Capítulo 90

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Pena, curiosidade, raiva e confusão me rodeavam, emanando de todas aquelas pessoas que me assistiam como se eu fosse uma aberração, em grande parte, por causa de quem fui e do que fiz.
Não suportando a exposição, como uma verdadeira covarde, fechei os olhos e fugi. Esbarrei em várias pessoas e tentei desesperadamente correr para fora do colégio. Mergulhada na desordem mental, mal percebi quando me choquei contra alguém tão forte que me fez cair sentada. Ao abrir os olhos, me deparei com Tyler e, logo atrás dele, todos os Falcons, incluindo as animadoras de torcida. Sem conseguir me levantar, arfei com o coração batendo feito um tambor.
Ana assumiu a frente e se curvou para dizer bem na minha cara:
– Sua vingança contra Bruno afetou diretamente os Falcons e o Democracy. Achava mesmo que íamos deixar isso barato, Fatinha Duas Caras?
O soar do apelido me arrepiou inteira e eu achei que vomitaria.
– Você é mesmo a garota deformada com quem fizemos o Bruno transar anos atrás? – Tyler debochou. – Uau. Que mudança. Incrível!
– É ela sim. – Outro Falcon se aproximou rindo. – Não se lembra que o time inteiro assistiu o showzinho do andar superior da biblioteca?
– Hum... É verdade. – Tyler piscou o olho.
Aquelas palavras me provocaram tamanha dor que gemi, rastejando para longe deles.
– Cadê toda a sua coragem, Fatinha Duas Caras? – Ana me perseguiu de forma implacável. – Você não vai a lugar algum. –Segurou-me pelos cabelos e me manteve abaixo delas
Alguns professores apareceram tentando dissipar o tumulto e isso só aumentou o caos.
– Não... me chame assim. Por favor. –Tentei ser forte, mas só aticei a ira dela.
– Fatinha Duas Caras! Fatinha Duas Caras!– Ficou me rodeando e lágrimas escaparam dos meus olhos. Os fechei, sentido o apelido dilacerar minha consciência. Era como se tivesse voltado a ser a mesma criança vulnerável do passado. Tremendo muito, tapei os ouvidos e uma angústia antiga fervilhou em mim. – Pare de chorar, sua vadia fraca! Você infernizou a minha vida e eu vou infernizar a sua! – Esbravejou. – Fatinha Duas Caras! Fatinha Duas Caras! Fatinha Duas Caras!
Eu não conseguia me achar no meio daquelas centenas de vozes. A repressão da diretoria, o xingamentos dos Falcons, a piedade vã dos alunos e, principalmente, a voz de Ana, a qual sussurrava em meu ouvido: você ainda é um monstro! É horrorosa, Fatinha Duas Caras... Eu te odeio! Te odeio, Duas Caras!
De repente, várias lembranças explodiram em minha cabeça em um caos de imagens e sentimentos que foi impossível de administrar. Via-me bem pequena, com medo de ir para o colégio, Bruno me cutucando com um graveto, os tratamentos médicos pelos quais eu passei, gritos de desespero após terríveis pesadelos; Agulhas penetrando minha pele em uma clínica na Rússia, o vídeo que gravei, os olhares de repulsa e fogo... Muito fogo.
– AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH! – A imensa angústia estilhaçou em pequenos pedaços e cada um deles se tornou um grito de dor. Caí para trás e o fogo começou a subir por minhas pernas e se alastrou rapidamente pelo resto do meu corpo. – ESTÁ QUEIMANDOOO! – Me debatia, não suportando a dor alucinante. Passei as mãos desesperadamente pelo rosto e, embora ele estivesse intacto, eu podia sentir o ardor das chamas. –ALGUÉM ME AJUDE! ESTÁ QUEIMANDOOOO! – Minha garganta parecia que ia explodir tamanha a força com que berrava e mesmo assim ninguém me socorria. – ESTÁ ARDENDO! MEU DEUS! MINHA PELE! AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH! – Agitava braços e pernas, mas nem isso aplacou a fúria das chamas que brotavam de dentro de mim. AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH! SOCORROOOOOOO!

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora