem se não quiser confessar, acontece muito por aqui. Mas se eu fosse você voltaria pra casa. Se não quiser voltar tudo bem, eu realmente não me importo.

Ele mirou os olhos dela novamente, mas dessa vez decidido no que iria fazer.

— Mas e ai, vai dançar comigo?- disse a moça antes de Fredo apunhalar seu casaco e sair da boate.

X
30, julho 1997

Naquele dia Fredo esperava que algo de errado pudesse acontecer, como em todos os outros nos últimos 45 dias. Porém o que ele não sabia que realmente o mundo estaria de mal com ele.

"Vincent faça isso, Vincent faça aquilo. Não Vincent, você não pode investigar por conta própria. Vamos Vincent, você está atrasado no seu próprio caso!" era o que as pessoas à sua volta lhe diziam a cada minuto. E realmente não importava se ele tinha trancado a porta do escritório ou simplesmente aparecido para pegar um copo de café, todos sentiam a necessidade abundante de lhe chatear.

Harry e Ted tinham se unido como nunca, e o novato estava prestes a pegar o cargo de Luca se ele não descobrisse algum levantamento forte sobre os casos que investigavam. Com isso em mente, a arrogância tomou conta do homem de NY, pensando que tinha algum tipo de autoridade grande o suficiente para dar broncas em Luca, ou no próprio Al.

Não havia muito o que fazer, muito menos com quem reclamar, então Fredo apenas tentava seguir com seu dia da maneira mais suportável que podia.

Visto isso, ele decidiu adiantar o que estava atrasado, enfrentando a dor de mexer na investigação de Luca para garantir que não trabalharia junto à Ted. E por mais que doloroso seria investigar os Coppola, Fredo garantiu que não pegaria os indícios mais pesados, como o assassinato de seu irmão.

Al pegou os arquivos de cima, onde indicava as propriedades da tal família, além de outros bens como partes em empresas ou qualquer outro envolvimento externo que não tenha relação com a própria adega. Ele estudou os documentos por horas, porém a única coisa que achou foi vaga, porém certeira para um gênio como o novo Vincent.

"Allecano, antigo prédio de moradia e posse Coppola. Roma, Lazio."

X

Era horário de almoço novamente, mas pela falta de fome Al molhava a garganta apenas com um café quente. E pareceu que de certa forma, o mesmo líquido de ele bebia esquentou também seu coração. O pobre Luca estava realmente preocupado com o mal estar de Fredo, e lhe perguntava diariamente se ele estava bem e até lhe convidava para sair, mesmo sabendo que Al daria qualquer desculpa fraca para não ir.

Mas naquele dia o desgosto lhe consumiu tanto que realmente não ligava para o que falava ou a quem falava. Apesar disso ele sabia que Luca não era qualquer pessoa. Ele era um bom amigo. Tão bom assim que entendia o que Fredo sentia, sem ele mesmo dizer o que aconteceu de fato.

— Você acredita nisso? Ele me acusou de roubar o caso dele! Tudo bem, eu fiz isso. Mas não precisava ter dito na frente do departamento inteiro.

— Luca eu... Tenho que ir.

— Ai cara, tudo bem?

Ele finalmente pareceu tranquilo o suficiente para falar. Mas antes disso, garantiu que falaria isso olhando bem nos olhos de Luca, sabendo que risos e deboches não iriam surgir de forma alguma.

— Não... Na verdade não mesmo.

— Ai cara, somos amigos. Pode me contar se quiser. - ele realmente era um bom homem.

— Eu namorei uma garota a muitos anos atrás e até cheguei a trabalhar com ela alguns meses atrás. Ela é uma pessoa boa e eu a amo, mas não como mulher. Acontece que eu dormi com ela algumas vezes e... Não foi estranho, mas ela diz que me ama agora.

— Você está reclamando porque a garota te ama? Cara para de ser besta e pega! Não foi estranho mesmo.

— Quando eu vim pra Roma eu encontrei outra garota. Eu já me casei antes Luca. Eu já me casei e nunca senti uma coisa tão forte. É uma dor que te faz ter vontade de levantar da cama todos os dias.

— Ótimo, você a ama.

— É mas... Eu parei de falar com ela quando descobri que a garota 1 ainda me amava.

— Por que você fez isso??!!

— Eu me sinto culpado, Luca. Eu não consigo viver com esse peso nas minhas costas, mesmo que eu tenha que viver sem ela.

— Cara, me escuta. Não entra em pânico, eu sou seu amigo e tem que confiar em mim.- Al se aproximou mais ainda do rosto de Luca e estava apreensivo, apesar do pedido de calma- Você não tem culpa nisso, Fredo. Não sei quem é a segunda garota, mas você não pode se culpar por não amar a Apollonia, cara.

Fredo encostou-se novamente nas costas da cadeira, pasmo com o que tinha acabado de ouvir, sentindo um medo absurdo de não ter sido somente Luca a pessoa que descobriu sua verdadeira identidade, apesar de não ser muito difícil o identificar, mesmo com o cabelo longo e a barba cheia. Visto isso, Al se levantou, sorriu e por fim beijou a mão do ragazzo Luca num aperto de mão, antes de seguir em frente com o que tinha de fazer aquele dia.

X

O antigo prédio que marcava nas pastas de Luca não resultou em uma investigação muito reveladora, já que ao chegar foi possível ver apenas um velhinho tentando abrir a enorme porta enferrujada.

Perguntas foram feitas e mesmo assim não surgia nada de interessante. Era apenas um velho que era pago para limpar um determinado salão abandonado 1 vez a cada semana.

— Por que justamente 1 vez por semana?

— Eu vou lá saber? Olha garoto, eu preciso de dinheiro e eles me pagam muito bem. Então vá. Anda, saia daqui.

Al não ousou insistir em entrar sem um mandato, mesmo que certamente ele não conseguiria nem pedindo ao Harry. Assim, ele apenas deu meia volta e se permitiu fechar os olhos por um instante, apreciando o vento fresco daquele dia chuvoso.

E ao abrir os olhos ele se assustou. Talvez com quem ele via a sua frente ou simplesmente adorando a coincidência de encontrar justamente ela. Mas de qualquer forma temendo que a garota ao outro lado da rua o odiasse pelos dias sumidos.

Mas ele seguiu em frente, dessa vez atravessando para o outro lado, ficando cada vez mais perto dela. Mona não se afastou, apesar de parecer suspeitar de todas as formas cada passo que ele dava.

Ele descansou sua maleta no chão da calçada ao mesmo tempo que ela ousou relaxar sua mão no rosto dele. Pobre Fredo, dessa vez ele não sentiu que usaria a máscara de Vincent. Ele amava Mona como o Al e não queria ter que esconder isso da sua própria face. Naquele dia, Al agradeceu a Luca por o fazer acordar e ter a capacidade de confessar tudo a si mesmo, pelo menos por aquela vez.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora