Capítulo 11

7 0 0
                                    

Fatinha PDV

Fiquei mais tempo trancada dentro do banheiro do que imaginei. Tentava alinhar as minhas idéias, planejando a primeira abordagem a Bruno. Eu sabia que tinha que ser algo forte, sensual e irresistível. Mas será que me sairia? E se o Bruno me rejeitasse? Isso ia desestabilizar os meus planos?
A momentânea fraqueza me fez olhar para o espelho e lembrar da garota que um dia fui. Lutei contra as lembranças, só que elas eram mais fortes do que o bloqueio que criei e mantive por anos. Retornar à vida de Bruno estava me fazendo abrir portas que talvez nunca mais se fechassem.
Uma dessas portas me levava a um momento penoso extremamente difícil de recordar. Eu só tinha 15 anos quando tudo aconteceu... Não era um dia como outro qualquer no Democracy. Alguns alunos comemoravam, outros se lamentavam, mas nada daquilo me atingia. Eu não estava inserida em nenhum grupo para sofrer qualquer tipo de influência.
Fui para a biblioteca e como sempre, me sentei na mesa mais isolada. Mesmo em um local geralmente silencioso, era possível ouvir os murmúrios a respeito do resultado das eleições para presidente do grêmio estudantil daquele ano. Muitos alunos pensaram que Bruno iria vencer, já que seu pai era um político influente e sua campanha foi simplesmente espalhafatosa. Só que, contrariando as expectativas até da direção, um candidato do último ano venceu.
Às vezes sentia como se o Democracy fosse um pequeno país. As pessoas levavam muito a sério. Era como se não percebessem que o ensino médio durava pouco e a vida “de verdade” começaria quando nos formássemos.
Cansada das futilidades que me rodeavam, abri um livro e tentei estudar. Passaram-se alguns minutos, até que senti alguém se sentar na cadeira ao meu lado. Achando que era Orelha, não me preocupei. – Olá. – A voz baixa me assustou.
Encolhida e com o rosto praticamente escondido dentro do livro, senti um frio percorrer a minha espinha.
– Tudo bem? – Estranhamente acanhado, Bruno insistiu na conversa.
Com a face coberta pelos cabelos, ergui só um pouco a cabeça e verifiquei se seus colegas estavam por perto tramando algum mal contra mim
– Estou só – sussurrou.
Desconfiada, usei toda a minha coragem para perguntar:
– O que quer?
O fitei e Bruno baixou a cabeça para não me encarar.
– Só quero te fazer uma pergunta.
Fiquei totalmente confusa. Era a primeira vez em anos que Bruno se dirigia a mim. Na verdade, nunca fora tão educado. Quando éramos crianças, sua turminha zombava de mim como se eu fosse um tipo de cachorro perneta ou doente. Um dia ele até me cutucou com um graveto.
– Pergunte. – Minhas mãos suavam muito.
– Você pode me ajudar? Nós vamos ter aquele prova difícil de Química na Quarta e eu estou totalmente perdido nessa matéria. – Ah... – Agora estava começando a entender seu repentino interesse em mim. Meu trabalho de Química foi o melhor da classe e Bruno queria tirar proveito disso. –Eu... – Não podia ajudá-lo. Não depois de tudo que fez comigo
– Olha, sei que no passado impliquei um pouco com você. Foi coisa de criança, você sabe. Não significa que não podemos ser amigos agora.
– Amigos? – Nunca imaginei em toda minha vida que ouviria aquilo. Baixei a cabeça sem saber como agir. Praticamente ninguém falava comigo e agora o rapaz mais popular do colégio queria ser meu amigo? – Eu... eu... acho que tudo bem. – Engoli em seco.
Um pequena chama de esperança acendeu dentro de mim. Talvez, se Bruno falasse comigo de vez em quando, os outros alunos veriam que eu não era um monstro ou portadora de uma doença contagiosa.
– Vai poder me ajudar? – Tocou suavemente minha mão direita. A mão que não tinha cicatrizes.
– Vou sim. – Dei um meio sorriso, o qual ele não pode ver por causa da cortina de cabelos
– Obrigado
– Quando quer estudar?
– Pode ser esta noite? É que ando sem tempo. Estamos treinando muito para os últimos jogos do final da temporada.
Refleti por um breve momento e, mesmo relutante, cedi. – Tudo bem. Você quer ir na minha casa?
– Hãmm... – Ficou na dúvida. –Pode ser aqui mesmo na biblioteca? O zelador é meu amigo e quando não tenho tempo para estudar ele me deixa ficar aqui à noite. – Até que é uma boa idéia.
O fato de ele querer ficar na biblioteca só podia provar que realmente estava interessado em estudar.

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora