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AL

Milão
14, março 1997

O que Al pensava, na verdade, era no ponto em que Apollonia se arriscou. Poderia ter negado e de repente arruinado o plano tramado por Marco sim, mas a que ponto isso vale a pena?

Ele não veria problema se Coppola tivesse dito seu nome. Afinal, ele não me importava muito com si próprio.

Ela chacoalhou a cabeça em sinal de afirmação do jeito que pode, por mais chapada que estivesse.

Era da boa.

- Não falei? - gargalhou o homem dos cabelos grisalhos.

Não houve uma reação do Al naquele momento, quanto a isso. Então ele simplesmente agradeceu pelo favor e agarrou a mão dela, os levando de volta para o carro.

- Foi muito bom, vê-los!! - dizia conforme os dois entravam no carro o mais rápido possível.

Não saiu se quer uma palavra de nenhuma das bocas no caminho inteiro, enquanto Enrico, o motorista, seguia ao último destino da dupla, antes que voltassem para casa.

Dessa vez não era nenhuma fonte de tráfico ou algum lugar que leve os negócios à diante. Somente um simples e confortável café, que talvez, em uma possibilidade pequena, poderia diminuir

Conseguiram achar uma mesa entre as outras ocupadas, e sentaram ali mesmo. Ele não aparava de a olhar, mesmo que não dissesse nada. Ela admirava o redor do lugar, provavelmente as flores e as árvores e o enfeitava. Ele também achava linda as paredes de pedra e o aroma floral lhe dava um conforto, por mais que houvessem mais 10 pessoas ali.

- Não se preocupe, Fredo. Eu estou bem.

E continuou calado. Não tinha o que dizer, muito menos o que fazer. Mas mesmo assim ela continuou:

- Eu escolhi isso sabendo os riscos que correria. Você não tem culpa alguma, se é o que está pensando.

Ele pensou em fazer o que seu coração o mandava fazer quando lhe faltava palavras para descrever um sentimento á uma pessoa que amava, mas seria como se jogar se um avião sem paraquedas. Então houve de se virar com as poucas palavras que lhe faltavam.

- Você está realmente bem?

- Só fique comigo. - disse ela, como se fosse algum sacrifício pra ele.

Ele sentou-se então em seu lado e os dois ficaram ali por um tempo. A aquela altura do campeonato, ele não ligava mais para o grupo de pessoas que haviam na cafeteria, sentiu novamente aquela sensação como se nada importasse. A diferença, é que agora a paz incondicional dava lugar á preocupação.

Preocupação essa que não deixava desviar seus pensamentos para outra coisa. Que o prendia contra a parede que só existia em sua cabeça, gritando consigo mesmo, dizendo que tinha feito a maior merda da vida dele. Ele duvidou por um instante de qual seria essa. Talvez ter aceitado mudar o ramo dos negócios, ou deixar que Coppola indicasse o caminho livre para Apollonia se viciar nas merdas que ele vendia, ou qualquer outra coisa que não o deixaria dormir naquela noite.

Mas só existia uma opção certa dentre as milhares que surgiam. E essa era: ter aceitado que Apollonia trabalhasse com ele.

Ele ficou preocupado que ela presuma que ele ainda a amava. Mas na verdade, amava sim. Mas não do jeito convencional. O amor que ele sente, é a proteção em forma de semente, que cresce mas e não vira uma flor diferente. Era puro, mas não como de um irmão. Era intenso, mas não como de um marido. Talvez ele realmente a amasse como queria. Ou talvez, ele só estivesse chapado de pó, mesmo que nem tenha usado.

X

- Então ela ficou chapada? - riu Marco.

- É, mas ficou tudo bem.

- Claro que ficou tudo bem, é heroína, fratello!! Achou que ela teria uma overdose? Dio mio... De qualquer forma, deu certo a compra da mercadoria?

- Sim. Coppola garantiu entrega até a próxima semana. Já que a mercadoria é grande, não há como arranjar uma entrega tão rápido assim.

- Estamos chegando lá, fratello...

- Você está sendo um ótimo braço direito, Marco. Tenho certeza que vai se dar bem quando me aposentar. Quero dizer, daqui alguns meses.

- Aposentadoria? Fredo não acha que é muito cedo para pensar nisso? Você tem 29 anos!

- Quando se trabalha com máfia Marco, aposentadoria nunca é cedo demais. Se você soubesse o quanto eu me sinto cansando... Ah Dio mio, eu almejo férias definitivas a muito tempo... Você sabe que eu nunca quis isso, não sabe? Eu... Eu queria ser militar. Queria poder morar na Polônia. Mas a essa altura, acho que a única opção que me resta é... Toscana.

- Por que lá?

- Eu não sei. Talvez tenha uma pequena possibilidade de ter tempo o suficiente para me perdoar por tudo que fiz.

X
16, março 1997

Fredo e Apollonia estavam dentro do carro, observando apenas o plano sendo iniciado por seus capangas.

Naquele dia, ele mandou que matassem um membro do comitê das elites. Aos olhos de todos ele parecia ser um homem bom. De família feita e grande, com respeito e consideração por todos à sua volta. Mas Al sabia muito bem que o desgraçado do Tony Brasi era nazista e perseguia qualquer comunista que via. Exatamente como Fiore e outros membros da Elite Italiana.

Al não se assumia comunista, pra falar a verdade. Mas parecia que ele tomava as dores, em prol de limpar o país de nazistas.

- Olha esse filho da puta...

- Al, não acha que estamos perto demais? Ele pode nos ver aqui.

- Vai entrar uma bala pela cabeça dele em...- ele verificou o relógio firme em seu pulso- 11 segundos. Acho que não temos muito com o que nos preocupar.

Ele começou a contar em regressiva, alargando seu sorriso a cada segundo que passava, conforme arregalava seus olhos o suficiente para que visse em perfeita condição a misteriosa morte de um outros milhares que ele mandou que matassem pelo resto do mundo.

À aquela altura do campeonato, estavam em todos os jornais matérias de apelo e consolação sobre os assassinatos em massa. Tantos nos jornais, revistas, até na TV se falava disso. Parecia ser tão misterioso, tão cruel e sem motivo aos olhos de quem os via por cima, que a polícia nem fazia ideia de quem poderia ter sido. E realmente era difícil descobrir que tamanha "crueldade" tenha vindo de um "garoto" inocente e impotente, como o Al.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora