Capítulo 32

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O nervosismo me fez roer as unhas e eu já não fazia isso a um bom tempo. Assustada, olhei as minhas unhas e automaticamente lembrei... # Eu tinha 9 anos, cabelos compridos cobrindo o rosto, um corpo franzino e muitas coisas passando por uma cabecinha tão jovem.
Era hora do recreio e eu estava na parte mais isolada do parquinho. Minha única companhia era uma borboleta que acabara de pousar no gramado. Quieta, fiquei a observando. Todas as suas cores e formas me alegravam e me confundiam. Como podia uma lagarta feia se transformar em algo tão lindo? Eu não entendia que tipo de magia existia por trás daquilo, muito menos por que essa mesma magia não funcionava comigo.
Por estar concentrada na borboleta não percebi que Bruno e seus amigos haviam se aproximado. Só os notei quando Bruno começou a me cutucar com um graveto. Assustada, rastejei para junto de uma árvore e me encolhi esperando que me deixassem em paz, mas não deixaram. Nunca deixavam.
– Cuidado... – Uma menina falou com nojo. – Ela pode querer tocar em você, Bruno.
– Que estranha. – Ele disse rindo, mas bastante curioso. – Vamos ver a cara dela. – Aproximou o graveto do meu rosto tentando afastar meus cabelos, só que não permiti e empurrei o graveto para longe.
Como se eu fosse uma bizarra atração de circo, riram e riram. Coloquei as mãos perto da boca e comecei a roer as unhas compulsivamente. Meu coração sempre ficava muito acelerado porque eu tinha medo de que me obrigassem a mostrar o rosto.
– Eca! Os dedos dela estão sangrando. –Um garoto falou alto.
Frequentemente aquilo acontecia, pois eu já não tinha unhas pra roer e mesmo assim continuava a arrancar o que podia. Era doloroso, mas o nervosismo não me deixava parar.
-Quem quer dar os dedos pra a Fatinha duas caras comer? – Bruno iniciou a brincadeira. As crianças passaram a correr em volta de mim, todas fugindo dele, que queria forçá-las a me tocar. – Não tenham medo! – Gargalhava.
Apavorada com a possibilidade de me machucarem, peguei uma pedra e arremessei contra Bruno. Quase acertei a perna dele e por isso ficou furioso.
– Sua monstra idiota! – Jogou a pedra de volta e ela atingiu minha testa.
A dor intensa, infelizmente, não me fez ficar inconsciente. Minha cabeça começou latejar enquanto um zumbido fraco soava em meus ouvidos. O grito preso na garganta logo se transformou em lágrimas. Assim que o sangue começou pingar no meu uniforme as crianças fugiram para não levarem a culpa. No entanto o autor da agressão ficou para me observar sangrar.
– Você mereceu... Fatinha duas caras! –Murmurou com ódio, em seguida fugiu antes que algum adulto o flagrasse.
Fiquei lá chorando enquanto tentava limpar o sangue. Ele passou a se misturar com meus cabelos e lágrimas, cobrindo principalmente a parte esquerda do meu rosto. Atordoada, tentei levantar, mas não tinha equilíbrio suficiente. A dor não diminuía e, mesmo assim, não conseguia chorar alto o suficiente para que alguém viesse me socorrer. #
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O ar saiu pela minha boca como se tivesse sido golpeada no estômago, de fato, as recordações eram tão dolorosas quanto isso.
Fixei meus olhos no horizonte me convencendo de que qualquer castigo que reservasse para Bruno seria pouco. Por isso, decidi me livrar do senso de moral e instintos de autopreservação. Já não me importava com o futuro, desde que arrastasse Bruno para a zona sombria de humilhação e rejeição em que vivi por anos. Por mim ele foi julgado, sentenciado e agora seria condenado

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora