Archie Ballard
Meus pés tocam o chão de madeira frio e bocejo, coçando meu bumbum enquanto caminho até o banheiro na ponta dos pés para não acordar nenhum dos meus irmãos durante a madrugada. Me estico até alcançar o interruptor e ligo a luz, coçando meus olhos e fazendo minhas necessidades em silêncio.
Olho para a pequena janela no banheiro, vendo que ainda era noite e isso me chateia. Amanhã é dia de surfar com tio Riven e estou ansioso por isso, eu estava com raiva dele porque achei que não queria mais ser meu tio e que estava tentando ir embora das nossas vidas, mas ele disse que me ama, e isso deve significar algo grande já que minha mãe sempre fica meio boba quando meu pai diz isso pra ela, então deixei para lá a minha raiva.
Quer dizer, quase.
Dou descarga na privada, subindo no banquinho para lavar as minhas mãos na pia e encaro meu reflexo no espelho, vendo que meu cabelo precisava de uma penteada urgente, mas não entendo o porquê dos cabelos não tomarem conta de si sozinhos, eu não pedi para tê-los, por que tenho que pentear e lavar minha cabeça por algo que eu nem sei por que eu tenho?
Eu seco minhas mãos na toalha e pulo do banco, caminhando para fora do banheiro depois de apagar a luz. Susie está sentada na cama onde estamos dormindo, esfregando seus pés um no outro e abraçando seu urso.
— O que você tá fazendo? – pergunto, ainda parado no meio do quarto.
— Eu tô com frio no pé – ela tira uma mecha do seu cabelo do rosto e suspiro, caminhando até a nossa cômoda e usando outro banquinho para abrir a primeira gaveta, pegando suas meias rosas e voltando para a cama para por em seus pés.
— Você sabe que aqui faz frio, Susu. Não pode dormir sem meia, a mamãe avisou a gente antes de virmos para cá.
— É, mas eu me esqueci – ela estica suas pernas e me sento, cruzando minhas pernas e colocando as meias em seus pés gelados.
— Nossa, você vai congelar! – ela ri com meu susto — Você não pode adoecer, Susie.
— Por quê?
— Porque senão a gente vai embora, e nós acabamos de chegar – explico — O que mais você acha?
— Eu.. pensei que você quisesse ir embora, você disse que não queria ficar aqui.
Balanço meus ombros, descontraído.
— Eu estava com raiva, mas agora mudei de ideia.
— Você assustou a gente! eu vou contar tudo para a nossa mãe quando voltarmos para casa!
— Você é uma dedo duro – reclamo — Não se pode denunciar seus irmãos, o vovô ensinou isso!
— Mas você machucou a gente, e ele disse que isso também não pode!
Bato minha mão na minha testa, suspirando e encarando minha irmã.
— Tudo bem, Susie! me desculpa ter sumido e assustado você! mas eu não vou pedir desculpas para os meninos.
— Mas eles..
— Você é a única chorona aqui – digo, engatinhando até o meu lado na cama e me embrulhando com os lençóis.
Ela faz uma careta, igualzinha a que a mamãe faz quando está com raiva do meu pai. Meu Deus. Mulheres são tão difíceis.
— Eu tô com saudade do papai – ela sussurra, piscando quando começa a chorar.
Susie sempre chorava com facilidade, e é por isso que os meninos e eu tentávamos não fazê-la chorar, o que era difícil já que ela chorava por causa de tudo. Eu nunca ia entender isso.
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HERDEIROS #5 - Second Chance
RomansaSegunda chance trata-se sobre um livro cheio de feridas e mágoas jamais ditas. Personagens que irão crescer e evoluir com o tempo e saber entender que às vezes, nem tudo sai conforme nós queremos. Que nem mesmo amando alguém imensamente, é o suficie...