Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3

Chapter 476 Apenas metade da alma na fronteira do sonho

Arco final Capítulo 476 Apenas metade da alma na fronteira do sonho

Trinta de maio

Montanhas de Anhui

Jiang Nan

Meados da madrugada

Estava numa praia de areias mornas, a sensação, a paisagem, tudo ao seu redor era tépido.

E podia se ver caminhando, era o espectador de si mesmo.

Mas, seu eu exasperado que dormia, não conseguia se comunicar com seu eu que caminhava e deixava a areia naquele cenário dourado, indo descalça por um piér comprido e largo que adentrava pelo mar levemente ondulante.

Não havia barcos no mar, não havia pessoas, não havia gaivotas pela orla, nem garças brancas.

Contudo, havia alguém no fim do píer que se estendia por mais de dois Li pelo mar.

Seu eu que caminhava avistou aquela pessoa sentada na beira, de costas, trajando branco e usando um chapéu cônico, os cabelos escuros ao vento.

E chegando mais perto, primeiro viu a vara de pescar de bambu presa na madeira do píer, a linha na água azulada com espumas douradas pelo sol e finalmente, assim que aquela pessoa virou a cabeça buscando seu olhar, o vento soprou o chapéu cônico, como uma manipulação bem orquestrada pelo senhor daquele cenário.

O chapéu caiu pendurado nas costas e ainda de pé, aquele Huan Shui que caminhava arregalou um pouco o olhar... Porque quem lhe devolvia o fitar, era o Duque Lao Shi em roupas simplórias, com a mecha branca ondulando em meio ao negrume das madeixas.

O eu que dormia, tentou acordar se debatendo em sua consciência letárgica.

Num gesto perturbado, ansioso e completamente inútil, que apenas o deixava mais exausto.

Apenas restando-lhe assistir aos dois protagonistas daquela cena tépida tão irreal, aprisionado.

— Qianbei... Onde nós dois estamos? Esse lugar não parece real.

Lao Shi sorriu com seu olhar fixo no jovem deus que parecia uma criança anestesiada.

— Meu pequeno Shui... Sente aqui perto de mim, direi o que quiser.

E o rapaz obedeceu sem questionar, sentando-se não com as pernas penduradas no fim do píer, mas viradas para Lao Shi, dobradas diante de seu corpo.

— Estou preso em outra alucinação criada por você... Não estou, Qianbei?

— Dessa vez não. — Lao Shi se colocou meio de lado, uma de suas pernas estava pendurada, a outra estava despreocupada sobre a madeira da construção. — Você e eu estamos dormindo e nos encontramos num mundo de sonhos que eu projetei entre as nossas mentes... No entanto, apenas metade da sua alma está aqui. Do contrário, esta minha criança não ouviria o que eu preciso dizer.

E a imagem de Lao Shi estava certa, foi o que o eu que dormia pensou solitário, preso num estado profundo de sonolência.

O Duque em vestes brancas examinou o rapaz que olhava calmamente em sua direção, tocou-lhe o pulso circundado pelo grilhão amaldiçoado e seus dedos deslizaram pela perna que carregava a jóia no tornozelo, encarando as cinco orbes que restavam.

Em seguida, Lao Shi se ajoelhou e se inclinou tocando-lhe o rosto, examinando o feitiço do esquecimento marcado nas íris.

— Quando eu lhe dei a tornozeleira de rubis, te dei de presente dez memórias... Desde o início, ela era um contrafeitiço que ia contra a natureza do feitiço do esquecimento, então haveria consequências severas... Punição ao lançador da magia, no caso... Eu.