Virando à direita, eu cantarolo baixo a música de 50 cent que vaza do rádio do carro, batendo meus dedos contra o volante no ritmo da música. Gosto do cantor, e principalmente das suas músicas, elas me ajudavam na questão da autoestima nos dias em que eu me sentia um merda.
Passo pelos enormes portões da mansão dos pais de David, eu havia o ligado várias vezes para poder sairmos juntos, mas o mesmo não me atendera uma só vez, o que me fez dirigir até a casa do seus pais na tentativa de encontrá-lo.
A casa deles não era muito distante da casa dos meus pais, o que foi algo que sempre me deixou intrigado, já que Peter e meu pai vivem dizendo por aí que se odeiam por coisas do passado, algo como meu pai ter tido algum tipo de caso com Helena quando eles eram mais jovens, no período de tempo em que ela e Peter haviam terminado.
Não que meu pai ficasse muito para trás, já que o mesmo era bastante ciumento pelo fato de Peter conhecer bastante minha mãe e o fato deles terem dividido um passado juntos. Peter é o melhor amigo da minha mãe, e a conhece de uma forma que às vezes me surpreende.
Ao estacionar meu carro, eu verifico uma mensagem de Duth e o respondo no mesmo instante, avisando que pegaria mil vezes mais pesado no treino amanhã se eu aparecesse com ressaca. Mas nós dois sabíamos que, no fim dessa noite, eu estaria bebendo em algum canto dessa cidade.
Entro na casa, uma melodia suave de piano reverbera em meus ouvidos e instantaneamente me faz puxar o ar duramente, relaxando com o som melancólico e tão doce que faz meus músculos relaxarem.
Caminho até a cozinha, avistando Helena, mãe de David, cozinhando e dançando na ponta dos pés pelo cômodo. Seus olhos estão fechados e ela ri sozinha, girando como uma perfeita bailarina, o que ela já foi, hoje em dia dança mais por esporte, mas é pouco comparado a sua filha.
Observando ela, entendo o amor de Estella pelo balé. Foi algo passado de mãe para filha, e acredito que ela tem lembranças boas disso consigo.
Era a mesma coisa comigo e o boxe, me lembro das tardes em que eu treinava com meu pai e conversávamos sobre tudo. O assunto parecia nunca acabar, a noite caía e éramos obrigados a entrar para casa, mas eu dormia ansioso para o próximo treino, para passar mais tempo com meu pai e desejava ser como ele.
Mas eu falhei. E hoje o lugar onde era meu conforto, o lugar que abraçava as minhas feridas é o lugar que as causa, é o lugar que machuca.
Eu limpo minha garganta, fazendo Helena abrir olhos e me encarar, ela ri com as bochechas coradas e caminha até mim, dando-me um abraço.
— David não está aqui, se caso veio para isso – diz ela, voltando a decorar um bolo que parecia ser de chocolate — Ele estava há algumas horas atrás, mas saiu com seu pai para comprar algumas peças para as motos. Você sabe como eles são viciados nisso.
— Sim, David herdou do pai, eu suponho.
Helena ri, nostálgica.
— Você não faz ideia, a aparência puxou para mim, pelo menos. Porque o resto é tudo puxado do seu pai.
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HERDEIROS #5 - Second Chance
RomanceSegunda chance trata-se sobre um livro cheio de feridas e mágoas jamais ditas. Personagens que irão crescer e evoluir com o tempo e saber entender que às vezes, nem tudo sai conforme nós queremos. Que nem mesmo amando alguém imensamente, é o suficie...