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APOLLONIA

Milão

14, março 1997

Ele passou duas semanas inteiras a ensinando como lhe dar com a máfia. A ensinou como agir diante situações de raiva ou pressão, ensinou como é importante não deixar que os outros saibam o que pensa, ou sente. Disse que deveria sempre agir com calma, que muitas vezes a raiva falará mais forte, porém deveria agir com a cabeça, tomando assim o mínimo de decisões precipitadas.

Ela repetia cada palavra enquanto anotava no papel. Sua mão estava cansada de tanto escrever e seu cérebro cheia de palavras em que o conceito e contexto remetesse à o que Al lhe falava a manhã inteira.

Naquele dia, ele fez questão de liberar Marco de sus funções para que pudesse exercê-las com Apollonia.

O terceiro lugar que foram, se chamava "La Birra". A maioria da população e principalmente os Moretti, sabiam que o conceito de cerveja era somente fachada. Ao invés disso vendiam drogas. Cocaína, maconha, LSD e muitas outras merdas que são possíveis injetar em si próprio.

O proprietário? Esse todos já sabiam.

— Coppola!!- Al fingiu animação.

Logo quando os viu, se dirigiu em sua direção como um cego procurando a luz.

— Don.... Que prazer tê-lo aqui!!

Ele estava pasmo. Não dava para diferenciar o porque. Talvez surpreso por justamente Al e Apollonia estarem ali, o segundo maior chefão da máfia naquele momento. Ou com medo de ter feito algo de possa ter o incomodado. Mesmo assim, tentou agir de forma natural, o que não foi um sucesso.

— Coppola, essa é Apollonia.- disse Al enquanto eles davam as mãos. - Ela é... Uma velha amica e mais nova parceira nos negócios.

— Marco me dizia que não estava muito bem de saúde, e por esse motivo não pode ir a reunião à algumas semanas atrás. Mas vejo que já está muito melhor agora.

Ela pensou por um instante. Ela não sabia muito a fundo sobre o que se tratava em tais reuniões, mas sabia que era importante, e só ocorria de 6 em 6 meses. Depois pensou em qual seria o motivo pelo qual Fredo não teria ido, já que doente o mesmo não estava. Entretanto no mesmo instante lembrou, juntou tais peças e lembrou que Fredo a buscou no aeroporto. A partir daí, ela se sentiu amada de alguma forma.

— Na verdade esse é um dos motivos pelo qual venho aqui.

O velho parecia não ter entendido.

— No "problemas com a saúde", Marco quis poupar o senhor de preocupações.

Antes de terminar a frase, Al olhou bem para Apollonia e com olhar de "confia em mim" ele completou:

— Eu sou... Dependente.

— O que?! - disse o velho boquiaberto

— O senhor sabe. Todos sempre souberam, eu sei. Eu estive sumido por uns 2 anos, não foi? É, o senhor sabe disso.

— Ah, ragazzo Al... Eu sinto muito por estar nessas condições, garoto. Mas sejamos sinceros, nunca poderia negar algo à um amico de la famiglia, no?

BUM!!! Estava feito!! Ele conseguiria o estoque para o começo de compra e venda, com início em seu próprio concorrente em um futuro próximo. Apollonia por sua vez, não acreditou em tais declarações, muito menos que elas tinham dado certo.

Grazie, Coppola. Grazie. O senhor é um anjo que caiu na terra...

Al disse ter preferência nas drogas que usava. Então fez uma lista com as drogas de maior qualidade, o país remetente e quantos kg ele comprava. Ao ir marcando um "check" para cada droga comprada, Apollonia agia de forma natural e cotidiana, ou pelo menos tentava.

— Estou dizendo, é forte como um toro! A moça mesmo pode provar. -testou o velho.

Fredo a olhou com o que foi o olhar mais apavorado que ela já tenha visto vir dele. Em questão de segundos a naturalidade que ele aparentava à frente de Coppola havia desaparecido.

Ela, ao contrário, se contentou de que era necessário. Talvez uma consequência do ofício. Pensou que precisava manter o personagem enquanto for necessário e nem se quer pensou em contrariar Coppola e dizer algo como "estou tentando parar".

Diante disso, Apollonia simplesmente pegou a seringa, esticou seu braço e aplicou a heroína na sua veia mais aparente.

Al não soltou mais nenhuma palavra. Parecia querer falar alguma coisa, ou ter percebido algo. Mas mesmo assim, ele continuou corroendo a si mesmo com aquele silêncio.

Os Solitários de 1997Onde histórias criam vida. Descubra agora