PARTE II
APOLLONIA
Nova Iorque
24, fevereiro 1997
Enquanto ela estava em um continente diferente ao dele, Apollonia seguia tristonha e solitária, editando fotos nas quais a garantia algum dinheiro. Seu olhar cansado era tão profundo que ultrapassou os limites do sono, afinal, ela não comia, não dormia, nem costumava pensar muito no que fazia. Ela só vivia para trabalhar, e trabalhava para viver.
E para quê tudo isso? A herdeira da fortuna de sua família, não queria de forma alguma molhar suas mãos com o sangue que afirmava a si mesma ter o dinheiro. Dizia que várias pessoas foram sacrificadas para que estivesse em suas mãos agora. E nem mesmo quando seu pai estava na beira da morte, foi capaz de jurar que usaria o dinheiro.
De qualquer forma ela tinha ali com ela, em Nova Iorque. Guardando de forma hipócrita no grande cofre do apartamento que seu pai havia comprado, com o mesmo dinheiro que ela repudiava. Estava cheio, quase sem nenhum espaço para se locomover, guardando a literalmente 7 chaves, pouco mais de 100 milhões de liras.
- Deus, de onde vem esse cheiro? - perguntou-se ela sem ver o iogurte velho.
Parecia só agora perceber em qual buraco tinha se enfiado somente para negar suas origens, que talvez possam ser antiéticas, mas que ainda sim eram suas e o sacrifício de seu pai, conquistado ano a ano, dia a dia única e exclusivamente para ela. Ela lembrava de tudo que tinha visto seu pai passar; tantas reuniões com os chefes de outras famílias, tantas pessoas morrendo por lutarem pelo nome Palermo, tantos segredos escondidos dela até os dias de hoje, por dizer que não tinha interesse nos negócios... Talvez somente naquele momento, Apollonia pensava sobre uma possibilidade que deveria ter sido executada desde quando seu pai deixou a fortuna em suas mãos. Ela viajava em pensamentos, imaginando mil e uma coisas que poderia fazer com o dinheiro, sem que se sinta culpada pelas almas presas no mesmo. Nada naquele momento seria capaz de desviar sua concentração, a não ser Brad Connor, um jornalista arrogante que dizia sobre o ramo de negócios da Família Moretti.
- O que houve com a sociedade? Estão querendo me calar por falar de míseros mafiosos Italianos? Vermes que só trazem peso à Terra!!- berrou pela TV. - Ramo sujo!! De sangue inocente e falta de misericórdia que o senhor Alfredo Moretti optou por seguir! Sim, este homem que está vendo pela tela de sua TV é o mafioso mais perverso que já conheci em toda minha vida! Vestido como uma pessoa boa sim, com roupas casuais e sem ternos, mas não deixe enganar pelas aparências!! Deus tenha misericórdia da Kate!
Apollonia cravou os olhos na TV como nunca. Eles brilhavam como o sol e um sorriso se abriu poucos segundos depois de perceber que havia tido uma ideia, que não só poderia tirar toda essa culpa que a mesma carregava, mas também lhe trazer muito mais dinheiro do que ela mantinha ali com ela. Talvez o suficiente para não ter que trabalhar e arranjar uma casa na Polônia.
Porém, pensou nisso por um curto espaço de tempo. Pois na cabeça dela, se fosse possível existir um coisa mais absurda do que ela trabalhando na máfia, ela não fazia ideia do que era. No entanto, também pensava se o personagem de uma mulher perfeita e bem calibrada ainda fazia sentido, a resposta com certeza era "não".
Então repensou a ideia. Certamente assumiria o lugar de seu pai no trono, mas que seria difícil ser alguém tão sábio como Alfredo. Ela o conhecia desde meados de 1983, sabia de sua resistência e inteligência. Mas também sabia que não era impossível, não se ele mesmo não a ensinasse. E mesmo que temendo que ele não a aceitasse pelo passado que tinham, arriscou ligar mesmo assim.
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...