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FREDO

Roma
17, junho 1997


Fredo tinha acabado de sair do banho quando escutou o que Apollonia havia feito na noite passada. Ele ficou orgulhoso pelo que ela havia conquistado nos últimos meses que passou fora. Era certo que Lônia tinha competência o suficiente para comandar os negócios Moretti. Mas mesmo sabendo disso, a saudade de ser Don não sumiu. E o que pode ter acontecido nesse meio tempo, afinal? Já que antes da morte de seu irmão seu único desejo era se aposentar? Em tempos de tantas perguntas, ele decidiu não abrir mais um autoquestionamento, mesmo que o motivo fosse claro.

A máfia era como uma droga. Você quer largar a todo custo. Quando consegue, entra em abstinência.

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4, julho 1997

Pelas contas de Fredo, já haviam se passado 2 semanas e 5 dias desde o último telefonema com Apollonia. Mas isso com certeza não era o que lhe deixava tão triste daquele modo. O pobre ragazzo desolado ao chão de seu escritório tinha consciência de que seu vazio era preenchido por Mona. Só não sabia que ela também era a razão de tudo.

Porém o "tudo" se limitava a certas coisas. Fredo ainda saia da cama, andava, conversava e trabalhava. Mas não como antes. Antes da ligação que mudou tudo se iniciar. E tudo isso pra quê? Se livrar um pouco da culpa que sentia dentro de si, mesmo sabendo de que alguma forma não pode ter controle dos sentimentos da mulher que dizia o esperar na parte de cima do país? Ou simplesmente proteger Mona da dor maior que seria quando o mesmo voltasse para Milão?

O plano que Fredo armava desde a morte de Marco ainda estava de pé no fim das contas. E de certa forma ele sabia o final de tudo aquilo, inclusive o final dele e Mona. Mas mesmo assim, repensava sobre a possibilidade de pelo menos aproveitar o pouco de vida que lhe resta carregando a máscara de Vincent. O pouco de vida que lhe proporcionava pureza, com um amor real. Tudo parecia tão real como Vincent, mesmo que apenas fosse uma peça que ele mesmo montou nos últimos meses.

Porém, mesmo com cada membro dentro de si mesmo lhe destruísse a cada segundo, o pobre dependente apaixonado continuou sentado ao chão de seu escritório tentando manter no controle a única coisa que tinha poder para contornar: a investigação contra sua família.

X

10, julho 1997

À aquela altura do campeonato Fredo já não tinha vida. Ele não ia ao supermercado, deixava de comprar remédios que precisava, não limpava o apartamento onde vivia, mal trabalhava e o tempo que deveria ser aproveitado dormindo, era gasto lendo o livro que havia comprado há"3 semanas e 4 dias".

"O código McAllister" era realmente bom aos olhos de Fredo, que de certa forma se identificava cada dia mais com o personagem principal. E apesar de terem suas diferenças, os dois eram detetives solitários que não tinha mais expectativa nenhuma de vida, com uma rotina cansativa e entediante.

Entretanto naquele dia ele houve de se desviar um pouco de seu personagem favorito, para se ligar à novidade que Harry anunciava ao entrar em seu escritório junto de um outro homem.

— Vitale, esse é o Ted McAllister. Ele veio de Nova Iorque para buscar uma coisa maior aqui. Procure-o quando precisar, mas não se prenda muito porque ele pode tomar o cargo do seu parceiro- disse rindo, o velho que tentava disfarçar seu desconforto.

— Ouvi muito de você, Vincent.- disse Ted na esperança de cobrir o silêncio que sentia permanecer no cômodo.

Definitivamente Fredo e McAllister tinham suas vidas cada dia mais idênticas. Mesmo prevendo seus prováveis futuros dias, o ragazzo cumprimentou do modo que pode o novato do cabelo escovado e ternos caros.

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15, julho 1997

Mesmo que ainda quisesse ficar sozinho, Fredo já tinha se acostumado com a companhia de Luca no almoço. O garoto dizia sobre futebol, garotas ou qualquer outra coisa que Al não tinha interesse algum, sempre tentando o animar. Apesar de nada daquilo ser suficiente.

— Cara você tem que dar uma animada! O que houve? Sua mulher te botou pra fora de casa?

Fredo analisava a feição de Luca, embora ainda não lhe concebia risos sobre os assuntos que falava. E do mesmo modo que viu seu sorriso abrir como um flash, o viu sumir ainda mais rápido. Ted estava se aproximando com sua cara comum de um babaca qualquer. Luca dizia o odiar com toda a alma, mas não costumava o enfrentar, já que no fim das contas ele que se daria mal.

— O que estão fazendo aqui? Vamos, vocês têm trabalho a fazer!

— Por que você não cuida dos seus casos, Ted? Ah cara foi mal, eu me esqueci que não te deram nenhum. Mas que tal um assalto na Broadway? Prometo que vou te apoiar quando voltar pra lá.

— Eu não volto, Luca. E acho que já chegou o momento de você aceitar isso sem chorar.

— Ah eu vou lhe contar quem chorou no meu colo ontem a noite.- disse Luca após limpar sua boca com o guardanapo- Como é que vocês chamam nos Estados Unidos? Your Mama?

As gargalhadas que Fredo guardava empoeiradas dentro de si saíram sem ele mesmo perceber. E quando tomou ciência disso, já era um tanto quanto tarde. Ted não estava nada calmo, e Luca menos ainda, então houve de apaziguar a situação antes que resultassem em socos e chutes.

Al afastou Luca do Ted da maneira que pode, até que só sobrassem os dois no vasto corredor branco do departamento. E finalmente quando parecia ter se instalado a paz, ouviu apenas uma frase saindo pela boca de Luca, que dessa vez não ousou rejeitar.

— Aí cara, a gente vai naquela boate.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora