DON'AL
Roma
26, agosto 1997Preocupado estava ele, deitado com os olhos mirando o teto, com a provável maior insônia que um dia teve. Se um dia lhe faltou tempo para dormir, ele desejava voltar à esses. O sentimento de que algo ruim estava por vir era mais preocupante do que não ter 1 hora para dormir. Já que não havia como saber o próximo passo de Coppola, e mesmo que ele não estivesse em total exposição e relativamente seguro, ainda tinha de se preocupar com que não estava perto o bastante para manter em seu controle.
Aléssio e Apollonia foram os únicos que o restaram, dentre toda a que um dia foi grande, família Moretti. O medo de não saber ao certo quem deles seria o próximo ao ocupar lugar em um buraco fundo no chão era o que mais lhe preocupava, apesar de torcer mais pela sua ida, do que pela de qualquer outro dos 2 que ainda restavam. Ele não estava pedindo aos céus para morrer, - ele realmente queria concluir seu plano- mas mesmo assim, clamava por não ter que enterrar mais um deles, até que o grande relógio explodisse, como um restaurante em chamas, numa noite calorosa em Milão.
Sobre Mona, tentava a todo custo desviar seus pensamentos para algo que pelo menos por aquela noite, não o fizesse ter que pagar pelo concerto que qualquer objeto que quebraria. Entretanto, ele sabia que era muito mais provável que ele chore a noite inteira, do que surtar. E como de costume nas últimas horas, ele foi tentar desviar a tristeza para algo que pelo menos havia uma porcentagem pequena de o deixar um pouco mais relaxado. Al largou o terno por cima da cama e partiu na direção do chuveiro, mesmo sem roupa para vestir depois daquilo.
As cinzas do Fredo ainda continuavam vagando aos quatro ventos dentro de si, mesmo que Don'Al tentasse as extrair com um enorme aspirador de pó. Por mais grande que fosse o aspirador, não era capaz de retirar as cinzas da pessoa morta ali. Mas manteu as esperanças de que talvez essas lembranças sumiriam com o tempo, e ele pararia de sentir-se estranho sem o cabelo longo. "É apenas cabelo" pensou ele tentando se consolar. De fato era apenas cabelo, mas a pessoa que o usava era bem mais feliz que Don. O pobre ragazzo Fredo era tão bom garoto, que não merecia ter morrido como um enganado apaixonado.
Don'Al, no entanto, não era diferente em tantas formas. A diferença é que ele não era capaz de ser feliz sendo quem era. Não era capaz de entender si mesmo quanto a morte deles, e muito menos aprender com as perdas. Don sentia tanta culpa, que o plano que ele seguia desde quando ele vivia o ragazzo seria uma escapa de tudo que sentia. E, talvez até um perdão a si mesmo, depois de tanto fazer para conseguir isso. Ele com certeza mantinha suas esperanças nos passos que seguia, apenas esperando que chegue o momento certo.
X
Al ligou a TV sem muito interesse no que veria, principalmente quando se tratava de jornais nacionais, mas do mesmo modo, deixou que tivesse uma oportunidade para se curar de uma das possíveis dores fáceis de se livrar. Ele acendeu o cigarro em suas mãos, encheu uma taça de vinho, abriu a pequena porta da varanda, e permitiu-se observar sem medo, a vista dada para o coliseu.
Por incrível que fosse a possibilidade, o banho realmente foi capaz de o aliviar um pouco de suas preocupações. Ele pensou em tantas possibilidades bonitas de se presenciar, como um casamento lindo cuja a noiva seria Ângela, ou talvez uma pequena família vivendo longe de Palermo. "Talvez em Toscana" ele sugeria a si mesmo. Dois ou três filhos, mas apenas um iria para a faculdade, já que não teriam dinheiro suficiente para pagar a de todos eles. Isso é claro, para que seus filhos não saberem do passado doloroso e sujo que o pai deles um dia viveu. E sonhou tanto, que se permitiu dar o prazer de escolher os nomes de prontidão. "Vincenzo", "Constanzia" e "Marco" eram os favoritos dele, muito provavelmente pelas fantásticas personalidades que um dia vestiram os mesmos.
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...