Capítulo 94

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Sem olhar para trás, fui para o meu carro e encontrei Orelha encostado nele.
– Eu vim assim que pude, mas estou proibido de entrar no Democracy. Você falou com ela? Precisamos conversar sobre a...
– Pare. – Pedi abrindo a porta do Volvo. –Estou cansado e Fatinha está... morta. –Repeti as palavras da mesma.
– É que... – Ofegou. – Isso pode ser mais literal do que imagina.
– O quê?
(...)
Em uma mesa de uma lanchonete perto do Democracy, Orelha ficou fazendo rodeios e medindo palavras sobre um assunto que eu não conseguia compreender.
– Cara, eu estou com a cabeça muito cheia e não estou entendendo nada. Como assim Fatinha e Cassandra não são a mesma pessoa? São gêmeas?
– Bruno, não tem um jeito fácil de explicar isso, então imprimi esse artigo pra você. – Tirou um papel da mochila e me entregou.
Hesitei em ler, mas acabei sendo vencido pela curiosidade.
•Transtorno Dissociativo de Identidade•
Assim que li o título, troquei um olhar com Orelha e ele me incentivou a continuar.
•“O Transtorno Dissociativo de Identidade, originalmente denominado Transtorno de Múltiplas Personalidades, é uma condição mental onde um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio. O pressuposto é que ao menos duas personalidades podem rotineiramente tomar o controle do comportamento do indivíduo. Em alguns casos, isso é desencadeado pela vivência de situações traumáticas, como maus tratos (de natureza física ou psicológica), acidentes e desastres.
Apesar de ser classificado como "transtorno mental", a condição não tem relação com a esquizofrenia, ao contrário do que acredita a maioria das pessoas. O termo "esquizofrenia" vem das raízes das palavras "mente dividida", mas refere-se mais a uma fratura no funcionamento normal do cérebro do que da personalidade.
O indivíduo que sofre uma dissociação não se desliga totalmente da realidade, ele pode aparentar ter múltiplas personalidades para lidar com diferentes situações. Quando ele não pode lidar com uma situação particularmente estressante, a consciência do indivíduo acredita estar dando à outra personalidade a chance de eliminar a causa da situação. No transtorno de personalidade não há amnésias, mas uma conduta rotineiramente inadaptada socialmente e isso pode gerar entre as personalidades um sentimentos de rivalidade ou fraternidade. Com tudo, o transtorno continua controverso.”•
Parei pra respirar fundo e encarei Orelha
– Está me dizendo que Fatinha tem esse transtorno?
– Sim.
– Mas... – Cocei a testa, aturdido. – Como assim? Como funciona?
– Esse transtorno foi se desenvolvendo com o tempo. As cicatrizes, os maus tratos... Você sabe do que estou falando. –Ele não quis me culpar, mas já estava me sentido assim. – Fatinha não conseguia confrontar situações emocionalmente estressantes, e era aí que sua outra personalidade, “Cassandra”, assumia o seu lugar. Eu achei que não era grave... Achei que... – Fez uma pausa, meio angustiado. – Antes acreditei que era só um meio dela se proteger, porque Fatinha parecia estar sempre no controle. Seu outro “eu” seguia de algum jeito a vontade dela. Embora as duas aparentassem ser extremamente diferentes, seguiam a mesma raiz de sentimentos. Está entendendo? – Fitou-me cheio de dúvidas. – Por exemplo, tanto Fatinha como Cassandra me vêem como seu melhor amigo. As duas sempre se sentiram atraídas por você, e elas odeiam os Falcons e o Democracy. O lance é que reagem cada uma a seu jeito.

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora