Chapter 420 Conversas no silêncio, algumas verdades são insustentáveis parte 2

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Capítulo 420 Conversas no silêncio, algumas verdades são insustentáveis parte 2

Yifu?... Tudo bem?

Huan Shui enfim chamou, tornando a segurar a faca, preocupado por Shu Rong estar contemplando o vazio enquanto segurava na bancada da cozinha.

Somente assim o pescador respirou fundo e moveu sua cabeça, fitando o rapaz, que lhe sorriu ameno:

Deve estar muito cansado, posso preparar o peixe sozinho... Eu não me importo.

Mas, Shu Rong meneou com a cabeça:

"Vou dormir mais tarde, depois de tomar um banho... Estou bem para isso."

Os dois voltaram a limpar as garoupas por um tempo e numa panela grande de barro, começaram o preparo de peixe em meio às ervas, o gengibre e a pimenta, fritando lentamente para depois acrescentar o molho de soja e um pouco de vinagre.

Foi de forma desconexa e repentina, que em meio ao que faziam no fogão de lenha na entrada da cozinha, Huan Shui perguntou com a voz baixa:

Por que não me contou antes que conheceu minha mãe?

De todas as milhares de perguntas que Huan Shui poderia fazer... Por que tinha que ser justo essa? Shu Rong o fitou em meio aos vapores que subiam do interior da panela e deixou a colher de madeira apoiada sobre a borda.

Não era de se esperar por esse tipo de inquérito após a aparição de Huan Yijun?

Shu Rong nem havia repondido ainda e já estava xingando em sua mente o sacerdote de "maldito", gesticulando algo contrafeito:

"Não é um período da minha vida que me faz sentir orgulho."

Huan Shui não tinha certeza se era por Shu Rong ter sido um assassino, ou se era por ter conhecido sua mãe... Mas, em todo caso, essa história antiga deixava em Shui um prévio gosto ruim dentro da boca.

Como era minha mãe?... Sei que sou parecido com ela, mas... A pessoa dela... Shu Xiansheng se lembra?

"Xing Ye nunca perguntou isso ao seu próprio pai?" — Shu Rong tentou se desvencilhar, logo depois cutucando o peixe que cozinhava com a colher de pau antes envolta em vapor.

Aparentemente... O pai é como Shu Xiansheng. — Huan Shui retrucou, contendo um suspiro melancólico. — Nenhum dos dois gosta muito de falar dela. Minha mãe... Era uma pessoa ruim?

Shu Rong estava acordado há praticamente vinte e quatro horas, sua mente não estava muito clara, mas ele não suportava ouvir o desamparo e a dúvida na voz de Huan Shui.

"Sua mãe... Apenas cometeu erros quando era jovem, assim como eu cometi mais do que qualquer um... Seu pai tem rancores que eu não julgo." — O pescador gestualizou, assim que largou a colher comprida dentro da caçarola de barro.

Pode ser, eu acredito... Mas, Shu Rong nunca vai me contar... Vai?

Talvez seu trejeito soasse impaciente, mas Shu Rong fez os gestos numa cadência pausada, querendo que Huan Shui entendesse por completo:

"Entenda... Que no meio de tudo isso... Você não é parte do erro, é uma coisa boa."

Talvez, Yifu... Mas, isso não responde a minha pergunta. — Huan Shui soprou suavemente.

"O que você quer saber?" — Shu Rong gesticulou de volta, com ênfase, no limite de sua paciência e ausência de sono.

A pergunta do pescador retumbou em sua mente e na realidade, Huan Shui tinha tantas questões sobre esse passado que ele não compreendia... Naquele instante, sabendo que seu pai adotivo estava cansado, ele deu sutilmente de ombros e resolveu indagar apenas uma delas:

Meu pai... Me disse algo que me deixou pensativo. Ontem ele comentou que acredita não ter sido amado pela minha mãe... Yifu, foi você a pessoa que ela amou?

Ouvindo o questionamento vagando no ar, Shu Rong terminou de temperar a panela cheia de peixe e condimentos com o molho de soja e uma pequena dose de vinagre, somente quando ele terminou esse pequeno procedimento é que voltou-se para Huan Shui.

"Como vou saber?" — O pescador evocou num breve gesto de mãos e continuou: — "Se ela me amasse não teria deixado a montanha para vir comigo? Desse modo, a resposta deve ser NÃO... Nunca vou entender o coração de uma mulher."

Ouviu placidamente o dito e assentiu sem fazer demais comentários a respeito, Huan Shui piscou um pouco pensativo e replicou:

Por que não toma seu banho e descansa? Eu arrumo a bagunça e limpo a cozinha.

Por um momento, a expressão de Shu Rong ficou vaga e confusa, tal qual aquela fosse uma sugestão muito difícil de absorver e Huan Shui inclinou ligeiramente sua cabeça para o lado a observá-lo francamente cismado.

No entanto, o pescador recompôs seu trejeito habitual, acabou concordando por mais que achasse injusto deixar a bagunça para o rapaz.

Manter a conversa, era algo que estava acima de suas forças.

                                                                *************

Estando sozinho no pequena casa de banho, sem mesmo ter aquecido a água, Shu Rong não precisava esconder de ninguém a confusão que sua percepção atual lhe causava.

Claro que Huan Shui não tinha noção do quanto essa pequena conversa matinal tinha sido esclarecedora para Shu Rong... Como ele poderia desconfiar?

O pescador costumava ter o cuidado de manter seus sentimentos mais profundos guardados, fora do alcance de todos, trancafiados... Talvez, quase todos.

Com um utensílio de cobre, Shu Rong jogou mais da água fria sobre seu ombro, sentir a água sem qualquer calor batendo contra pele o mantinha acordado, a pele em seu tórax nu se arrepiou.

Por muito tempo, ele pensou que Huan Liang ainda tinha um peso inconveniente em seu coração... Isso até essa manhã.

Afirmar para uma outra pessoa que ela não o amava, era algo que não o deixava mais triste, apenas intensamente reflexivo.

Mas, o que mais o tirava de si, o transtornava e o assustava... Era justo se dar conta da insignificância desse passado, em vista de agora.

O agora... Quatro dias desde então.

Dois ideogramas, um cultivador... Fu Sheng.

Em sua mente, vagou o instante em que estavam na traineira de madrugada e subitamente aquele cultivador apenas afirmou à sua maneira hesitante de ser: Você... Parece meio triste hoje.

Como ele sabia? Os dois mal se conhecem em meio a meros equívocos contidos na transparência convidativa do vinho de pêra.

Ser percebido e observado, ser lido ainda era aterrador, mesmo que Shu Rong tivesse mais de quarenta anos, às vezes tudo que ele desejava era se tornar invisível.

Em tudo, o que ainda lhe dava mais medo, tal como confrontar o seu Nêmesis...

Era tornar a se apaixonar.

Certo de que a ruína de um homem, estava definida em seu próprio coração.

Afeiçoar-se era o mesmo que trair-se.


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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora