Chapter 470 O fio da predestinação, memórias de alguém pela metade 1

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Arco final Capítulo 470 O fio da predestinação, memórias de alguém pela metade 1

Dia anterior

Trinta de maio

O interior da choupana estava silencioso, apenas Fu Sheng podia quebrar o próprio silêncio.

Ele saiu do pequeno quarto de banho com a toalha pendurada no ombro, sentindo o rosto recém barbeado com os dedos, suas feições estavam melancólicas de saudade porque daria tudo para Shu Rong estar com ele no quarto de banho da choupana.

Eram doces as memórias de um fazendo a barba do outro.

Ao mesmo tempo, Fu Sheng se sentia mal, porque por muitos anos aquela choupana tinha sido lar de sua relação com Chang An Lifen, havia pequenos objetos dele por todo o canto e o cultivador sentia que era impossível movê-los.

Era como ofender a memória de seu primeiro amor.

Seu cabelo estava cheirando a essência de hortelã, mas sua mente estava impregnada do aroma Ylang Ylang do sabonete artesanal que Shu Rong usava.

Era o início da noite.

Mais cedo, Fu Sheng tinha cozinhado uma sopa, mas ele não estava com fome, então ele se sentou pego em desânimo no largo futon de casal e viu a bolsa de viagem que se quer tinha desfeito.

Era verdade que tinha umas mudas de roupa que Shu Rong tinha lhe emprestado, ele tirou uma delas da bolsa de juta e quando cheirou a trama do tecido, sentiu distante o aroma da pele do pescador, as peças estavam sujas... Precisavam ser lavadas.

Parecia que naquele instante, Fu Sheng estava pela metade, tinha tudo pela metade.

Ele não queria esquecer nenhum pequeno detalhe sobre Chang An, nem deixar que o tempo turvasse as memórias sobre os dois e ele estava quase chorando, porque ele não era como o Daozhang Jun, um deus menor que poderia superar a distância, reduzir dias em segundos com uma matriz de encurtamento.

Shu Rong estava distante, longos três dias de viagem ou mais.

E a esta distância era até mesmo difícil mandar uma mensagem, avisar que tinha chegado em Zhen Yan, apesar dos seus embates com Hulang.

Abraçando uma peça de roupa contra seu corpo, percebeu subitamente que algo caiu sobre a roupa de cama.

Fu Sheng arregalou o olhar, era a bolsa Qiankun que Shu Rong tinha dado antes que partisse e tinha dito para abrir assim que chegasse!

Contudo, havia se passado dois dias de sua chegada e na ansiedade em estar com seu pai, tinha esquecido por completo.

O cultivador deixou as roupas sujas dobradas no chão e tomou a bolsa na mão, olhando para o tecido, recordando-se da despedida na Vila Long Dun.

Ele tinha o coração tão apertado quando seus dedos atrapalhados tentaram abrir a pequena bolsa.

Sua mente estava em branco, mas seu coração estava sem dúvida muito agitado.

E quando os verdadeiros nós que estavam em seus dedos foram desatados, Fu Sheng puxou algo de seu interior e o que estava entre seus dedos era algo inacreditável.

O cultivador cheirando a hortelã deixou aquilo cair sobre o futon, seus olhos tornando-se rasos d'água... Aquilo não podia... Podia ser?

A lembrança o atravessou como uma flecha.

E cutucando com seus dedos... Era real, como se lembrava.

Segurou o objeto respirando profundamente.

Sua pele, as pontas de seus dedos sentindo a madeira antiga da miniatura da vara de pescar.

Um lampejo brilhou flamejante em sua mente e Fu Sheng lembrou da grande poça no quintal de sua avó, os peixinhos que ele desejou tanto pescar, mas nunca conseguiu.

Esse brinquedo apenas tinha sido esquecido, posto nos recessos mais obscuros de sua mente, mas agora as cenas se abriam como que pintadas num grande leque.

A voz dos adultos, o dia ensolarado, a barraca com brinquedos de madeira no mercado e a voz relutante de seu pai.

Indo mais longe, a noite que choveu e estava sozinho em casa, o dia que se perdeu e sentiu muito medo.

Aquela cobra.

Tão grande e ameaçadora no escuro, o som horrível que ela fazia, seu corpo caído no chão, imóvel de pavor.

Ele tinha apenas cinco anos e pensou que fosse morrer, a vara de pescar estava em seu bolso.

De repente, aconteceu... Tão rápido.

Havia o som da chuva, mas não mais o som da cobra e ainda paralisado de medo, Fu sheng viu aquele homem.

Sua memória meio turva nessa parte, lembrando-se apenas de estar agarrado ao corpo dele, era um adulto tão grande e forte, suas mãos não queriam soltá-lo... Sentindo-se protegido.

Fu Sheng estava tão absorvido pelas recordações distantes que levou um enorme susto quando ouviu batidas na porta da frente da choupana.

Estremecendo, ele passou o braço na beira dos olhos úmidos e se levantou, tentando se recompor.

Fu Sheng vestia um hanfu simples, de tecido fino, sandálias nos pés, ele até mesmo tinha esquecido de tirar a toalha úmida pendurada no ombro quando puxou o ferrolho da porta.

— A-Niang... Não sabia que tinha voltado. — Ele replicou bastante surpreso, tão logo entreabriu a porta.

Yan Yueji sorriu amplamente e se jogou nos braços do filho, afinal não se viam há vários meses.

Nessas horas, Fu Sheng até esquecia de ficar bravo pelos longos meses de ausência, ela mantinha o mesmo jeito caloroso, espontâneo, o abraço sempre apertado e alegre.

— Ahhh! Olha só para você... — Ela riu apertando-lhe a bochecha. — Meu filho é um homem lindo! Quando seu pai disse que você viria... Não consegui deixar a Província, tive que voltar.

Fu Sheng sorriu levemente, esfregando a bochecha, abrindo mais a porta.

— E para que a senhora ia deixar a Província? Já não viajou o bastante durante todos esses anos?

— Não me recrimine assim, Sheng. — Ela sorriu ao entrar, sem levar à sério. — Seu pai comentou comigo que passou uma temporada no litoral... Como foi? Fiquei sabendo que queria conquistar o coração de alguém.

Fu Sheng reprimiu um suspiro muito longo, ligeiramente irônico ao fechar a porta:

— É... A-Die contou tudo que podia, pelo visto... Mas, A-Niang... Quando ele te contou? Foi na madrugada que o abandonou após deixar um bilhete no travesseiro?

O sorriso de Yan Yueji se dissolveu feito uma nuvem... Ia ser mesmo censurada pelo próprio filho?

— Sheng... Pode me dar o benefício da dúvida? Vamos conversar, certo? — Ela sugeriu, segurando no braço de Fu Sheng.

— Tudo bem... Também quero mostrar uma coisa. Por que não dorme aqui esta noite?

Diante da sugestão, sua mãe abraçou seu braço e esfregou o rosto em seu ombro, parecendo um felino satisfeito.

E foram de braços dados na direção do quarto...

E foram de braços dados na direção do quarto

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora