APOLLONIA
Milão
16, março 1997Enquanto vestia a última peça de roupa que faltava, Apollonia tentava consolar Al.
— Você não tem que se culpar por isso, eles eram nazistas.
— È vero! Eles mereciam morrer!! Ma depois me apareceu Aléssio dizendo o que fazer, como se ele fosse um deles. "O advogado nazista", dá pra acreditar?
— Ele não é isso que você fala, Fredo. Sabe disso. Agora... Tente pensar em alguma outra...
— Ah Dio mio, a Kate!
— O que há com a Kate?
— Ela foi se encontrar com algumas desocupadas para fofocar. Costumam chamar isso de clube de leitura. - ele riu de nervoso.
— E?...
— A principal coisa que elas fazem lá é falar da vida dos famoso Lônia, é certo que vão falar da manchete da semana passada... - disse ele tirando pequenos fiapos da manta, a única coisa que o cobria no bagunçado escritório.
— Não tente pensar muito nisso, Al. Ela não vai tirar conclusões por uma simples foto de um jornal duvidoso.
— Você acha o The New York Times duvidoso?
— The New York Times??? Mas que droga!!! Eu nem moro mais lá!!
Apollonia precisou de um tempo para se firmar novamente, até que pudesse falar com estabilidade, a fim de pedir calma e paciência, sempre pensando positivo.
— Na pior das hipóteses ela só vai surtar e tacar algumas coisas na minha cara. Kate não pode fazer nada além disso.
— Ou pode. Ela sabe que você está "sem tempo demais" para se divorciar.
Apollonia não quis ouvir muito depois disso, simplesmente revirou a chave 3 vezes para a esquerda e saiu sem olhar para trás. Ela não queria exigir nada dele, muito menos seu divórcio. Mas sentiu que seria melhor sair dali o mais rápido possível, antes que fique com ainda mais raiva dele.
X
Aléssio a esperava na porta, para lhe entregar os recibos e notas fiscais que Marco havia prometido. Ele a perguntou se gostaria de entregar à Fredo pessoalmente, mas ela nem se quer respondeu, mesmo que a birra não fosse com o pobre Aléssio. Lônia entrou no carro por fim e informou Enrico sobre o destino daquela tarde.
— À casa Rizzo.
X
Mesmo metros antes de Dante chegar à casa dos Rizzo de fato, Apollonia já pode perceber uma coisa: os Rizzo temiam muito mais do que deviam.
Logo na entrada, haviam 4 capangas que perguntaram nome, família, e horário marcado. Depois esperam a resposta e concessão de seu chefe para autorizar a entrada.
A casa, diferente da Moretti, não era tão colorida e enfeitada assim. Parecia mais pobre e triste, era semelhante à um daqueles orfanatos para crianças doentes mentais, ou algo mais trágico ainda.
Ao descer do carro, outros 2 capangas a levaram até a porta, e de lá, mais 1 para seu destino final.
O escritório de Rizzo.
— Apollonia, é um prazer recebê-la aqui! Vamos querida, sente-se.
E foi o que fez. Se encaixou em uma das cadeiras que ficavam de frente para o grande chefão do comitê de elite das famílias.
— É um prazer, senhor Rizzo. Lamento por Alfredo não ter vindo hoje, houveram alguns contratempos e não foi possível que viesse.
— Eu entendo, problemas com a saúde, não? Marco havia me informado sobre algo parecido na reunião. Melhoras para seu... Amigo. - hesitou ele por um segundo.
— Grazie, senhor Rizzo. Agora, indo direto ao assunto; Al, que apesar da mal saúde continua trabalhando, notou alguns equívocos na renovação de contrato com a elite. Especialmente com sua família.
— Ma che equívoco?
— Veja- ela apontou com os dedos à certo trecho no papel-, "La famiglia mandante da elite, é pertencente de 10% do patrimônio de cada família participante."
— Sim, o que há de errado?
— O senhor por acaso sabe quanto corresponde à 10% da fortuna dos Moretti, senhor Rizzo?
— Não sei, perto de 2 milhões de euros?
— São 100 milhões, senhor Rizzo. - mentiu ela- 100 milhões. Sabe o estrago que 100 milhões de liras podem fazer em mãos erradas? Não estou me referindo ao senhor, mas se caso algum terrível acidente aconteça, o dinheiro iria para a segunda família mandante, que o senhor ainda não decidiu qual será.
— Na verdade eu estava pensando na família Coppola. Gente nova no ramo, que precisa de um seguro.
— Eu entendo... Essas são suas filhas? - apontou para os porta-retrato sobre a mesa. - Pensando alto aqui, fazendo uma suposição boba, não seria horrível se uma delas morresse? Ou pior, se acontecesse com as duas de uma vez só... Ah Deus, que tragédia seria... Você não teria herdeiros... Não teria felicidade e nem se quer o seguro de 10% da elite...- O velho ficou pasmo com o dito. - Bom senhor Rizzo, entendo que prefere manter a família Coppola em segundo lugar...
— Não!! Pensando melhor agora, minha querida Apollonia... Santa Apollonia, mas onde...- ele riu de nervoso- Onde eu estava com a cabeça quando pensei escolher os Coppola?!
— Olha senhor Rizzo, eu não quero influencia-lo a tomar decisões que pode fazê-lo se arrepender no futu...
— Aqui está - disse ele a entregando um papel-. Os Moretti tem parte de 10% de toda as famílias pertencentes e não me devem parte alguma, já que é a segunda família mandante. Só preciso que Alfredo assine aqui, pois como ele é o chefe...
— Ah Dio, sua bondade e confiança é de encher os olhos, senhor Rizzo. Eu desejo muitos anos de vida à suas filhas e ao resto de sua família. - disse Apollonia cumprimentando o velho que ainda estava em choque.
Então pegou os papéis que trazia e seguiu de volta à parte de fora da casa. O tempo entre o escritório e o carro que a levaria para casa, foi suficiente para que ela percebesse que aquele era seu lugar. Talvez ela não teria um lugar reservado no céu por isso, mas pelo menos estava seguindo perfeitamente os passos do homem que naquele memento ela não estava afim de se lembrar.
"Mantenha os negócios acima dos seus princípios"
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Os Solitários de 1997
RomanceEsse livro é o primeiro da série "Solitários" e conta a primeira versão da história. Al ou para os mais próximos, Fredo, foi praticamente forçado a tomar frente dos negócios da família quando seu pai morreu, por conta da culpa que sentia dentro de...