Chapter 503 As primeiras recordações de uma nova vida 1

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Capítulo 503 As primeiras recordações de uma nova vida 1

Noite em Zhen Yan, terreno da família Fu

Quatro de junho

Quando voltou a choupana, pela mesma porta que havia saído, deparou-se com Fu Sheng aquecendo comida no fogão de lenha.

Ainda que fosse o início da noite, Fu Sheng tinha a sensação que Shu Rong tinha demorado muito.

Os dois trocaram olhares e Fu Sheng tampou a panela, retirando-a da chama.

— Demorou... Shu Rong-shi. Mas, se estiver com fome... Tem arroz e porco agridoce.

Shu Rong moveu a cabeça num gesto vago, sentou-se na cadeira que tinha ocupado anteriormente e puxou o caderno que tinha sido deixado sobre a mesa, junto com a tinta e o pincel.

Não tinha certeza, mas Fu Sheng encheu duas tigelas com a comida e levou para mesa junto com um par de kuaizi, enquanto Shu Rong já tinha escrito algo no caderno costurado.

Antes de sentar, Fu Sheng se inclinou para ler, colocando a tigela de frente para o pescador.

“Eu explico tudo, a razão da demora.

Qing Song acordou?”

O cultivador mais novo se acomodou na cadeira ao lado, porque seria mais fácil ler o caderno enquanto compartilhavam a refeição, colocando o par de kuaizi ao lado da tigela de Shu Rong.

— Ele despertou tem um tempo... Mas, há alguns minutos atrás minha avó passou por aqui, ela disse que a minha choupana era muito pequena para acomodar três pessoas, então ela sugeriu que Qing Song dormisse na casa dela. — Fu Sheng tomou seus kuaizi entre os dedos e prendeu um bocadinho de arroz glutinoso entre eles. — Qing Song gostou muito da minha avó Zhu, então não precisa se preocupar... Um simpatizou rapidamente com o outro.

Shu Rong fitou a comida, pensando que Hulang tinha lhe apresentado a avó de Fu Sheng mais cedo... Não era a dona da casa de chá? Uma mulher de boa conversa, carismática e curiosa.

Um pouco dividido entre comer e escrever no caderno, ele acabou deixando o pincel deitado no meio do caderno aberto, segurando os kuaizi e provando o porco agridoce.

— Shu Rong-Shi não precisa escrever nada agora... Pode me contar tudo após a refeição, no meu quarto.

Enquanto mastigava, Shu Rong direcionou o olhar para o pincel, depois passeou com o olhar na cozinha da chopana, aquele lugar novo para ele... Onde Fu Sheng compartilhou a vida com outro homem, lugar que com certeza fomentava inúmeras lembranças e que agora se tornava o local de suas próprias recordações após deixar para trás a vida de pescador.

Os dois comeram por alguns instantes em silêncio, até que Shu Rong colocou o par de kuaizi num suporte de porcelana, Fu Sheng entreabriu os lábios como se fosse dizer algo, mas continuou quieto ao observar o homem ao seu lado tomar o pincel entre os dedos, embeber em tinta sem exageros, as cerdas deslizando no papel como se ao invés de tracejar palavras, fosse fazer um desenho.

Fu Sheng que ainda mastigava, empunhando seus kuaizi, foi lendo palavra por palavra enquanto Shu Rong escrevia:

“Receio ser importuno e invadir seu espaço. Vendi a carroça e os bois, preciso desocupar amanhã.”

— Isso que te preocupa? — Fu Sheng sorriu esbarrando de leve seu ombro no dele. — Pode colocar seus livros e seus pertences aqui na choupana, não ligo se ficar bagunçado.

Contudo, a expressão na face de Shu Rong demostrava que alimentava o sentimento oposto, sendo territorial como a grande maioria dos seres humanos, ele não achava agradável impor sua bagunça numa casa que não fosse sua.

“Mas, é um tapado incorrígel...” — Shu Rong pensou fazendo uma expressão carrancuda por segundos.

Evidente que esses mínimos segundos em que o homem Shu trincou o olhar mal humorado, não passou despercebido e Fu Sheng tentou se segurar, mas acabou soltando uma risada alegre.

Shu Rong bufou, gesticulou com as mãos: “Por que está rindo feito bobo, tapado?”

E claro que o cultivador mais novo não entendeu o sentido literal do gesto, mas olhando o gestual como um todo, sabia que Shu Rong estava contrariado.

Sendo assim, Fu Sheng tocou-lhe carinhosamente o ombro, sem deixar de sorrir.

— Não fica bravo, vai... Também não fique tão preocupado, amanhã cedo vamos descarregar a carroça e pode deixar tudo por aqui o tempo que precisar... Sério, Shu Rong. Por que isso me incomodaria? Eu... Não poderia estar mais feliz ao ter você e Qing Song por perto.

Como de costume, ao fitar as íris castanhas incandescentes, Fu Sheng não conseguiu traduzir quase nada das feições de Shu Rong, apenas sentia que ele ainda estava preocupado, com muita coisa na cabeça.

Suspirando baixinho, tirando a mão que antes estava no ombro dele, apenas replicou ao silêncio incompreensível dele:

— A comida está esfriando, Shu Rong-Shi... Daqui a pouco conversamos.

Momentaneamente vencido, deixou o pincel no lugar que antes estavam seus kuaizi e voltou a comer sem pressa, na verdade, Shu Rong mal ergueu o olhar de sua tigela, imerso em caráter reflexivo.

De forma que, Fu Sheng não se atreveu a interromper essas divagações íntimas, embora se sentisse ansioso para quebrar o silêncio.

Foi somente mais tarde, após deixarem a cozinha arrumada e Shu Rong banhar o corpo, que os dois se viram sozinhos no único quarto da choupana.

Assim que saiu do quarto de banho, vestindo um hanfu limpo que Fu Sheng havia emprestado, os cabelos soltos e úmidos, teve apenas que seguir a luz da lamparina que cintilava dentro do aposento.

Nem bem entrou, os pés descalços no piso de madeira, viu Fu Sheng sentado na cama e de frente ao corpo dele estava um amuleto de papel marcado com um desenho cabalístico, na mão e entre os dedos... A agulha prateada e muito fina.

Sem mencionar, que Fu Sheng o fitava com certa ansiedade em sua direção, cheio de desejos.

Na mente de Shu Rong vieram apenas as palavras:

“Feitiço de Empatia.”

E do mesmo jeito que as palavras vieram, foram sopradas de sua mente ao sentar-se na beira da cama.

Envolvidos na semi-penumbra, cada gesto tomava uma proporção ritualística.

Shu Rong estendeu a mão esquerda, sabendo o que vinha a seguir. Assim que a agulha perfurou seu dedo mínimo, fechou os olhos desejando que Fu Sheng pudesse ouvir sua voz.

 Assim que a agulha perfurou seu dedo mínimo, fechou os olhos desejando que Fu Sheng pudesse ouvir sua voz

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora