Capítulo 39

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“Abaixo meu olhar para os meus pés descalços e sujos, esticando meus braços para poder enxergá-los e minhas mãos, está chovendo e o céu se corta com trovões altos, causando um arrepio em minha pele, mesmo com a chuva forte, sei que estou suando mu...

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“Abaixo meu olhar para os meus pés descalços e sujos, esticando meus braços para poder enxergá-los e minhas mãos, está chovendo e o céu se corta com trovões altos, causando um arrepio em minha pele, mesmo com a chuva forte, sei que estou suando muito e meu cabelo se gruda em minha pele como se fosse outra camada, estou tremendo.

Eu olho ao meu redor, e só então percebo que estou presa em um beco escuro e minhas roupas estão desgastadas. Um barulho da lata que rola pelo chão, devido à chuva e ao vento forte chama a minha atenção e meu corpo estremece quando meus pés se movem em sua direção sem o meu comando.

O pavor arrepia a minha nuca e cresce em meu peito quando noto as paredes se fechando ao meu redor, a dor no meu peito é semelhante à de alguém esmagando meu coração com as próprias mãos, não dando chance para que eu respire.

Me agacho para pegar a lata em minhas mãos, arregalando meus olhos quando ela atravessa a parede mofada e em um piscar de olhos, estou de frente para uma pista vazia e molhada pela chuva, está deserto e há árvores espalhadas por todos os lugares, chacoalhando e se chocando uma na outra em sons aterrorizantes.

Terror sobe pelas minhas veias quando um garotinho pequeno sai do meio delas, vestido em uma simples bermuda surrada e uma camisa branca suja, em suas mãos, há uma pelúcia rasgada na qual ele a abraça contra o seu peito como o seu escudo. Seus cabelos são pretos e familiares, assim como seus olhos azuis amedrontados.

Ele caminha até mim, e mesmo com a chuva, percebo que seus olhos estão cheios de lágrimas, que fazem meu coração se partir ao meio quando nos encaramos. Parando no meio da pista e abraçando seu corpo, ele sussurra palavras que não posso ouvir.

— E-eu não escuto você – grito, sentindo que por algum motivo ele não pode me escutar — Você pode me ouvir?

Ele acena com a cabeça uma vez, seu corpo inteiro está tremendo e estou nervosa. Uma luz forte e branca surge ao longe na pista, vindo em direção ao pequeno garoto assustado e meu coração acelera, batendo tão forte que poderia sair pela boca.

Tento gritar para ele correr até mim, mas minha voz some, estou completamente muda. Levo minhas mãos até a minha garganta e a aperto, sentindo meus olhos inundarem com lágrimas quando percebo o carro cada vez mais perto do garoto.

Por que ele não se move? Por que ele não vem até mim?

Ele olha na direção da luz, mas continua parado no meio da pista, voltando-se para mim com o mesmo olhar vazio e o semblante triste.

— Me ajude – ele sussurra, em seguida, seu corpo pequeno é levado pelo carro quando ele o atinge, e eu grito, protegendo meus olhos quando uma luz forte os atinge, impedindo que eu veja mais alguma coisa.”

Me sento na cama com a respiração frenética, minhas mãos estão tremendo assim como meu corpo, meu coração bate em ritmos desordenados e minha blusa de dormir está molhada, estou suando tanto que meus cabelos se grudam em minha pele.

As lágrimas rolam em minha bochecha sem que eu as entenda, a bile sobe na minha garganta e meu coração dói, dói como se eu estivesse prestes a perder alguém, como se um vazio o cobrisse por completo, um vazio escuro, frio e desolado.

Eu puxo meus cobertores quando o frio parece insuportável e abraço o travesseiro que Riven normalmente usava quando dormia comigo, tentando buscar conforto nele assim como fiz durante todas as noites difíceis.

Mas hoje, apenas essa noite, seu travesseiro não me confortou. Não o fez porque diferente das outras vezes, eu não o sentia comigo.

Meu cabelo molhado pela chuva cai contra o meu rosto e meus lábios tremem, minha visão está turva pela bebida, mas mesmo com o frio que parece me congelar aos poucos, nada cura a ferida em meu peito

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Meu cabelo molhado pela chuva cai contra o meu rosto e meus lábios tremem, minha visão está turva pela bebida, mas mesmo com o frio que parece me congelar aos poucos, nada cura a ferida em meu peito.

Eu acelero com a minha moto na pista escura e lisa pela noite, não me importando com os riscos que corro e admiro o céu quando um relâmpago o corta.

Tempestades.

Desde que a conheci naquela noite tempestuosa e fria, passei a gostar de noites como essas, passei a esperar por essas noites com um tom mais sombrio porque foi o momento que me senti vivo, o momento que tudo entre mim e Estella foi selado. Mas agora, não havia sobrado nada para mim além da amargura crescente.

Eu perdi o amor da minha vida, eu perdi os meus amigos, eu perdi a minha melhor amiga, a minha irmã, eu perdi os meus pais e o pior de tudo, eu me perdi. Eu me perdi em meu caminho, dentro da minha própria escuridão e agora estou totalmente sozinho.

A solidão se tornou tão presente em minha vida, assim como essa dor em meu peito, que eu apenas a deixo entrar todas as vezes, sem lutar, sem resistir. Não há resistência em lutas perdidas.

Eu fecho os meus olhos e faço minhas últimas orações, lembrando das cartas deixadas para cada membro da família antes de partir. Eu sinto muito, mãe, eu tentei o máximo que eu pude.

Acelerando minha moto, eu continuo dirigindo em direção à uma carreta, sussurrando minhas últimas palavras como um mantra, me despedindo de todos que estou deixando para trás porque não fui homem o suficiente, porque fui covarde.

Mas acontece que é difícil lutar contra isso, contra essa dor, e honestamente? Eu não quero mais lutar.

Minha moto colide contra a carreta e o baque da dor física me atinge, a pancada é tão intensa que meu corpo voa sobre o ar até as árvores agitadas, rolando pelo chão diversas vezes até que sinto a roupa colar em meu corpo com meu próprio sangue, que se espalha cada vez mais rápido, o formigamento aos poucos vai deixando todo meu corpo dormente até que eu não sinta mais dor, até que eu não sinta mais nada.

Eu encaro o céu estrelado uma última vez quando minhas pálpebras pesam e esboço um sorriso sem mostrar meus dentes, contente por finalmente por um fim na dor.

Momentos com meus amigos, com a minha família e com minha doce Estella me vem em mente, e a última lágrima escorre em minha bochecha quando deixo que meus olhos se fechem e a escuridão me abrace de uma vez por todas.

Eu cumpri com a minha promessa, princesa.

Eu te amei até o meu último suspiro.

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🤍...

Só lembrando que o Riven foi um personagem muito perdido no livro e durante todo o momento ele demonstrou que não estava mais com vontade de lutar por si mesmo, e se você se identifica com esse tipo de dor, procure por ajuda!!

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