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APOLLONIA

Milão
28, abril 1997

No dia seguinte após o aniversário de Fredo, chegou em casa o ragazzo Marco que trazia consigo não só um jornal mas também uma notícia que iria abalar não só a família em si, mas também os negócios.

Fredo?? Lônia?? Aléssio?? Dio mio, tem alguém nessa casa?!

Apollonia por sua vez, estava no quarto de Al, vestindo qualquer roupa aceitável o suficiente para descer o mais rápido possível. Ela se preocupou, claro. E ainda mais quando se deparou com o pobre Marco chorando na sala, com as mão na cabeça, sem saber o que fazer.

— O que aconteceu?

— Lônia!! Onde está Fredo?

— Está dormindo. Vamos diga, o que aconteceu?
O ragazzo Marco não conseguia falar de forma que ele não chorasse ou entrasse mais em pânico do que já estava. Suas mãos tremiam assim como o resto de seu corpo, estava fraco e com os olhos tão inchados de chorar que parecia ter acordado a poucos minutos.

— Começou, Lônia... A guerra começou.

— Guerra? Como assim?? Marco do que você está falando?

— Mataram De Rosa ontem. Coppola mandou o matar... Ah Dio mio como pode?!

Ela olhou bem para os olhos dele, sentiu toda a dor que ele sentia, também pelas palavras que havia acabado de dizer. Mas sem nenhuma ideia do que fazer naquele momento, conseguiu apenas lhe abraçar. E ele respondeu chorando em seus braços, soltando pelos gritos que saíam em sua boca, uma das dores mais profunda que sentiu na vida.

Não havia jeito, os dois teriam que comunicar Fredo sobre a tragédia, afinal em algum momento ele iria descobrir que seu capanga não se encontrava mais naquela casa e Apollonia realmente precisava de alguém que tenha certeza do que fazer em plena guerra anunciada.

Não havia escapatória quanto comunicar Fredo que ele estava certo sobre o começo da guerra, além do mais porque a coisa que Apollonia mais precisava naquele momento era instruções do que fazer.

— Onde ele anunciou? - perguntou ela.

— No jornal. Existem alguns jornalistas por lá que são pagos por ele para dar notícias. Está nessa parte.

"GUERRA ENTRE MÁFIAS ANUNCIADA!
Johnny Coppola anuncia na manhã de hoje, que declara guerra à família Moretti, atual mandante da elite entre as famílias de poder. O conflito se iniciou à um mês, quando -segundo Johnny- o chefão dos Moretti [Alfredo] o traiu sem dó nem piedade.

'Foi uma das sensações mais dolorosas que já enfrentei na vida! Mas de uma coisa eu tenho certeza: ele vai pagar pelo que me fez. E declaro em alto de bom som para a Itália inteira se for necessário: Alfredo Moretti é um homem morto! Mas fiquem tranquilos, não vou começar por ele.'"

— O que faremos agora, Lônia?...

Ela pensou, pensou e pensou por mais um instante. Buscou em sua mente um plano ou uma forma de manter todos eles seguros e principalmente os negócios de pé. Se esforçou para pensar em alguma outra saída que não seja a que tinha pensado, mas não houve jeito. Ela tinha que tomar frente à situação.

— Vamos manter Coppola na cidade a todo custo. Al vai ter que passar um tempo em Roma.

X

— Quando tempo? - perguntou Fredo.

— Provavelmente até a guerra acabar, fratello...

— Fredo sei que não é de seu agrado, sei como deve estar se sentindo e eu entendo isso. Mas precisamos lhe manter em segurança. - completou ela

Ele ficou calado. Em completo silêncio mesmo que os dois a sua frente lhe diziam instruções do que fazer e não fazer. Não havia muita escapatória afinal. A morte talvez realmente era uma consequência que ele não temia, porém a oportunidade de se obter férias indefinidas pareceu lhe soar bem.

— Já marcamos o seu voo para amanhã às 23:40. - informou o irmão mais novo. - Conseguimos passaporte falso com o nome de um detetive de Roma. Se quiser se passar por ele tudo bem, vocês até que são bem parecidos.

— O que? Não. Fredo é melhor que você não se exponha para o mundo, então não tente se passar pelo tal do Vincent.

— Qual é, olha pra ele... São quase idênticos, só vai precisar deixar a barba e o cabelo crescer. E além disso, o cara costuma manter descrição sobre a sua aparência até para a polícia. Ou seja: ninguém sabe o verdadeiro rosto dele, a não ser nós. Mas de qualquer modo, tem muito o que acontecer até ás 23hr de amanhã. Quem sabe conseguimos pegar o Johnny antes...

— O que? Marco todos nós sabemos que no primeiro disparo você é o primeiro a correr. Além disso, não devemos arriscar agora. É mais seguro esperar que Fredo esteja em segurança para depois dar o troco. - corrigiu ela. - Até lá, continuamos na moita, com ele achando que estamos recuados e se rendendo.

Marco discordou com a cabeça, mas afinal, o que de mais ele poderia fazer? Matar Coppola com suas próprias mãos? Isso seria impossível se Marco não fosse o Marco.

— Bom, desculpe ter que deixar vocês dois assim desamparados mas eu preciso resolver alguns assuntos com Aléssio. Volto daqui duas horas.

— Tome cuidado, Marco. Ainda não sabemos o que nos espera lá fora.

— Ahm... Está bem. Eu vou me cuidar.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora