Capítulo 73

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Nos olhos de Cassandra havia rendição e um estranho desejo de que eu cumprisse a ameaça. As mesmas íris misteriosas que me levaram ao inferno aplacaram, sem muito esforço, a ira dentro de mim, abrindo, assim, caminho para sentimentos confusos e contraditórios. Perdido e de olhos fechados, colei minha testa na dela e aos poucos fui soltando o seu pescoço. Não demorou a ofegarmos juntos, procurando ar em um espaço pequeno demais para tanto conflito irresoluto.
– Você terá suas respostas. – Afagou a minha nuca
– Quando?
– Hoje
Abri os olhos e me afastei lentamente. Conforme fazia isso, a mão de Cassandra deslizou da minha nuca, passou por meus ombros e deteve-se em meu peito.
– Você promete? – Lá estava eu novamente, estupidamente cativado por sua presença.
– Bruno, eu juro!
Seus olhos ficaram marejados e eu quis cruzar os limites estabelecidos pelas dúvidas e simplesmente beijá-los. Porém, antes que eu cometesse esse doce erro, Cassandra se distanciou e atravessou a porta abandonando-me.
Debilmente, me arrastei de volta à sala de detenção e debrucei-me sobre os livros, mentalmente exausto. Cassandra permaneceu em seu canto e o Sr. Leandro continuou dormindo. Os minutos que se seguiram foram vazios e silenciosos.
O alarme tocou nos liberando da detenção. Arrumei minhas coisas devagar e o Sr. Leandro nos apressou. O segui rumo à saída, mas assim que ele atravessou a porta Cassandra me deteve bloqueando a passagem. Ela nada falou, apenas me estendeu uma carta. Peguei o papel sem tirar os olhos de seu rosto, no entanto o contato visual foi breve demais para eu compreender por que sua fisionomia tinha se transformado em um mero conjunto de linhas sem vida.
Cassandra foi embora sem olhar para trás, então desdobrei a carta e caiu no chão outro papel, ainda mais bem dobrado que o primeiro. Intrigado, peguei o papel do chão e comecei a ler a carta.

•Querido Bruno 'Anthony'...
Eu já passei por situações terríveis, mas escrever essa carta é tão difícil que sinto como se meu coração fosse parar...
Voltei ao Democracy com um único objetivo e por ele eu mataria e morreria, e foi exatamente isso que aconteceu. Apaguei a “luz” dos nossos caminhos e ficamos perdidos na escuridão do nosso passado. O ódio que servia de combustível para a minha obsessão foi tão grande, que acabou morrendo do próprio excesso quando você confessou seus erros ao Filho da Democracia. Hoje, analisando bem, vejo que tudo que falou naquela noite foi de coração. Eu sabia que estava sofrendo e desejava isso mais que tudo. Acreditei estar fazendo justiça, mas essa “justiça” falhou de todas as formas possíveis. Em alguns momentos era como se nem fosse eu mesma... Acredite, hoje não sou uma pessoa mais completa ou mais feliz, pelo contrário. Queria ter percebido antes que, se tivesse refreado a mágoa e tirado um tempo para compreender como você se sentia por dentro, talvez pudéssemos ter ajudado um ao outro.
Espero que essa carta e essa ficha te ajudem a encontrar absolvição e, finalmente, paz.
Sinceros lamentos de quem, agora, eu realmente sou...
Fatinha Duas Caras.•

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora