APOLLONIA
Milão
27, fevereiro 1997— É eu... É, na verdade sim.- mentiu ele
Ela revirou rapidamente seu rosto. Os olhos já não miravam o chão, e sim os olhos dele.
Ela não tinha uma resposta 100% concreta sobre o porque de perguntar isso. Ela sabia e Kate também fazia questão de a lembrar que ele era casado. E muito provavelmente teria filhos dali alguns meses. Ela sabia muito bem e não tinha esperança alguma que isso se distorcesse por causa dela.Mesmo assim, ela não sabia o que responder a não ser:
— Então por que não ficou comigo?
Ele demorou para responder, parecia não saber a resposta, ou então tinha medo da reação que Apollonia teria. Mas mesmo assim, pareceu ter achado a real justificativa.
— Porque você foi embora.
X
Já era noite em Milão e metade da cidade se encontrava no casino. Todas as mesas estavam cheias de famílias e convidados dos Moretti, como um ninho de mafiosos.
O lugar era enorme, quase que do tamanho de um restaurante. Todos estavam em volta da grande roleta observando os representantes das famílias apostarem. Al no entanto, provavelmente era o único ali que não estava com os olhos fixos em suas cartas. Apollonia percebeu que ele a olhava, mas não ousou fazer o mesmo. Afinal, Kate estava ali.
— Uma foto?- disse o fotógrafo a fim de fotografar o casal.
— Claro!!- respondeu Kate.
Ela grudou se rosto ao dele e claramente o beliscou por trás, para que sorrisse para a foto.
Apollonia já tinha sacado o que estava acontecendo desde sua chegada. Kate era o tipo de mulher que prefere passar uma imagem perfeita, de um casal perfeito, para que de certa forma ele acredite em todas essas mentiras. Mas mesmo assim ele não mudava. Continuava com ela mas não aceitava que tinha uma relação boa e que muito menos teria filhos com ela. Ou pelo menos era isso que ele aparentava sentir.Por isso era uma percepção muito vaga. Fredo nunca dizia abertamente sobre o que sentia à épocas. Se ele não falava a verdade sobre seu casamento falido, qual era a dificuldade de mentir também sobre o namoro adolescente? Ela não botava fé nos discursos que Al fazia para ela, mas mesmo assim não desacreditava totalmente. Ela só estava confusa demais, ou apenas sabia demais em pouco tempo.
Dessa vez ela escolheu olhar para ele, que naquele momento gerava uma cara de desânimo, com os ombros tão caídos, quase que no chão. Fredo parecia tão cansado aos olhos dela. Mas mesmo assim continuou ali do jeito que pode. A diferença, é que seu olhar estava tão distante que não era capaz de encontrar o dela.
Apollonia se perguntou muito sobre o que ele pensava todos os dias e principalmente se ele realmente se importava sobre a questão "outra mulher". Até que quando de repente sentiu uma mão pesar em seu ombro, não escondeu seu olhar de tristeza ao perceber que era Marco quem se lamentava.
— Isso é ilusório, Lônia. Eles são ilusórios.
Ela não sabia, mas a única coisa em que Al era capaz e pensar, é em quando ele viveria em paz em qualquer lugar da Itália, longe de tudo e todos.
Talvez, a principal de toda as opções, seria onde ele provavelmente teria tempo o suficiente para ficar em paz consigo mesmo. Mesmo que as consequências não seriam muito boas.
Toscana.
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...