Capítulo 49

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Feito uma imbecil inútil, fiquei olhando para o celular totalmente impotente. Demorei alguns minutos para assimilar o quanto a expulsão afetaria a vida de Orelha. Ele vivia com a mãe e não tinham dinheiro, então mesmo que terminasse o ano em um colégio público a expulsão ficaria em seu histórico permanente e ele nunca iria conseguir outra bolsa integral para Harvard.
– O que eu fiz? – Coloquei a mão na testa, incapaz de aceitar que o meu passado ia destruir o futuro de alguém tão importante pra mim. – Não... – Murmurei com o peito doendo de culpa.
Precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa... (...)

Bruno PDV

Mesmo com a cabeça doendo e a testa cheia de pontos, vesti meu uniforme. Era melhor enfrentar outro dia maçante de aula a ter que ficar em casa e lidar com meus pais. Eles esperavam que eu voltasse a ser o mesmo Bruno, só que eu simplesmente não podia, porque tudo que já almejei agora parecia fútil e descartável. Antes queria ser respeitado, agora só queria ser esquecido, principalmente pelos Falcons. Antes queria ser um líder, agora só queria um pouco de paz. Tive uma vontade enorme de largar tudo e ir velejar sozinho, mas infelizmente não podia fugir.
Há semanas não conseguia reconhecer o homem que eu via toda manhã no espelho do banheiro. Há muito minha aparência externa se igualara à interior, no entanto me sentia pronto para aceitar que o cara com a barba por fazer, cabelos bagunçados e o rosto cheio de hematomas era realmente eu. O engraçado é que fisicamente estava um caco, mas por dentro não me sentia tão torturado como nos outros dias.
Meio tonto por causa da medicação, deitei-me na cama e tentei mais uma vez recordar os detalhes do incidente que me levou ao hospital. Por mais que me esforçasse, só me lembrava do momento em que fui atingindo, o resto se tornou um completo mistério. Não sabia quem tinha me socorrido, nem o que aconteceu nesse meio tempo.
Embora me faltassem lembranças reais, conseguia lembrar com clareza os sonhos estranhos que tive. Todas as minhas preocupações se manifestaram e meu inconsciente me fez voltar ao passado. Revivi vários momentos desagradáveis e Fatinha me assombrou por um tempo que pareceu infinito. O curioso é que em certo momento me senti... consolado. Foi como se alguém me protegesse, como se um anjo soprasse em minhas feridas internas aliviando as dores. Ou eu estava ficando muito louco, ou ouvira esse anjo me falar “acabou”. Seria mais fácil acreditar que os sonhos foram provocados pela pancada ou pela medicação, mas eu realmente queria acreditar naquele anjo.

Fatinha PDV

Com o rosto inchado, bati na porta da casa da única pessoa que eu julgava ser capaz de me ajudar. Um empregado atendeu e logo foi me anunciar.
De cabeça baixa esperei impaciente próximo à soleira. O tempo corria contra mim, mas ainda tinha esperanças de consertar meu erro antes que o Democracy abrisse os portões.
Quando senti o perfume de Bruno, ergui a cabeça e o encarei. Ele me fitou por dois segundos, depois bateu a porta na minha cara. Toquei novamente a campainha, pois desistir não era uma opção.

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora