52

6 0 0
                                    

APOLLONIA

Milão
17, janeiro 1998

Não ligando se os convidados estavam a esperando o não, Apollonia de mantinha trancava nas escadas do fundo, com dois papéis nas mãos, fazendo de tudo para não chorar.

O que continha ali poderia a fazer sentir remorso pelo resto da vida, mas também a libertar de uma cruel prisão que estava se colocando. O que pediu a Tom, de fato, foi que conseguisse o tipo de contrato de descrição que o velho De Santis ainda preenchia quando armava matar alguém, por mais burrice que fosse. "Pegue os que tem o nome de qualquer um da família, vivo ou morto" era oque exigiu ela.

Tom lhe entregou mais cedo. Disse que as deixaria ali na escada e que ela teria de ler com cuidado. Apollonia sabia que o nome dela estaria ali de qualquer forma, mas torceu para que o de Aléssio preenchesse o lugar de "comparsa".

"Sentenciado: Lucia Benário Moretti.
Data: 17/05/1988- 05:10 AM
Mandante: De Santis
Comparsa: --------- inexistente."

"Sentenciado: Apollonia Palermo.
Data: 26/08/1997- 22:40 PM
Mandante: De Santis
Comparsa: Johnny Coppola, memória de Davide."

Qual a possibilidade de descobrir uma coisa dessa magnitude em seu próprio casamento? Por mínima que fosse, aconteceu. E a culpa de ter matado não só o irmão de seu marido, como também seu melhor amigo, que a considerava uma irmã.

A única coisa que lhe restou a fazer naquele momento foi, tentar a todo custo impedir que as lágrimas rolassem por seu rosto por muito tempo, mesmo que não seria muito difícil identificar que a minutos atrás, ela tinha se despencado em lágrimas. Mas não se preocupou muito, afinal, todos choram em seus casamentos.

X

DON'AL

Ele estava ao lado de fora da festa, de costas para a porta que lhe permitia voltar à celebração. E apesar que fossem muitas as risadas, voltar não era um de seus desejos. Mas qual seria a escapatória? Dizer que estava cansado e iria dormir em seu próprio casamento? Al odiava festas, ainda mais quando elas são uma mentira a si mesmo.

Eram tantas mentiras, que ele nem conseguia as contar nos dedos. A primeira era que se casar com Apollonia foi a melhor escolha e que o plano seguiria completamente perfeito em busca de sua tacada final. Ela não era uma pessoa ruim aos olhos dele, e mantinha muito bem a imagem de "salvadora dos negócios" quando Toscana fosse realidade.

Lônia era perfeita. Perfeita ao ponto de só ter um defeito misturado com suas várias qualidades: ela não era a Ângela.

E enquanto olhava para os céus, a procura da mais brilhante estrela que possa chamar de Ângela, sorriu ao encontrá-la perto do uma constelação pouco afastada do resto das estrelas. Don sorriu e a agradeceu por ter lhe mostrado o sentimento mais puro de amor. O mesmo provável amor que ele não sentiria novamente, mas que forçaria para que parecesse real para a nova esposa.

— Fredo? O que está fazendo ai?- perguntou Tom ao colocar sua cabeça ao outro lado da porta.

Apollonia saia da porta dos fundos, do outro lado do salão, quando Fredo entrou novamente onde não queria. Ela sorriu ao vê-lo, e de longe apontou para o enorme e preto piano, que o esperava ao meio do salão. Todos batiam palmas pedindo para que ele tocasse qualquer música que fosse, italiana ou não. E ele foi. Por mais que estava um tanto quanto envergonhado, não deixou que isso o atrapalhasse em seu casamento.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora