FREDO
Roma
21, agosto 1997A água que escorria de sua cabeça e passava por seu corpo inteiro, estava cada minuto mais quente. Era como uma terapia em forma de banho, mesmo que não tivesse muita coisa com que se aliviar. Talvez uma dor escondida naquele momento pudesse perturbá-lo se o mesmo pensasse muito, mas insistiu em não procurar dores no fundo do baú.
Fredo não tinha um dos melhores físicos, e percebeu isso quando estudou seu corpo no espelho. Ele nunca se importou muito com isso, e costumava dizer a si mesmo que quem ele era, era mais importante do que ele aparentava ser.
Mesmo assim, ele ainda tinha inseguranças. As cicatrizes das torturas que tinha sofrido no começo da carreira ainda continuavam lá. Corroendo o corpo dele, obrigando seus olhos a enxergarem aquilo da pior maneira, temendo que a Mona sinta nojo ou se incomode. De qualquer forma, apesar de poucos quilos a mais e várias cicatrizes cruéis, o terno que o cobria naquela manhã não deixava aparentar muito.
X
O baixo senhor abria cada pequena caixa de correio do prédio, entregando as cartas destinadas ao moradores, quando Al abriu a boca:
— Tem alguma coisa para mim?
— Come ti chiami, figli?
— Vincent Vitale.
O senhor demorou cerca de 30 segundos dente o monte de cartas para que lhe entregasse uma única correspondência, mas que prometia valer toda a pena. O remetente era Mona, afinal.
"Tomei a liberdade de revelar as fotos que andou tirando por esses tempos, espero que goste e guarde com carinho as nossas.
Com amor,
seu amor, Mona"Al não sabia exatamente o que tinha sentido ao ver as fotos, nem onde exatamente havia sido a dor. Mas sabia que havia doído em algum lugar, por mais insignificante que fosse. Al clamou aos céus quando se deu conta de qual era o dia que marcava no calendário à sua frente. Havia chegado a hora. Houve muita demora quanto resolver tudo. E enquanto se afastava do prédio o mais lentamente possível, pode-se ouvir apenas um "grazie" com destino ao gentil carteiro.
X
O bolo de fotos havia sido dividido por Al e colocadas por entre a contracapa de "O Código McAllister", numa tentativa de não parecer apreensivo e ansioso para o horário de almoço de Mona.
E enquanto seus olhos não conseguiam se fixar em um a única coisa, Mona apareceu de surpresa na mesa ao fundo ontem ele estava, como um desafio que ele tivesse de enfrentar, então decidiu fazer isso como um curativo. Com cuidado e cautela para que de algum modo, pare de sangrar um dia. Tanto nele, como nela.
— No que está pensando, senhor pensante?
Ele permaneceu em silêncio, mesmo que seus semblante não era dos piores. Ele ainda se permitia sorrir ao olhar para ela.
— Eu... Sabe, tive de passar aqui antes de ir ao trabalho porque... Recebi suas fotos.
— Ficaram lindas não é? - sorriu ela.
— É... Ficaram lindas. Mona, precisamos conversar.
O sorriso dos dois sumiu em um estalo, e ao se sentar-se na mesa junto à ele, Al começou:
— Sei que nos últimos meses nós... Ficamos bem próximos um do outro. E eu não sei bem como lhe dizer isso sem parecer um maníaco babaca, mas todas as vezes... Foram incríveis. Não quero dizer as vezes em que nós... Quer dizer, quero sim! Mas principalmente as vezes em que nós saímos juntos e nos divertimos sabe, eu não quero que me veja como um...
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Os Solitários de 1997
Roman d'amourEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...