Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3

Chapter 430 O amor por alguém deve incluir os corvos de seu telhado¹

Capítulo 430 O amor por alguém deve incluir os corvos de seu telhado¹

Liang piscou, respirando profundamente, ainda assim o ar parecia faltar.

Aquele dia, desde o encontro com Dan Ren, tudo em sua volta parecia estar no limiar, prestes a se romper.

— Yijun... Que pergunta é essa?

— Um mensageiro me entregou uma carta.

Ela não entendeu o que isso implicava, o que havia demais nisso? Liang deu de leve os ombros e replicou um mero "E daí?..." e completou após as reticências:

— … Quem enviou a carta, Xiansheng?

— Esse é o interessante. — Huan Yijun disse sem qualquer gracejo ou alegria na voz. — Não tem remetente, o mensageiro disse que o envio foi pago por terceiros, mas tenho um palpite que pela qualidade do papel, o tipo de escrita... Tenha sido enviada por alguém da Capital Imperial.

Num movimento compenetrado, ele tirou a carta dobrada em dois de dentro da manga e tornou a fitar Liang, pesaroso.

— Algo me diz que Xiao Liang não perguntou o que há nela... Porque já sabe do que se trata. Aparentemente Fu Yan e Mestre Jin Shi desconfiam disso há cerca de uma semana, mas tudo explodiu hoje... Você foi mesmo se encontrar com aquele mercenário? Foi nesta tarde, enquanto a carta chegava em minhas mãos?

A voz de Huan Yijun perguntou pausadamente, mas quanto mais ele falava, mais seu tom se tornava incrédulo e magoado.

— Mas... — Liang deu um passo para trás, o espaço em seu peito a se apertar. — Que diabos diz essa carta?

Yijun apertou a carta em sua palma, apertando os lábios para não deixar a verdade impronunciável escapar, encarando por segundos o chão.

— Vai mesmo me fazer repetir em voz alta?... — Ele tornou a mirar-se nela, seu olhar escuro cheio de severidade. — Há quanto tempo, Liang? Diga.

Liang não imaginou que teria essa conversa, não pensou que tivesse que ouvir a voz dele que costumava ser tão carinhosa, perguntar em tom ferido há quanto tempo estava sendo traído.

E acima de tudo, ela não cogitou que fosse doer tanto em si mesma.

— Três meses... Praticamente.

Seus dedos não conseguiam parar de desfigurar a carta em sua palma e Liang percebeu um certo tremor no braço e na mão dele.

— Por que? — Yijun perguntou muito baixo, desolado. — Eu a cortejei por dois anos, a respeitei... A pedi em casamento e Xiao Liang aceitou... Acha que estou louco por perguntar o que fiz de errado?

Era como se a própria consciência de Liang se tivesse desfeito em pedacinhos e deslizado para sua garganta tão apertada, obstruída, ela não conseguia dizer nem meia palavra, nem um mísero murmúrio.

— Foi por eu não ter lhe dado filhos?... — Yijun insistiu ainda com mais ímpeto na voz. — Eu estava esperando o momento certo para te contar, Wu Chang me ajudou a descobrir que sou estéril... Mas, após um tempo pesquisando, ele descobriu como reverter isso.

O Sacerdote Chefe se aproximou um ou dois passos, afrouxando os dedos desmotivados que prendiam a carta e completou:

— Embora, não sei se isso faz alguma diferença para você... Iniciei um tratamento, por isso eu andava chegando mais tarde do que o normal.

— Por que... Por que não disse?... — A cultivadora meneou a cabeça confusamente, brava com algo que nem ela sabia decifrar naquele instante. — Sabia que essa questão era importante para mim! Por que resolveu esconder isso de mim?... Yijun!