Capítulo 40 - Bônus

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David Steele

Eu massageio as costas de Giana, segurando seus cabelos enquanto a mesma vomita mais um pouco. Algo está errado com ela nessa madrugada. Seus olhos estão assustados desde que a mesma acordara do nada após um pesadelo, seu corpo treme sem parar e seu choro é tão angustiado que dói em mim ouvi-la.

— Querida, você precisa respirar – aplico meus dedos em sua nuca, massageando lentamente para ajudá-la a se acalmar.

Seus dedos agarram o vaso sanitário até que ficam brancos e ela nega com a cabeça, engasgando em seu choro e seu vômito. Seu rosto está inchado e seus olhos vermelhos, e leva tudo de mim para não me juntar a ela e chorar também.

Por algum motivo, também estou sentindo algo ruim essa noite, mas preciso manter a calma por ela, não posso deixá-la perder o controle totalmente.

Meu telefone toca em cima da escrivaninha e praguejo silenciosamente por alguém resolver me perturbar justo agora. Eu a deixo sentada no chão frio do banheiro se limpando e caminho em passos pesados até o telefone, minha espinha gela quando noto que é o número de Riven que está chamando.

Eu pondero por alguns segundos, o desespero toma conta de mim enquanto assisto a chamada tocar. Não nos falamos há tanto tempo e agora ele estava me ligando. Eu deveria atender?

Ignorando a raiva no mais profundo de mim, eu atendo, mantendo-me calado até ouvir uma respiração ofegante e o barulho de vozes logo ao fundo. O que estava acontecendo?

— Boa noite. Algum problema? – pergunto, apertando mais o celular em minha mão.

— Este é o número de chamada de emergência de Riven O’Connell? – uma voz feminina diz, ela parece nervosa — Você precisa comparecer ao hospital. O Sr. O’Connell sofreu um acidente muito grave e está entre a vida e a morte.

Meu mundo cai. Completamente. Eu congelo no lugar que estou e minha vista embaça, meu sangue parece sair aos poucos do meu corpo e meu coração bate por um fio, não conseguindo acreditar nas palavras ditas, eu gaguejo quando volto a falar.

— Des..desculpe.. Mas do que você está falando?

— Você precisa vir para cá, é urgente – ela me passa o endereço do hospital, e em todo momento eu me mantenho estático, incrédulo e com raiva.

Eu sinto raiva porque me recuso a aceitar a atual situação, quando a enfermeira desliga, eu deixo o celular cair no chão e encaro a parede, ouvindo-o se estilhaçar. Mas algo maior estava quebrando dentro de mim.

Meu melhor amigo, no hospital, entre a vida e a morte.

— David – Giana me chama, seus olhos estão lacrimejados e meu coração cai quando começo a chorar na sua frente — O que está havendo?

— Eu.. – paro, não podendo controlar meu choro — Ele...

Me sento na cama passando minhas mãos em meu cabelo e continuo chorando, eu não conseguia falar, eu só conseguia pensar em Riven. A dor em meu peito estava me matando. A ideia de não vê-lo nunca mais parecia dolorosa demais, eu não podia suportar isso.

— O que.. – Giana para, seus olhos se arregalam e sua mão vai até seu peito, ao lado do coração — Foi ele – sussurra, desamparada — Aconteceu alguma coisa com o meu irmão.

Isso não foi uma pergunta. Ela calça seus chinelos e sai do quarto correndo, e eu obrigo meu corpo a reagir quando corro atrás dela, descendo as escadas e a ouvindo procurar as chaves do carro no andar debaixo.

— Cadê as chaves? Onde está? Onde está essa merda quando preciso delas?!

— Giana.. você precisa me ouvir.

— CADÊ AS MALDITAS CHAVES, DAVID? –seu rosto úmido e a dor em seus olhos me fazem caminhar até ela e puxá-la para os meus braços, sentindo seus ombros tremerem pelo seu choro desamparado — N-não.. Eu preciso ir até ele, David. Eu preciso do meu irmão, eu preciso dele para tudo.

— Tudo bem – concordo, chorando como ela.

— O-o que aconteceu?

— Houve um acidente – ela se solta dos meus braços, andando de um lado para o outro na sala, me assustando totalmente quando pega um jarro em suas mãos e o joga contra a parede, gritando angustiada, murmurando palavras para si mesma na tentativa de se consolar — Nós precisamos ir até ele, querida.

Enxugo meu rosto, agarrando sua mão e entrelaçando nossos dedos. Eu não podia confortar sua dor agora, não quando também a estava sentindo. Ela acena e sai na minha frente, indo ligar o carro enquanto eu pego seu celular e mando uma mensagem para os pais de Riven, eles tinham que saber.

Dirigindo pelas ruas úmidas, eu vou o percurso todo escutando o choro de Giana, vendo-a se contorcer no banco do carro quando a dor parece sufocar demais seus pulmões e estremecer, fechando seus olhos para pedir que seu irmão sobreviva.

E eu espero, do fundo do meu coração, que Riven fique vivo. Eu não vou aceitar existir em um mundo onde não o terei.

As lembranças da noite que brigamos retornam frescas para minha mente, e a sensação de arrependimento me consome. Eu deveria ter feito mais. Eu deveria ter lutado mais, insistido mais. Agora, eu não sabia mais se o teria em minha vida com suas piadas estúpidas que tanto sinto falta.

Não faça isso comigo, meu irmão.

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Boa leitura! ❤

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