Capítulo 543 "Não era bem a conversa que eu esperava..."
Por um momento, Shu Rong esqueceu que a choupana de Fu Sheng ainda estava abarrotada de livros, verdadeiras torres empilhadas de conhecimento por quase todos os cômodos, tornando a moradia apertada para quatro pessoas.
Foi por conta disso, sugerindo assim que Huan Shui chegou, que os dois fizessem uma caminhada juntos dentro da noite durante a conversa.
Enquanto isso, Jun Wu foi convidado por Fu Sheng para tomar um chá com dim sum na mesa posta na varanda de Zhu Tai Tai.
Era uma noite quente e inquieta, pirilampos voavam em torno de arbustos e ouviam-se grilos estridulando sob o céu estrelado.
Ao pisar na varanda da dona da Casa de chá, o Daozhang já havia perdido Huan Shui e o homem Shu de vista, sua expressão carrancuda apenas desanuviou um pouco quando ouviu algo dito pela voz gentil de Fu Sheng.
Ao passo que, caminhando pela propriedade da família Fu, os dois pararam próximos a uma estufa que estava iluminada com pequenas lanternas por fora e um sino dos ventos em sua entrada, volta e meia tilintava soprado pela brisa.
Perto dali havia quadrados de horta marcados cuidadosamente na terra, Huan Shui supôs que tinham sidos cultivados pela avó de Fu Sheng, ainda que por perto e a menos de um Li, a residência dos pais de Fu Sheng estivesse à vista.
— Yifu... — Huan Shui começou assim que os dois trocaram olhares, sua voz soou tímida. — Eu realmente peço desculpas... Por causar preocupação.
"Mesmo sabendo que somos parentes de sangue... Ainda me chama de Yifu?" — Shu Rong gesticulou, uma ironia se estampava na posição de suas sobrancelhas e nas feições maduras de seu rosto.
Huan Shui esboçou um sorriso pequeno e honesto, respondendo em linguagem de sinais:
"Não leve para o coração... Shu Rong é meu Yifu, porque me acolheu quando eu nem o conhecia, quando eu era considerado um garoto vadio e doente... Nai nai também me adotou, sou muito grato."
Considerando tudo que Huan Shui tinha passado, o tempo que ficaram distantes um do outro, Shu Rong se sentiu orgulhoso por seu filho não ter esquecido a linguagem de sinais, não havia muitas pessoas com quem pudesse conversar assim.
Contudo, o rapaz suspirou brevemente e levando uma mecha de seu cabelo úmido atrás da orelha, usou mais uma vez sua voz:
— Yifu... Aqueles livros na choupana, não são seus? Por que eles estão com Fu Sheng?...
Pensou em perguntar se seu pai estava de mudança para Zhen Yan, mas a ideia simplesmente era tão estranha! Que Hun Shui decidiu usar outras palavras.
O jeito como o ex-pescador esquadrinhou sua face fracamente iluminada pelas lanternas, fez parecer que a resposta talvez fosse um pouco complicada.
"Como dizer?..." — Shu Rong gestualizou, várias reticências em seus modos. — "Por dez anos, eu tinha apenas sua avó e Qing Song..."
Antes que seu pai pudesse prosseguir, Huan Shui segurou uma das mãos dele e seus olhares se embateram ao som da voz baixa do rapaz que também era meio demônio:
— Pai, nunca quis... Nunca desejou vir até Zhen Yan antes para me conhecer? Se está aqui agora...
O toque de seu filho na pele de sua mão causou um aperto ingrato em seu peito e Shu Rong puxou sua mão, como se não soubesse lidar com o peso da pergunta.
Como dizer que tinha largado tudo e vindo a Zhen Yan por Fu Sheng e anteriormente, não tinha encontrado nem meia coragem para conhecer o filho gerado no ventre de Huan Liang?
"Isso faz diferença? Você nem se quer sabia da minha existência, pense na confusão que seria se eu viesse antes, reivindicando a paternidade? Ainda era como um território inimigo." — Shu Rong acabou por gesticular, seus gestos um pouco travados.
Huan Shui tinha compreendido quase tudo e se sentiu algo triste.
— Ainda não entendo... Qual a diferença entre agora e anos atrás? Precisei aparecer como um desconhecido em sua vida... Quando você sabia, Nai nai sabia... Quem eu era. Por que veio agora... Como se estivesse de mudança?
Shu Rong não sabia exatamente como contar, por que a conversa tinha tomado justo esse rumo? Seu filho mal havia acordado de um estado de coma, ele parecia frágil, tão suscetível a se magoar.
"Quando decidir deixar Long Dun... É claro que eu estava pensando em você, mas eu também estava pensando em outra pessoa..." — O ex-pescador gestualizou mais devagar, desejando que nada escapasse do discernimento de seu filho.
Huan Shui repetiu baixinho para si "outra pessoa" e sentiu-se irritado, porque soava que seu pai não estivesse sendo completamente sincero.
Cruzando os braços, se recusando a usar a linguagem de sinais, o jovem estalou a língua no céu da boca antes de perguntar:
— Que "outra pessoa"?
Por um momento, Shu Rong se arrependeu por dizer que havia outra pessoa. Não seria melhor ter omitido? Como ele adoraria ter o poder de voltar no tempo e apagar palavras construídas por sua linguagem silenciosa.
Mas, o mal estava feito e sem jeito, o cultivador mais velho fez gestos curtos, que se traduziam em:
"Fu Sheng."
Huan Shui deu um passo para trás e ouviu o sino do mensageiro pendurado tocar sobre a porta da estufa.
Seu pai nunca quis subir a montanha antes para conhecer seu filho de sangue, mas ele decidiu largar toda sua antiga vida por outro homem? Vir de longe e anular tudo que tinha construído, para o "território inimigo" segundo suas próprias palavras.
Huan Shui não conseguia acreditar que seu pai realmente se importava tanto assim com sua pessoa. Tinha sido sincero sobre ser grato por ser acolhido, mas a gratidão era como um pequeno pássaro dentro de um tronco, observando amedrontado o amargor cinzento se espalhar pelas beiras.
Sabendo o quanto era parecido com sua mãe e o quanto Shu Rong era mal resolvido por sua relação com ela...
Não seria a primeira vez que um de seus pais o desprezaria, através da lembrança que Huan Shui carregava de sua mãe, em sua existência e feições.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3
Fanfiction⚠️ Aviso importante ⚠️ Fanfic com temas sensíveis como abuso, gore e tortura psicológica. ◇ Essa é a continuação da Fanfic "Jun Wu A Terceira Face do Príncipe", aqui começamos o último livro dela, o livro 3. Aqui pretendo concluir essa imens...