Capítulo 52

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Ele continuou aplaudindo, não por satisfação, mas por admiração, fazendo com que os alunos se lembrassem de como tudo aquilo começou. A atmosfera foi se transformando conforme emergiam de nossa memória todos os feitos dos Filhos da Democracia. As denuncias, os ideais e verdades que foram entregues aos jovens de uma forma não convencional marcaram muitos ali, inclusive Bruno e eu.
Os aplausos surgiram de todos os lados e em questão de segundos o som ultrapassou a voz autoritária do diretor. Os alunos de todas as idades e grupos sentiam uma imensa gratidão, pois o filho da democracia mudou a instituição de uma forma única e permanente.
Para driblar o alvoroço, o diretor obrigou Orelha a continuar andando, só que ao chegar ao final do corredor ele olhou para trás e finalmente me avistou. Ele não estava abatido, muito pelo contrário, seu sorriso me fez entender que criar Os Filhos da Democracia foi algo especial demais para nos arrependermos. Orelha arriscou tudo em nome de um ideal e por isso se tornara mais digno de respeito do que qualquer Falcon jamais fora. Ele, que sempre foi considerado um nerd cujo nome ninguém sabia, agora estava saindo do Democracy como um herói e o nome Álvaro Gabriel seria para sempre lembrado naquela instituição. (...) Mesmo depois que Orelha saiu do prédio os aplausos continuaram. Demorou bastante para a multidão se dispersar e eu fui a única a continuar no local. Exausta, me encostei nos armários e deslizei até cair sentada.
Ainda não tinha conseguido absorver os acontecimentos e, mesmo que meu amigo não estivesse abalado, eu estava. Com os pensamentos embaralhados, tentei contabilizar quanto conseguiria pela venda de meus pertences, o problema era que o valor nunca seria suficiente para pagar uma faculdade como Harvard.
– Aqui está.
Surpresa, olhei para cima e não entendi por que Bruno estava me estendendo um cartão de visitas. – O que... – Balancei a cabeça, demasiadamente confusa. – Orelha só tem que ligar para esse número. Ele estudará no colégio Buckley e a bolsa para Harvard já está garantida. O histórico dele ficará sujo por alguns meses, mas quando a poeira baixar voltará a ser como era antes.

Pasma, peguei o cartão sem saber o que dizer. Saí da casa de Bruno convicta de que ele nada faria, por isso, por mais que eu quisesse reagir, não conseguia.

Ele não esperou que eu agradecesse e saiu como se nada tivesse acontecido. – Foi difícil? – Perguntei em voz alta. – Você não faz ideia. – Respondeu sem olhar para trás.

Era pra eu ter dito algo como “obrigada” ou “vou cumprir minha parte”, só que a curiosidade foi muito maior. Desejava saber o que Bruno disse ou prometeu ao seu pai para convencê-lo a nos ajudar. (...) No dia seguinte, me preparei para colocar os pés no Democracy pela última vez.  Bruno conseguiu ajudar Orelha, então agora era a minha vez de honrar o acordo e tirar dos ombros dele a culpa por ter destruído a imagem do colégio.
Consciente de que teria de ser forte, não expus meu corpo alterando o uniforme. Estava usando-o exatamente como as outras alunas. Também não coloquei nenhuma maquiagem e usei apenas uma tiara para manter meus cabelos longe do rosto.

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora