Capítulo 2

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3 semanas atrás {3 semanas antes dos capítulos anteriores, agora sim começa a história}

Fatinha PDV

Eu estava tendo um daqueles sonhos que você tem consciência de que é apenas um sonho, mas não consegue acordar.
Me via de pé, na porta do refeitório do colégio Democracy, e avistei uma garotinha com cerca de 11 anos, sentada no chão em um canto de parede. Vários garotos da idade dela a circundavam, rindo e debochando. Não entendia muito bem o que falavam, por isso me aproximei devagar.
Era impossível tirar os olhos da garota, ela estava tão assustada escondendo o rosto com as mãos. Eu precisava protegê-la, necessitava afastá-la daqueles moleques insensíveis. Passei por entre os adolescentes e me coloquei entre eles e a garota. – Parem! – Pedi e as risadas continuaram. – Parem! – Falei mais alto. – Fatinha duas caras! Fatinha duas caras! – Um garoto de cabelos acobreados e olhos castanhos incitou os outros adolescentes. – Fatinha duas caras! – Todos o acompanharam em coro. – PAREM! – Gritei magoada. – Fatinha duas caras! – O garoto sorriu torto.
De repente, o silêncio pairou no lugar. Inquieta, me aproximei da garotinha que tremia e soluçava. – Tudo bem. – Fiquei de joelhos e afaguei-lhe os cabelos.
Ela lentamente ergueu a cabeça e por trás de algumas mexas de cabelo notei que metade de seu rosto era deformado. Não consegui reagir, mas senti que algumas lágrimas escorriam por minha face. A menina ergueu a mão trêmula e tocou minha bochecha. Assustada, coloquei as mãos no rosto e senti minha pele áspera e igualmente deformada. – NÃÃÃÃOOOOOOOOOOO! –Gritei tomada pelo desespero.
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Bom, pra quem não tá entendendo, vou tentar explicar. Fatinha sofreu bullying quando menor, e agora ela volta ao colégio por vingança. Mas pra isso ela não pode ser Fatinha, que é dócil e indecisa, ela precisa ser Cassandra, que tem uma personalidade extremamente forte e não tá nem aí pra nada. Os capítulos 1 e 2 é como o prólogo, sabe aqueles filmes que começam com o final? Só que esse não é o final, ok? Mas vocês vão entender no desenrolar da história.

O grito ecoou pelo quarto escuro. Aflita, sobressaltei quase caindo da cama ao levantar. Corri até o banheiro em busca do espelho. Diante da pia, paralisei ainda em choque. Mesmo a minha face estando perfeita como fora nos últimos oito meses, meu coração batia em um ritmo acelerado. Toquei o espelho verificando se era real e, ao sentir o vidro gelado, pude respirar aliviada.

Eu fui prisioneira de minha aparência por quase toda a minha vida. Quando eu tinha 6 anos minha antiga casa pegou fogo e fiquei presa dentro dela. Os bombeiros me salvaram enquanto eu ainda queimava. Ninguém achou que eu sobreviveria às queimaduras de terceiro grau, mas eu sobrevivi. Infelizmente, tive que carregar comigo as marcas da dor. Quase todo o lado esquerdo do meu corpo ficou deformado pelas cicatrizes; o mesmo aconteceu com a minha bochecha, queixo e pescoço. Por muito tempo desejei ter morrido no incêndio, pois conviver com aquelas cicatrizes foi um inferno.
Meus pais sofreram junto comigo, mas não conseguiam aceitar que eu não podia ter uma vida normal, então tentaram me criar como uma criança igual a qualquer outra, ou seja, me enviaram para o pior lugar possível: a escola.

Durante muitos anos frequentei o Democracy, um dos colégios particulares mais prestigiados de Los Angeles. Obviamente, virei o centro das atenções assim que coloquei os pés lá, afinal, para eles, eu era uma aberração. Por cinco longos anos fui motivo de cruéis brincadeiras. A maioria delas lideradas por um garoto chamado Bruno Menezes. Ao completarmos 13 anos, Bruno parou de implicar comigo e eu deixei de ser “a atração de circo” para me tornar alguém quase invisível. Ninguém falava ou olhava para mim, as pessoas tinham medo, porque não entendiam o que se passava comigo. Alguns até achavam que as marcas no meu corpo eram contagiosas.

Paixão e Crueldade (Adaptação Brutinha)Onde histórias criam vida. Descubra agora