Chapter 401 Coração insondável preso ao passado impronunciável

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Capítulo 401 Coração insondável preso ao passado impronunciável

Dezoito de maio – Ano do Dragão

Estão mesmo se divertindo com as estrelas... Sem nós dois?

Quando a voz de Jun Wu soou no ar, os três rapazes sentados no pier olharam no mesmo instante para uma única direção.

O pai voltou! — O menino de doze anos exclamou, logo abandonando a beira do píer. — E trouxe o Wang Wei com ele... Olha, Xing Ye! Eu te disse... O pai é muito bom com arco e flecha.

Shu Rong se aproximou, agachando-se perto de Huan Shui e Fu Sheng, gesticulando enquanto fitava o jovem deus sob as lanternas acesas do pier:

"Por que não está descansando dentro de casa? Você é tão teimoso..."

Desculpe, Yifu... — Huan Shui soprou baixinho, suas mãos estavam segurando as beiras do pier. — Foi ideia de Qing Song, ele disse que iria me distrair com as estrelas e... Não fiquei tão apreensivo quanto antes... Foi bom.

O rapaz acompanhou a gestualização do pescador em resposta, talvez por não se sentir completamente bem, algumas palavras lhe escaparam, mas Huan Shui compreendeu a maior parte do contexto:

"... Estou indo com Qing Song e o amigo de Zhen Yan... Não demore a entrar... Vá descansar depois."

Huan Shui usou uma das mãos para responder em sinais: "Eu vou... Juro."

Na realidade, queria agradecer, queria dizer tanta coisa, mas somente observou Shu Rong conversar com Qing Song em seu silêncio, enquanto pousava ao fim a mão no ombro de Fu Sheng.

Mano Sheng, o pai pediu pra gente entrar... Ele disse que é tarde, que ele vai arrumar seu lugar de dormir.

Primeiro o cultivador fitou Qing Song e mirou-se em Shu Rong, compreendendo que o pescador queria dar espaço para Huan Shui e Jun Wu terem um momento sozinhos.

Tudo bem, Qing Song... — Fu Sheng sorriu de leve, ainda sentindo a mão do pescador em seu ombro. — Vamos... Eu faço um chá vermelho para nós.

Qing Song riu, enquanto Fu Sheng se levantava e segurava as botas que tinha deixado ao lado, as calças tinham as bocas dobradas no calcanhar.

Mas, mano Sheng... Chá vermelho tira o sono!

Ah, é... — Fu Sheng também riu, soando um pouco tolo. — Puxa, então Qing Song me conta mais sobre constelações... Até adormecer.

Jun Wu não fez nenhum comentário enquanto observou o pescador, seu filho e Fu Sheng se afastarem do pier em direção a residência praiana e quando as vozes ficaram distantes o suficiente para serem ignoradas, os olhares do Daozhang e do jovem deus se encontraram dentro da noite, ao som das ondas mansas batendo na estrutura de madeira do atracadouro.

Como estava parado a cerca de quatro passos e havia poucas lanternas acesas sobre o pier, somente nesse instante Huan Shui percebeu parte do hanfu de Jun Wu marcado por uma mancha disforme de sangue, respingado até a bainha do tecido, o Daozhang tinha ocultado ao deixar as mangas do traje caírem longas na frente de seu corpo, mas o vento moveu os tecido leve das mangas e a expressão do rapaz turvou-se, seus olhos se desviando para o mar coberto pelo negrume do céu.

Tendo sentimentos demais, suas feições eram totalmente ilegíveis entre as sombras e as luzes oscilantes.

Os dois não se falavam desde a madrugada após o dia em que haviam se casado e Jun Wu esperou no limite de sua angústia e ansiedade que Huan Shui tornasse a abrir os olhos.

Por que era tão difícil encontrar as palavras certas?

Jun Wu se sentiu um pouco culpado, era como se a escuridão do mar também se refletisse no seu amado, o coração insondável mantido intocável, nas profundezas do íntimo.

O Daozhang não tinha noção do quanto estava certo, ele em tempo algum poderia adivinhar os pensamentos de Huan Shui.

Uma vez que, nenhum deles era sobre o agora.

Assim que Jun Wu fez menção de se aproximar da beira, Huan Shui virou-se em sua direção, tirando os pés da água e erguendo suavemente a mão.

Não... Não venha se sentar, o esforço será ruim para seu ferimento, parece que foi profundo.

O Daozhang consentiu e estendeu a mão para o jovem deus se erguer com segurança da beira desprotegida, já que o píer em questão não tinha toras nas laterais.

A-Shui não deve mais se preocupar, apesar do sangue visível nas vestes... Recebi cuidados e Xuan Zhen transferiu mana para este Daozhang, estou em processo de cura, ainda que seja um pouco lenta.

Huan Shui piscou surpreendido ao se colocar de pé, justo Mu Qing concordou em doar poder espiritual? Embora ele estivesse inegavelmente curioso sobre o ocorrido em Sichuan, não tinha vontade nenhuma em falar sobre Jiahao, já que as pessoas que mais importavam... Tinham voltado para casa em segurança.

Tudo sobre o agora estava adormecendo como um eclipse em sua mente.

Então... — O rapaz disse manso, vagamente. — Não vai doer se eu te abraçar?

Se fosse uma ocasião corriqueira, Jun Wu teria rido do tom meigo da pergunta.

No entanto, a expressão séria, o rosto de Huan Shui um pouco cabisbaixo, as pálpebras que semi escondiam as verdades do olhar, passavam a forte impressão que algo o atormentava.

Antes de responder, Jun Wu acariciou com seus dedos a mão de Shui atrelada a sua, sua voz tornou-se a continuação dócil desse afago:

Não, não vai doer... Preciso do seu abraço.

Tendo o aval concedido com tanta ternura, Huan Shui envolveu o Daozhang abraçando o lado oposto do corpo ferido, o gesto em si não era muito apertado, mas seus dedos se agarraram com força ao tecido do hanfu, até mesmo beliscando sem querer sua pele por baixo.

De pronto Jun Wu tornou o gesto recíproco, mas era um abraço que denotava dois sentimentos distintos.

Apesar do pequeno apuro passado em Sichuan e do ferimento enfaixado coberto pelas vestes sujas, Jun Wu estava tão aliviado, no limiar do feliz por encontrá-lo desperto, grato por tê-lo em seus braços dentro daquela madrugada.

No entanto, Huan Shui o abraçava como se precisasse se certificar que aquele instante era real, que este Jun Wu não era uma miragem, um rosto que ele não veria mais.

Esfregando desamparado seu rosto de leve contra a existência de seu Príncipe, sentindo o aroma da pele, prendendo-o contra si... Como se fosse impossível soltar.

A-Shui... — Jun Wu cochichou carinhosamente. — Tem um abraço tão inquieto... Está tudo bem.

A mão fria do Daozhang afastou alguns fios de cabelo bagunçados em seu rosto, por um mínimo instante fugaz Jun Wu deparou-se com os olhos amendoados de Huan Shui tristes, rasos d'água.

Contudo, mais que depressa o jovem deus se escondeu contra seu corpo e a voz dele soou abafada e contrita, Jun Wu não tinha nem certeza se tinha ouvido certo:

Não, não está bem... Vai achar... Que eu enlouqueci...

 Que eu enlouqueci

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora