01- Uma noite

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Isabelly Moretti

Continuo a subir pelas arquibancadas, me esforçando para manter o boné abaixado e a jaqueta de couro como um disfarce. Malditos cabelos ruivos, é praticamente impossível passar despercebida na multidão. 

Estrategicamente, escolho um canto recluso, escondido atrás de uma pilastra. Aqui, ninguém deve me notar, o que me permite desfrutar das largadas em relativa paz. Da minha posição, tenho uma vista excepcional do pinheirinho, o epicentro de toda a ação.

O ambiente está agitado, com equipes trabalhando arduamente nos carros, realizando testes enquanto o som alto do rock ressoa nos alto-falantes. Alguns jovens, com seus cigarros acesos e bebidas de origem duvidosa, criam um cenário típico de eventos assim.

Meus favoritos! 

Dirijo meu olhar para as pistas à minha frente, cada uma delas ampla e dividida por uma linha branca nítida, ladeada por muros altos e cercada por arquibancadas que proporcionam uma visão verdadeiramente espetacular.

Enquanto absorvo toda essa atmosfera, não posso deixar de sonhar com a possibilidade de estar naquele circuito, sentindo a pura adrenalina correndo nas minhas veias enquanto acelero por essas pistas incríveis.

O locutor ressoa pelos alto-falantes, detalhando os carros que se alinham para a corrida, disputando um lugar cobiçado na lista. Entre os competidores, avisto o filho do tio Nath, pronto para competir pela vaga 917, que o levaria ao grande confronto. 

Observo com atenção os primeiros corredores: um reluzente Impala 67 e um imponente Opala Comodoro à frente.

— Vou apostar mil dólares no Impala! — exclamo, empolgada em voz alta.  Minhas palavras provocam risadas de um grupo de rapazes próximos.

Um deles se aproxima, deslizando a mão pelos cabelos loiros enquanto dá uma longa tragada em seu cigarro. Quando sua mão desce, revela uma tatuagem de uma rosa em seu antebraço. Ela de alguma forma faz meu coração acelerar, seus traços são perfeitos. 

— Mil dólares no Opala! — o rapaz anuncia confiantemente, tirando um maço de dinheiro do bolso.

Minha garganta parece secar, enquanto minhas mãos começam a suar de nervosismo, obrigando-me a enxugá-las na minha calça jeans.

Ele se posiciona ao meu lado, e uma brisa traz o seu aroma, uma mistura intrigante de bebida, cigarro e perfume. Ele é notavelmente mais alto do que eu, e embora não seja particularmente musculoso, sua aparência é atraente. 

Observando com mais atenção, percebo que seus lábios estão curvados em um meio sorriso, carnudos e convidativos, mas a escuridão da noite impede que eu distinga a cor de seus olhos.

Os carros se alinham para a largada, e o Impala já chama a atenção com uma manobra impressionante. O piloto mantém o veículo praticamente imóvel, exceto pelas rodas que giram em alta rotação, gerando uma nuvem espessa de fumaça à medida que o atrito dos pneus com o solo se intensifica.

— Uau, que Bornout! — exclamo, maravilhada com a exibição.

O rapaz ao meu lado responde com um sorriso debochado, revelando dentes alinhados e brancos, o que lhe adiciona um charme.

O sinal de partida pisca em amarelo uma vez, depois duas, antes de se transformar em vermelho e verde. O Opala queima a largada, mas o Impala consegue ultrapassá-lo, cruzando a linha de chegada primeiro. 

O pinheirinho na pista direita acende em verde, declarando o Impala como o vencedor indiscutível.

— Porra! — o rapaz ao meu lado pragueja, pegando o maço de dinheiro e me entregando. — Eu não posso acreditar que perdemos! — diz com um tom aborrecido, suas sobrancelhas se juntando em uma expressão séria.

ILEGAISOnde histórias criam vida. Descubra agora