Chapter 464 Rituais para ciclos que terminam e para ciclos infinitos 2

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Arco final Capítulo 464 Rituais para ciclos que terminam e para ciclos infinitos 2

Foi entre o som dos grilos, entre a luz dos vagalumes.

Enquanto a última lanterna se distanciava, Jun Wu não pensou que do nada Huan Shui o empurasse e ele caísse sentado dentro do rio.

Apenas ao lado de Huan Shui deixava sua guarda tão baixa, a ponto de ser surpreendido por um empurrão impetuoso, tão brusco.

Suas mãos bateram contra as pedras minúsculas e pontiagudas no fundo e não bastasse ser empurrado, Huan Shui sentou sobre seu corpo tão repentino quanto o empurrão desferido.

Os dois tiveram uma colisão de olhares dentro do rio repleta de estranhezas, interrogações, alguma irritação breve, mas intensa.

Jun Wu segurou no hanfu dele com força e decisão dominadora, seus olhares sem se desviarem um do outro.

— Se A-Shui quer a minha resposta, não vou dar a você... Até me dizer, o que fez você ficar tão perturbado. — Jun Wu tinha uma voz baixa, fria e inquisidora. — No que pensou a pouco?

Se Jun Wu o estava segurando pelo hanfu, Huan Shui estava com as mãos inquietas espalmadas contra o tórax de seu marido, as unhas afundando no tecido.

— Eu... — Shui hesitou, apertando com força os lábios, sentindo o rio em suas pernas. — Eu não queria desenterrar uma lembrança ruim... Num momento como este.

— Eu não me importo. Que lembrança, A-Shui? Eu quero saber.

— Quando... Eu estava três anos à frente no futuro, preso na fortaleza escura e fria... Eu vi você num delírio... Mandando flores de lótus iluminadas para mim, mas naquele dia... Eu nem sabia seu nome.

Huan Shui contou com notável desamparo, seu corpo tremia, mas não era por conta da água fria.

O rapaz apertou os olhos, se dando conta que ver neste tempo presente a lanterna iluminando o rosto de Jun Wu, tinha ressuscitado reminiscências dentro de si e as piores sensações, ele estava enlouquecendo naquela fortaleza... Essa visão jamais foi real.

— Eu queria gritar e não conseguia... E eu corri para você, mas quando tentei tocar, somente havia o vazio!... Eu estava tão desolado e com tanta raiva... E eu estraguei tudo agora. Desculpe...

Seu marido usava um tom tão culpado e arrependido, que mal conseguia olhar em sua direção.

Era em instantes como este que Jun Wu sentia que Huan Shui era frágil como uma borboleta de vidro, onde a luz passava livremente e era tão fácil quebrar.

Sua mão afrouxou sobre o hanfu e Jun Wu depositou um beijo no queixo do rapaz, o estalido soando afetuoso.

— Não, A-Shui não estragou em nada o instante... — Jun Wu cochichou, alisando-lhe as costas numa carícia que o fizesse acalmar. — Pode ter lembrado de algo ruim enquanto libertamos as lanternas na água, mas o que me motivava a fazer algo semelhante nos últimos meses... Era tão ruim quanto sua lembrança, na verdade... Era pela mesma razão.

O jovem deus deslizou as mãos pelo peitoral, sentiu os mamilos dele com as palmas suadas e suas mãos chegaram nos ombros largos, ele levantou o olhar e questionou num fio de voz:

— Como assim?...

— A-Shui não sabe... E também não deve lembrar, mas nos separamos no vigésimo nono dia do nono mês lunar. — Jun Wu contou, sua mão acariciando a lombar do rapaz em seu colo. — Desde então, todo dia vinte e nove, eu ia para beira do barranco em Sichuan e acendia uma lanterna... Como eu estava muito mal resolvido, cada lanterna era como um pedaço do meu rancor... Meu ódio equivocado por você, meu ritual pelo ciclo do término.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora