51

3 0 0
                                    

DON'AL

Milão
25, dezembro 1997

Al havia faturado o dobro que Apollonia conseguiu em 6 meses, então garantiu que gastaria de forma útil o meio bilhão de dólares pelas ruas de Milão. E realmente estava lá, junto dela à procura de presentes de natal para os capangas e funcionários do casino. Ela riscava o nome de cada um quando comprava o presente, e quando haviam acabado todos eles, dizia animada à Fredo que o natal era sua época favorita.

- O que comprou para mim? - perguntou ele.

- Você pode escolher entre... Deixa eu pensar... Um noiva na sua cama ou a coleção inteira dos filmes do exterminador do futuro, esqueceram de mim, duro de matar e um balde enorme de pipocas.

- A missão Sarah Connor vem antes de qualquer coisa.

Os dois gargalharam igualmente felizes tentando colocar o máximo de presentes que cabia dentro do carro. E quando ela conseguiu os enfiar tudo de uma vez, seguiu para uma loja dessas enormes, repletas de chocolates caros, mas que ele sinceramente não se importava em saber o preço. Se ela virasse uma Kate e saísse comprando bolças por todo o mundo estava tudo bem pra ele. Al realmente a amava o suficiente para aguentar, mesmo que a forma de a amar ainda não tinha mudado nada.

- Boun Natale! - disse ela ao sair da loja com uma caixa de bombons nas mãos.

Apollonia tomou o lugar de motorista desta vez, e Fredo se acomodou no banco do passageiro dividindo os doces que menos gostava com ela, que resmungava por receber chocolates ruins.

Ela pareceu perceber que ele estava calmo e que diferente de algumas semanas atrás. Seu semblante não transmitia pânico ou tristeza, apesar de ter muitos motivos para se deitar e chorar, até que a tal viajem para Toscana tivesse partida.

Mas de fato não eram um dos piores contextos, já que o luto por seus irmãos já tinha sumido e o de Ângela forçado a ser superado a cada dia. Al lutava para que conseguisse pelo menos um fiasco de felicidade ou viver em uma realidade onde Mona nunca conheceu Vincent. Isso era realmente impossível, ele sabia. Mas tentou mesmo assim. Tentou tanto que chegou a esquecer por aquele dia, que até o atual momento se encontrava perfeito. Só não mais perfeito, se ela estivesse ali com ele.

X

O jantar da família, ou melhor, o jantar de Fredo e Apollonia não foi tão triste assim. Era cabisbaixo observar que o número de cadeiras ocupadas diminuíam a cada ano, e se preocupou com quem ou onde Apollonia passaria o próximo natal. Então decidiu ligar para Bologna em qualquer oportunidade que tivesse antes de partir, e o pedir para que não a deixe passar o natal sozinha.

- O que acha de renovarmos a foto da família? Eu sei que pode parecer depressivamente trágico, mas podemos tentar fazer disso uma foto de...

- Superação?

- Isso! Superação- ela disse enquanto remexia na câmera, ajustando timer.

- Sabe o que me dói mais nisso tudo?

- O que, Fredo?

- Aléssio ter morrido como um assassino.

Apollonia parou de remexer a câmera por um instante e perguntou:

- O que?...

- É provável que você não saiba disso, mas... A mulher do Aléssio não o deixou. Na verdade a mataram. Nos mandaram um... Um endereço onde dizia que ela estava, e quando chegamos lá... Ela havia sido decapitada. Ele ficou lá, gritando como um maluco enquanto eu corria na busca por qualquer cabine telefônica, pra avisar o Tom do acontecido. E... Quando eu voltei ele... Tinha sido preso. Pensaram que ele tinha feito aquilo. É claro que depois o soltaram, mas a ficha dele continuou suja, fazendo questão de o lembrar de tudo.

- Fredo o filme acabou, eu... Vou subir e pegar mais.- disse Apollonia apressada para subir as escadas, ou sair a todo custo dali.

Al apenas assentiu com a cabeça, e continuou o que estava fazendo. Fumando o último cigarro que ele comprou em Roma. Ele percebeu que havia voltado da liberdade provisória. A tristeza e a falta de cor em seu mundo o rendeu dessa vez. E como de costume, se sentiu culpado por ter praticamente matado seu irmão, ou por simplesmente ter o deixado sozinho no galpão, sem condições mentais de falar alguma coisa que não seja "Não me deixa sozinho". Ele deixou.

Ele parecia ter voltado ao normal e como o mesmo pensava, as cinzas do ragazzo Fredo grudadas em si mesmo, não eram capazes de o trazer de volta. Mas botou tanta fé de que Toscana o faria perdoar a si mesmo, ou pelo menos receber um mero perdão de seus familiares mortos, que talvez viveria em paz. Al tentou a todo custo se manter de pé naquela semana, mas ao escutar o "click" da câmera de Apollonia, que dizia estar sem filme, ele só desistiu. Desistiu de parecer quem ele gostaria de ser.

Tudo parecia um pesadelo no mundo lúcido, piorando cada vez mais a cada segundo que uma nova notícia surgisse. Naquele momento, Al tentava se manter em paz mesmo sabendo que haviam encontrado o corpo do verdadeiro Vincent, em Roma.

O cigarro já havia acabado, mas suas lágrimas só estavam começando a cair.

O cigarro já havia acabado, mas suas lágrimas só estavam começando a cair

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Natale, dicembre 25, 1997.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora