ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
"O curso do amor verdadeiro nunca fluiu suavemente." (William Shakespeare)Bruno PDV
Levantei-me do chão quando os Falcons saíram do banheiro. Carente de forças, me inclinei sobre a pia e cuspi o sangue que enchia a minha boca. Ao olhar para o espelho, novamente me vi como um semi-vivo. Já fazia dois dias que meu olho esquerdo não abria por estar muito inchado e tinha mais hematomas que um lutador de rua. Infelizmente, os autores das agressões eram justamente aqueles que antes eu considerava meus companheiros.
Haviam se passado semanas desde que deixei de ser presidente do grêmio e atleta para me tornar uma vítima de bullying. Os Falcons começaram a me odiar quando Nelio abandonou o barco e se transferiu para outro colégio. Ele foi jogar com nosso maior rival em uma tentativa de manter sua reputação intacta, no entanto, todos desconfiaram de que foi embora por minha causa. Então quando o filho da democracia anunciou na rádio que eu havia dedurado o Sal, as desconfianças tornaram-se convicções.
No início eu lutava e resistia, mas depois de um tempo cansei de nadar contra a correnteza e simplesmente me entreguei. Não me importava com absolutamente nada, nem mesmo minha saúde.
Quando o sinal tocou, coloquei meus óculos escuros e peguei minha mochila do chão. Esperei os alunos irem embora e saí do banheiro a passos errantes.
Há um mês, tudo que queria era não ter que deixar o Democracy, mas agora amaldiçoava o poder do governador. A duras penas ele convenceu os donos do colégio a não me expulsarem, só que em troca exigiram o responsável pelo delito envolvendo o vídeo. Meu pai achou por bem encerrarmos a questão o quanto antes e eu vendi minha alma assumindo a culpa por tudo. Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. #
Para que não ficasse tão evidente a influência de um político em questões internas, tiveram também que manter Cassandra no colégio. Os alunos não aceitaram bem a decisão e continuaram a fazer pequenas manifestações através de sites e blogs. Eles sentiam que a instituição estava completamente vendida e que não existia justiça que me alcançasse. Ninguém conseguia ver que eu estava vivendo entre o céu e o inferno, condenado a vir todos os dias para o colégio e suportar insultos, agressões e solidão. Não havia ninguém que não me odiasse e que não me culpasse pela piada que o Democracy se tornou quando o vídeo ganhou repercussão nacional, sendo usado pelos adversários políticos do meu pai para destruir sua campanha de reeleição.
Em casa, minha vida era ainda pior do que no colégio. O governador não me deixava esquecer que eu manchara seu nome com minha falta de responsabilidade. Ele esqueceu tudo que já fiz para lhe dar orgulho e lembrava-se apenas dos meus erros. Discutimos inúmeras vezes até que desistimos um do outro. Já não nos falávamos e o desprezo era mútuo.
Me arrastei até a sala de detenção para cumprir mais um mês do castigo. O local já esteve lotado de alunos que participaram da manifestação, mas os dias passaram e só restou Cassandra e eu
– Está atrasado, Bruno. – O professor Gray falou quando me sentei na última carteira. – Quero uma redação com no mínimo mil palavras sobre o sistema educacional dos EUA.
Não respondi, apenas peguei o caderno e comecei a rabiscar palavras desconexas. Todos os dias depois das aulas ficava três horas naquela sala perdido em meus próprios pensamentos.
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Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)
FanficPaixão e Crueldade {FINALIZADA} Democracy é o colégio mais respeitado da Califórnia e o palco principal de uma história turbulenta regada a paixão, vingança, obsessão, preconceito, revolta, ambição e muito fogo! Maria de Fátima sofreu inúmeros maus...