Capítulo 34

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A solidão dentro do quarto escuro faz com que tudo volte à tona outra vez, o gosto ácido e amargo em minha boca seca desce ao engolir em seco, meu corpo está febril e estou suando como um porco, minhas mãos trêmulas em cima das minhas coxas se fec...

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A solidão dentro do quarto escuro faz com que tudo volte à tona outra vez, o gosto ácido e amargo em minha boca seca desce ao engolir em seco, meu corpo está febril e estou suando como um porco, minhas mãos trêmulas em cima das minhas coxas se fecham em repreensão quando encaro a garrafa à alguns centímetros de distância de mim, no chão, deixada lá por mim mesmo quando pensei em tomar um gole da bebida, mas aí, lembrei-me da minha família, de Giana e dos meus amigos.

Eu não posso decepcionar todos eles mais uma vez.

Michael e David estão se mantendo mais presente em meus dias, me ajudando a controlar e tentar diminuir com o álcool, meus pais e minha irmã sempre me ajudam quando estou me sentindo sozinho demais e preciso recorrer aos meus vícios. Durante esses meses, me concentrei em meus treinos o tanto que pude e dei orgulho ao Duth e Owen, fiquei longe de bebidas e drogas, mas ainda recebia ameaças dos caras constantemente.

Quando percebi o tanto que Giana estava ficando afetada por causa dos meus problemas, me mudei de volta para a casa dos meus pais e me mantive perto dela todos os dias, pelo menos assim, eu evitava fazer besteiras e cuidava da minha irmã. Em uma noite qualquer, quando percebi o quanto a minha volta para casa a ajudou a se reerguer um pouco, a forma como seus olhos estavam brilhando naquela noite quando a coloquei para dormir, foi quando prometi à mim mesmo que ninguém jamais machucaria seu coração, eu não deixaria que o mundo e as pessoas lá foram destruíssem seu brilho genuíno com sua maldade.

Eu serei seu escudo contra toda a escuridão que espreita lá fora, querendo arrancar sua energia contagiante e eufórica.

Mas tudo despencou quando Giana saiu de casa, ela estava crescendo rápido e eu passei tanto tempo preso em meus problemas que não aproveitei o tempo que pude. Ela é uma mulher independente agora e que vive por si mesma, trabalhando em uma das melhoras empresas de Nova York, ao lado de David Steele, meu melhor amigo e o homem que tá sendo meu maior apoio.

A tela do meu celular brilha quando clico no nome de David, o som estridente da chamada apitando em meu ouvido me faz grunhir com a dor, eu respiro profundamente e devagar, tentando tomar meu fôlego quando minha garganta parece se fechar e coçar, minha boca está seca como se não tivesse posto uma só gota d’água em meus lábios, minha pele formiga e deixo meu corpo cair na cama, esperando e torcendo ansiosamente para que David me salve dessa crise de abstinência.

— Não posso – sussurro com o corpo trêmulo sobre a cama, as gotas de suor escorrem em minha testa e em meu peito e as lágrimas rolam em minhas bochechas — S-sozinho eu não posso.. – digo baixo, abraçando meu próprio travesseiro.

Por mais que eu tentasse, eu era incapaz. Não havia como trazer aquele Riven de volta, o Riven que todos amavam quando os faziam sorrir. Colocando-me de pé, eu encaro o meu reflexo no espelho e sinto nojo.

Estou tão pálido que poderia ser comparado à um morto, meus olhos estão profundos e os lábios ressecados, estou um caco e se passara apenas alguns meses sem ingerir uma gota de álcool. Chorando com a visão diante de mim, me agacho no chão até pegar a garrafa em minhas mãos, apertando com força, deixando minha raiva transparecer.

A culpa não era de ninguém, eu era o fracassado. Eu não tinha mais forças para lutar por ninguém. Hesitante, eu levo a boca da garrafa até os meus lábios e travo no último segundo, lembranças de todos os rostos orgulhosos surgem em minha mente, de um lado, havia o homem perdido e sem esperança em mim, e no outro, o lado mais pequeno, havia o olhar de orgulho de toda a minha família durante os meses em que me mantive limpo.

Um grito rouco e agudo rompe a minha garganta quando acerto a parede com a garrafa, assistindo os pedaços de vidro se estilhaçarem no chão e em todo meu quarto, assim como o líquido escorrendo na parede. Minha vista se embaça com o meu choro de desamparo, caindo sobre os cacos de vidro de joelhos, eu deixo minha cabeça cair para frente e choro, soluçando e não me importando com a ardência dos cortes e o cheiro de sangue pelo ar.

Um viciado. Um fracassado e o homem que trouxe tristeza para todos os rostos da minha família.

Talvez Giana estivesse certa em se mudar de casa, em sair de perto de mim e toda a energia pesada que carrego, assim como meus amigos estavam vivendo suas vidas sozinhos. Eu teria que aguentar a minha dor, mas como? Não me resta mais motivos para lutar.

Sento no chão, cruzando minhas pernas e olhando para a palma das minhas duas mãos, assistindo o sangue esvair do meu corpo, dos meus joelhos e coxas.

A luz da lua que entra pela janela reflete no pedaço de vidro ao meu lado, é do tamanho de uma mão média e pontudo, o suficiente para causar um corte profundo e acabar com essa dor. Esticando minha mão trêmula e ensanguentada até ele, eu o pego, apertando contra a minha própria carne e deixando o corte mais profundo, eu levo a ponta do vidro até um dos meus pulsos e fecho meus olhos para a minha oração final.

Mas então, o rosto de Giana e seu sorriso me vem na mente e me fazem parar, jogando o vidro para longe de mim, eu me deito no chão e choro. Por ela, apenas mais uma vez, eu vou lutar até perder minhas forças.

Por ela. Pela minha promessa.
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Boa leitura! ❤

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