Capítulo 18

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Um anônimo acusou Sal de vender cocaína dentro do Democracy. O mais interessante é que indicou o local onde ele supostamente guardava a droga
– O que vai fazer? – Ficou nervoso.
– Está fazendo a pergunta errada. –Levantei-me e o obriguei a fazer o mesmo. – A pergunta certa é: o que você vai fazer Orelha?
O cara demorou alguns segundos para entender onde eu estava querendo chegar
– Não. Não posso fazer isso! – Tentou se afastar e não permiti.
– Escute aqui... – O segurei pelo colarinho. – Foram anos de bullying. Esse é um daqueles momentos na vida em que nos vemos em uma encruzilhada. Se for um covarde agora, será um covarde para sempre, pois está traindo a si mesmo não querendo sair da posição de vítima. – O obriguei a olhar dentro dos meus olhos. Até podia sentir sua respiração entrecortada em minha pele. Orelha estava indeciso e preso ao conformismo, por isso só havia uma frase capaz de arrancá-lo da letargia.
– VOCÊ. NÃO. NASCEU. PRA. SER. UMA. VÍTIMA! – Não foi preciso dizer mais nada. Minhas palavras o induziram abdicar do medo e da posição de capacho dos Falcons.
– Me passa o microfone. – Pediu com frieza.
Sorri torto e lhe entreguei nossa arma. Enquanto ele se preparava para entrar no ar, coloquei uma música de fundo que o inspirasse.
– Está pronto? – Questionei como dedo em cima do botão vermelho. Orelha ergueu a cabeça e assentiu.
– Finalmente alguém teve a ousadia de nos enviar uma mensagem decente. Agora sim temos um segredo show! –Sentou na cadeira onde eu estava antes. –E quer saber? Pouco me importa se é verdade ou mentira. – Dava para sentir o rancor embutido em sua voz. – Há algo de podre no reino do Democracy. – Deu um grande gole no meu gin. – Um de nossos alunos mais queridos, um dos melhores, se não o melhor jogador do time de basquete, tem tirado uma graninha boa vendendo cocaína dentro do nosso colégio. O burro guarda o bagulho dentro do próprio armário. – Riu. – Ele é um Falcon, é um idiota... Salvador Machado, você foi pego, meu chapa!
Isso!
Ergui as mãos para o alto em comemoração.
Mas sabe... – Orelha suspirou tirando seus óculos. – Mesmo com a instituição completamente fodida, insistimos em manter as aparências em nome da honra estudantil. Nós somos os bastardos que sustentam aquele colégio “tradicional e renomado”. – Bebeu mais um pouco de gin, mantendo a mesma linha crítica que estabeleci. – É... Eu sinto o cheiro da hipocrisia. Está em toda parte. – Olhei para monitor e notei que os números de acessos do site disparavam. – Algum dia já sentiram que suas vidas são uma baita mentira? É! Uma farsa mesmo! Tem dias que você nem se reconhece. Sabem do que estou falando? Sabem quando deitam pra dormir e ficam pensando um monte de lixo como: será que vou levar bomba em matemática? Como faço pra aquele garoto gostar de mim? Por que meus pais não me ouvem? O que faço para me destacar na vida? Nos preocupamos com coisas tão ridículas enquanto ferramos com a camada de ozônio e devoramos os recursos naturais como gafanhotos famintos. As pessoas estão lá fora se matando por nada e para nada, mas quem se importa? Sério, quem... realmente... se importa? Então você acorda cedo, veste seu uniforme e vai para o colégio ou para o trabalho todo o santo dia como se fosse a coisa mais importante da sua existência. Pelo quê está vivendo? Pelo seu futuro? Lamento dizer, mas nem todos nós veremos o futuro... – Gemeu com sarcasmo. – Não me pergunte por que as coisas são como são, só me pergunte como sobreviver a isso. – Coloquei uma nova música para tocar. – Essa madrugada seja o dono de si mesmo por alguns minutos. Olhe em volta, está sozinho! Não tem ninguém para agradar ou impressionar. TENHA ATITUDE PELO MENOS UMA VEZ! LIBERTE SUAS LOUCURAS ANTES QUE A ROTINA TE DESTRUA, PORQUE, QUANDO AMANHECER, MEUS COLEGAS, TODOS VOLTAREMOS A SER OBEDIENTES SERVOS DELA! ENTÃO PERCA A CABEÇA ENQUANTO PODEEEEE! Levantou-se num pulo e subiu em cima da cadeira. –OOOOOOOOOOOOOOOWWWWWWWW! – AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH! – Eu mesma gritei contagiada pela música e pelas verdades ditas por Orelha
–ENLOUQUEÇAAAAAAAAAAAA!– Gritou e saímos pulando pelo quarto

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora