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APOLLONIA

Milão
26, agosto 1997

Após o desligar de telefone, Apollonia não poupou seu nervosismo e revolta para outra hora, talvez para a volta real de Fredo que muito provavelmente era motivo de mais preocupação do que sua quase morte. E mesmo que na mesma semana havia ferrado com a vida do governador pela proteção de Al, passou a pensar ainda mais nas condições que ele colocaria quando voltasse a ser o chefão.

"A não ser que ele não volte como Don." Pensou ela ao ponderar a ideia de tratar Fredo como se fosse uma criança de 13 anos, que nem se quer sabe o que está acontecendo de fato nos negócios. Ele resistiria por um tempo, mas nas piores hipóteses, simplesmente mandaria matá-la ou colocá-la em outro país bem longe da Itália. Ela não aceitou essa hipótese como um fato, mas também não a descartou de prontidão. Afinal, ela não sabia se ainda o conhecia.

X

Apollonia saiu para o lado de fora como uma chefe que não via máquinas trabalhando.

— Acham que são pagos para ficar fumando, porra?! - gritou ela com o grupo de capangas encostados no muro - Mexam-se!! Não quero nenhum de vocês aqui esta noite, vão se empenhar o máximo para que Fredo volte com segurança até o fim da semana!!

Antes que pudesse terminar sua bronca, Aléssio apareceu assustado com os gritos que ela havia dado a pouco segundos atrás, e ao analisar a situação, perguntou em total desespero:

— Mas o que?...

— Você! - disse ela ao aproximar o indicador entre dos olhos de Aléssio - Você é um filho da puta incompetente!! Sabe onde seu irmão está agora??

— Acredito que em meu apartamento, mas por que está...

— Não... Ele não está naquele apartamento fodido, que só vê pó e escuridão. Ele está na merda de um hotel, porque foi alvo de um tiroteio nessa manhã. E você... Você nem se quer se deu ao trabalho de mandar escolta! Você o deixou lá por 4 meses inteiros e ainda diz que não sabe o por quê de eu estar lhe xingando?? Vá pro inferno!!

— A segurança de Fredo estava em suas mãos, Apollonia. Você mesma decidiu que fosse assim. Não me culpe por coisas que você não soube fazer.

Aquilo foi como um tiro na testa. E com ele veio a lembrança real de uma noite confusa, onde ela havia dito que ficaria responsável pela segurança de Fredo, até que ele voltasse. "Duas semanas" garantiu ela há quatro meses.

X

Em seu escritório estava, contemplando a vista que não lhe dava muitas lembranças boas, mas que fazia um bom trabalho quanto a dar encorajamento para resolver questões que lhe enchiam a cabeça. Naquele dia foram feitas estimações que mostravam aproximadamente quanto lucro cada família da elite recebia por mês, sendo Moretti a que mais faturava, já que era a mandante naquele atual presente. Os Coppola estavam decaindo cada vez mais, como o PIB de um país que sofria por uma guerra de queimar os olhos.

"Famiglia Lucro mensal

1. Moretti 155 mi
2. Bologna 2 mi
3. Palermo 750 mil
[...] [...]
14. Coppola 7 mil
15. De Santis 3 mil "

"Fredo vai gostar de saber disso" pensou ela.

Porém não era apenas os negócios dos adversários que estavam em falência, mas também a paz que Apollonia tentava manter naquele dia. A toda hora, quase que todo minuto seu telefone tocava. E cada vez que atendia, eram opositores ou representantes de famílias oferecendo lealdade eterna. Consequência provável do que Apollonia havia feito em rede nacional.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora