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FREDO

Roma
19, agosto 1997

Al tinha pegado uma licença no trabalho à alguns dias atrás, alegando uma forte gripe. Harry então lhe deu quatro semanas inteiras de folga, que Al soube aproveitar muito bem. E mesmo sem gripe nenhuma ter o pegado de fato, ele continuava doente - de amor- pela mais óbvia dentre todas as outras mulheres do mundo.

Mona passava mais tempo com ele agora. Eles saíam, se divertiam mesmo sozinhos e completos pela companhia um do outro. Al continuava navegando pelo sonho que ele tinha pensado estar desde o jantar com ela, e fazia questão de lembrar a si mesmo que pelo menos daquela vez ele queria que não fosse temporário.

Porém, o "temporário" também tem suas entrelinhas. Empregos podem durar uma vida inteira, mas é muito difícil não ser demitido nesse meio tempo. Você pode alugar um apartamento em Roma ou viver na cidade por um tempo, mas nada garante que não teria de se mudar novamente. Fredo sabia mais do que qualquer pessoa que casamentos era uma das coisas não teoricamente temporárias, mas que geralmente tinham um fim.

Do mesmo modo, ele agradeceu por saber disso. Já que sabia muito bem que "de acordo com o plano", Mona não seria a noiva. Por fim, se tudo na verdade é temporário, Al passou a temer que a "coisa permanente" lhe pegasse de surpresa naqueles dias. Em tempos de sonhos perfeitos, ele não arriscaria perder tudo à morte.

X

Demorou um pouco para que Mona aceitasse a mentira que Al tinha imposto como desculpa para ter se afastado, mas quando de fato ela o perdoou, tudo voltou a ser como realmente sonhava. Naquele dia eles caminharam como andarilhos por Roma. Passando por lojas, cinemas, teatros e muitas outras coisas que era possível se fazer em plena quarta feira.

Liras foram gastas, lanches foram comidos e cafés bebidos enquanto eles aproveitavam o dia que sem novidade, continuava nublado. O que de jeito nenhum deixou que os dois estivessem com o humor cabisbaixo.

A caminhada teve seu fim quando os dois entraram na catedral de Roma, logo após jogarem seus copos de cafés quase vazios na lata de lixo por ali perto.

E por mais chocante que fosse, a igreja também estava vazia, ao ponto de nem o próprio padre estar presente. Al então, abraçou Mona calmamente, lacrimejando ao olhar para os azulejos nas janelas, que transmitiam a imagem de Jesus.

Por um instante pensou em pedir perdão em voz baixa, e provavelmente argumentaria que cometeu os pecados pelo bem da sociedade em um futuro próximo. Entretanto, a cada segundo que passava ficava cada vez mais distante a ideia de ser perdoado. Fredo já estava na estrada para o inferno à muito tempo. Talvez até antes de se assumir como Don.

Ao aceitar a dolorosa realidade, o ragazzo se imaginou queimando no inferno, remoendo tudo que fez de ruim como as maiores dores que sentiria lá. Apesar disso, parecia realmente lógico seu destino final. Já que no fim das contas, não deve ser bem aceito no céu um homem que aceita que sua imagem seja comparada à do Diabo. Muito menos que tenha tatuado o nome dele.

Fredo não era satanista, era católico na verdade. Ele só construiu uma filosofia em cima de quase tudo. Então criou em sua própria cabeça sua verdadeira comparação.

Fredo lutava contra alguém teoricamente maior que ele, era odiado pela maioria e adorado por alguns. Do mesmo modo que o inimigo, ele sentia a necessidade de atrair mais pessoas -mesmo que inconscientemente- para o mesmo submundo que se afundou por atitudes suas. Ele odiava ser assim. Mas talvez era necessário, para o bem de todos. No fim das contas, Fredo era só um garoto que desde cedo foi privado de felicidade genuína, e que por essa razão talvez tenha criado uma obsessão em destruir com o que destruiu a chance dele ser uma criança normal.

Mas era bem mais difícil lutar contra um sistema econômico que favorecia os ricos. Ainda mais quando tem que esconder isso de todo mundo.

X

A noite na casa da Mona foi longa, mas não tão quanto à ligação que Al e Bologna tiveram enquanto Mona tomava banho. Al estava feliz como nunca! Parecia que nunca nem se quer sofreu na vida, e que enxergava sempre o melhor nas pessoas. Na realidade era uma coisa parecia como na teoria, mas Fredo só enxergava o melhor na própria Mona.

E quanto a ligação, Joe estava orgulhoso pelo amigo, e jurou de pés junto que não abriria a boca para contar à Apollonia.

- É bom saber que está feliz fratello. - disse Bologna- O que acha de uma cafeteira como presente de casamento?

- Puxa, pra que tanto luxo? - Fredo riu- Bom... É melhor do que nada.

A conversa durou mais alguns minutos até que Mona saísse do banho, e mesmo depois da conversa já ter seu fim, Fredo ainda pensava o quão doloroso será o casamento com a noiva errada. Mesmo assim, se preocupou mais em se manter aquecido junto à Mona.

"A mulher da minha vida e eu,
Roma 1997"

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora