Capítulo 4

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A sensação de se sentir inválida ou inútil é desconcertante e corrói a sua alma

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A sensação de se sentir inválida ou inútil é desconcertante e corrói a sua alma.

Minha pele está pálida, meus olhos não esboçam nenhum tipo de emoção e eu quero apenas gritar ao mundo. Eu não tenho uma família ruim, jamais tive, eles são tudo para mim e bons também. Às vezes, tenho medo que meus sentimentos façam com que as pessoas pensem que não passo de uma garota mimada e ridícula, quando vai muito além da minha classe social.

O problema sou eu, a falta de confiança em mim mesma parece me cegar cada vez mais e sufocar meus pulmões, como se estivesse me afogando em um mar de inseguranças sem fim, e sinceramente, não acho que há como voltar dessa queda lenta e dolorosa.

Eu leio mais uma vez o e-mail de aceitação em uma companhia de balé, dentro de tantos outros nos quais eu já fiz o teste e meus olhos lacrimejam. Covarde.

Parecia um ciclo vicioso, fazer o teste, obter uma boa resposta e no fim.. nada. No fim não tinha nada, como se eu corresse por horas atrás de algo que, no final, eu sabia que não poderia ter. Essa era a pior parte, desejar algo que não seria meu.

O balé sempre foi tudo que eu mais amei, desde pequena quando mamãe e eu, que também foi uma bailarina, ficávamos dançando pelo vasto quintal da nossa casa, eu já sabia que eu amaria o balé para sempre, pois eu me sentia.. em casa, em meu próprio lar. O balé faz parte de mim, é como meu ar e meu gás para viver à cada giro, à cada passo suave e delicado que dou.

Provavelmente alguém me chamaria de idiota por saber que abri mão do meu sonho para viver algo no qual planejei viver com meu irmão gêmeo quando mais novos. Quando eu não entendia exatamente o que eu queria e pensava que estar ao lado dele era o suficiente, mas não era.

O problema da insegurança? Ela te sufoca e te faz aceitar coisas que você não quer, te põe em situações nas quais você não se sente bem em estar, apenas por não conseguir dizer não. E quanto mais o tempo se passa com ela, mais você se acostuma como um hábito do seu dia-a-dia. Mas somente você sabe o peso que isso trás, quando se deita à noite e não há ninguém por perto, e você pode finalmente e desesperadamente chorar.

Parece dramático, eu sei. Mas o laço que me liga com David é muito forte, e às vezes, gosto da ideia de estar sempre ao seu lado, mas sei que não é o meu caminho.

Não, não é fácil. Não é fácil fugir quando você se acostuma com algo ruim, somos humanos, estamos sujeitos a nascer com problemas mesmo vivendo em um ambiente saudável. Por quê? Porque isso não é garantia de que você não encontrará problemas e viverá um conto de fadas, há um mundo lá fora à espreita pronto para engolir você.

Ninguém entende, eu acho. Mas a dificuldade em dizer que não, que não me sinto bem com algo me destrói pouco a pouco. É como viver uma farsa, onde somente em casa, no meu quarto, eu posso descansar. Eu não tenho dúvidas quanto ao apoio que eu receberia se dissesse o que realmente quero. Mas como dizer se sinto que algo vai me matar por dentro quando quero me impor?

Mamãe sempre me ensinou a dizer o que penso, meu pai também. Mas, infelizmente, eu vim com algum defeito e não consigo dizer por ser tímida demais em grande parte do meu tempo. Não romantize ser tímido, isso é uma merda e acaba com você.

É o saber que vou magoar meu irmão e meu pai que me faz recuar. Eles podem não dizer, mas eu sei que no fundo irei deixá-los tristes com os nossos planos. E eu não quero isso, não quero carregar esse peso silencioso por todo o sempre.

Eu clico no e-mail uma e duas vezes, arrastando a notificação para a lixeira e engulo em seco. Me olhando no espelho, eu treino, sim, eu treino como faço todas as manhãs para convencer à mim mesma que não preciso disso, que este não é o meu caminho, eu treino para suportar a pontada que eu sinto em meu peito por isso.

Honestamente, eu invejo as pessoas que conseguem se impor e dizer o que sentem, que quebram e gritam e esperneiam até que conseguem o que querem. Porque eu, bom, eu sou só a doce e adorável Estella Steele.

A garota sem objetivo.
A garota sem personalidade.
A garota calada e que raramente diz algo.

Desço as escadas até a sala e meu coração pesa com a saudade de David, ele foi o primeiro a sair de casa e eu respeito isso, meu irmão gosta de ficar sozinho, mas sinto falta de tê-lo por perto.

Mamãe está cantarolando enquanto cozinha, fazendo o café da manhã, e meu pai, a ajudando e sorrindo quando ela desafina em algum tom, que são quase todos.

— Bom dia – digo, rente à porta da cozinha e forçando um sorriso em minha boca.

Os cachos de mamãe estão presos em um coque apertado, e eu me soco internamente. Queria ter tido a sorte de ter cachos como os dela, os meus são meios desajeitados e por isso o uso mais liso.

— Bom dia, princesa – papai é quem diz, dando um beijo na minha testa — Está com fome? Sua mãe está fazendo panquecas, as suas preferidas.

— Hum.. não muita. Na verdade, estou de saída, eu como algo quando estiver na rua.

— Você tem certeza? – ela pergunta, olhando em meus olhos.

— Sim, mãe – me despeço dela e depois de papai, subindo na minha bicicleta do lado de fora da casa e pedalando pelas ruas até um campo vazio que eu havia encontrado um tempo atrás em minhas longas pedaladas por toda a cidade para espairecer a mente, era em uma área mais afastada do movimento e provavelmente perigosa, mas era aqui onde eu podia dançar tranquilamente sem nenhum peso em minhas costas, sem pensar em absolutamente nada que me trouxesse para uma crise de ansiedade.

Eu calço minhas sapatilhas, respirando fundo antes de dar o meu primeiro giro e deixar que a dança afaste todo o sentimento ruim em meu peito.

Está tudo bem, mantenha-se firme, Estella – penso.

Aos poucos, minha mente parece flutuar em um céu cheio de arco-íris e algodões doce, o balé me salvou, ele sempre vai me salvar porque ele corre em minhas veias.

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Boa leitura! ❤

Escrever esse livro foi difícil.. porque aqui há personagens com problemas comuns que todos nós temos e, por falta de cuidado, acabam se agravando com o tempo, infelizmente...

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