Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3

Chapter 402 O pescador, o cultivador e a linguagem do vinho de pêra

Capítulo 402 O pescador, o cultivador e a linguagem do vinho de pêra

Estava sem sono, eram dias anormalmente agitados.

E há muito tempo Shu rong não usava seu arco e flecha numa situação de perigo, talvez por isso se sentisse revigorado, a adrenalina de horas atrás ainda fluía em seu corpo.

Sabendo que Huan Shui já estava recolhido com aquele Daozhang problemático e que Qing Song e o cultivador de Zhen Yan estavam em suas camas, o pescador foi até a cozinha, carregando consigo a cabaça que continha vinho de pêra e caminhou até o aposento da casa onde ficavam seus livros, pergaminhos e documentos antigos, acendeu dois candeeiros com azeite e se serviu de vinho no copo pequeno de cobre fosco.

Shu Rong parou ao lado da janela, sentindo o aroma em vez do sabor, tomando vinho enquanto vislumbrava a lua com um brilho dourado vagando no pedaço de céu.

O vinho ofertava à noite ares auspiciosos, seus pensamentos perdiam ligeiramente a nitidez, o etílico causando um formigamento satisfatório na pele, quando pensou estar enganado ao ouvir três batidas na porta que tinha deixado aberta.

Mas, não era bem assim, estando mais lúcido do que pensava, seus sentidos estavam corretos.

Ele desviou o olhar da janela e viu aquele cultivador de Zhen Yan na entrada.

Shu Rong chegou a entreabrir os lábios úmidos, mas lembrou-se que era um homem silencioso.

Então, ele apenas olhou e olhou, esperando o homem dizer algo da onde estava, tomando a quarta dose de seu corpo num único gole.

— Shu Rong-shi... Também não tenho sono... Será que eu posso?...

Às vezes o pescador tinha a sensação que a voz do cultivador tremulava feito uma chama dançando num pavio de algodão, ele fez um mero gesto de mão para que Fu Sheng entrasse e assim que se aproximou, Shu Rong preencheu o copo que antes estava em sua mão, sobre a mesa e entregou na mão dele a dose.

Fu Sheng não tinha muito costume de beber, porque já se considerava desatento quando sóbrio, por isso considerou devolver o copo, mas antes que pudesse, viu Shu Rong bebendo um gole direto da cabaça.

O cultivador entendeu que como o pescador não esperava companhia, tinha levado apenas um único copo e era este preenchido de vinho de pêra em sua mão.

Não seria desfeita recusar? Fu Sheng cheirou a beira do copo, o vinho tinha um aroma encorpado e doce, uma iguaria fina e juntando o copo de cobre à beira dos lábios, provou um pequeno gole.

Seus olhos se levantaram do copo, degustando o sabor e Fu Sheng observou o pescador deixar a cabaça sobre a mesa, sentar-se em sua cadeira, primeiro ele encarou a folha virgem de papel de arroz e escreveu com pincel e nanquim.

Eles iriam conversar assim? O gesto de Shu Rong atiçou fortemente sua curiosidade e Fu Sheng se aproximou, não ocupando o outro lado da mesa, mas ficando ao lado da cadeira do pescador,

acompanhando a caligrafia cursiva no papel fino.

"Você fingiu que dormiu. Há quanto tempo está me observando?"

Fu Sheng arregalou o olhar, deu duas ou três piscadelas, era tão óbvio?

— É que... — O cultivador tomou outro gole de seu copo, desajeitado. — Eu queria conversar, mas não sabia como me aproximar... Sou um zero com a linguagem de sinais e além disso... Não sabia se Shu Rong-shi queria companhia.

O pescador bateu com as pontas dos dedos no tampo da mesa, mirando-se em Fu Sheng e tornou a escrever sob a luz de um dos candeeiros:

"O que temos para conversar?"