53- Uma nova vadia má

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Acomodada em meu escritório, sinto o peso dos últimos momentos que vivi. Os livros na estante, que nem mesmo me pertencem, parecem sussurrar histórias de tempos mais simples, quando a inocência era minha aliada e o futuro me parecia uma promessa de realizações. 

As manipulações que tramei contra Fióri, para extrair dele o que julgava necessário, parecem ter se transformado em uma maldição que assola minha existência. Tudo se desfez em caos, e agora, quem ocupa a cadeira do poder, com um olhar sombrio e cansado, não é mais o jovem de olhos azuis.

Quem ocupa o trono é uma nova vadia má.

Sou eu, a mulher que se considerava forte, mas que inadvertidamente lançou uma sentença irrevogável sobre aqueles que ama. Libertei Fióri desse tormento, apenas para abraçá-lo como meu próprio fardo.

Como eu pude ser tão idiota, ingênua? Poder e felicidade não andam juntos. E agora, cada objeto deste cômodo é um lembrete doloroso de como as coisas mudaram.

O copo de uísque repousa entre meus dedos, uma tentativa desesperada de buscar consolo em um líquido que queima tanto quanto a saudade que me consome. Sinto a falta de todos aqueles que amei e perdi, dos pais que afastei, da família da qual me distanciei e, até mesmo, de quem eu era.

A verdade que reluto em admitir é o quão vazia me sinto sem a presença de Anthony. É como se eu mal pudesse respirar, pois a ausência dele me dói profundamente. As recordações de seus sorrisos gentis, suas carícias, invadem minha mente, como se uma parte de mim ainda estivesse presa à esperança de reviver aqueles momentos.

Mas a realidade é cruel e implacável. Eles estão seguros longe de mim, estão melhor sem o fardo que represento.

E aquela menina que um dia sonhou em conquistar o mundo, que acreditou que poderia moldar seu destino sem se quebrar, morreu e agora confronta a verdade sombria de suas escolhas. 

Fui fraca, me entreguei ao amor, à ilusão de que poderia preencher todos os vazios em minha vida. No entanto, o destino zombou das minhas expectativas. Era como se ele dissesse: "Isabelly Moretti, não se pode ter tudo". No entanto, ignorei seus sussurros de sabedoria e fui gananciosa, ansiando por poder, controle e amor, uma busca que se revelou excessiva.

A culpa pesa em meus ombros como uma corrente, porque sei que as escolhas foram minhas.

Batidas na porta interrompem meus pensamentos, trazendo-me de volta à realidade. Respiro fundo, buscando a máscara de frieza que me protege do mundo lá fora. Endireito-me na cadeira, forçando meus músculos a obedecerem, mesmo quando minha alma implora por fraqueza.

— Entre! — ordeno, minha voz soando mais firme do que eu me sinto.

Porque, mesmo em meio ao caos, mesmo quando sinto o vazio consumindo meu ser, não posso me permitir fraquejar. Não depois de tudo o que aconteceu, não quando as sombras do passado ameaçam obscurecer o legado do tio Steve e da tia Jane, não quando o peso de suas expectativas paira sobre meus ombros como uma sentença de condenação.

A verdade é que fui convocada a buscar a vingança, e em meio a essa missão, deixei Anthony e Alysson livres para cuidar da pessoa que amamos e que tanto precisa de nós: Allan.

Encaro Vittório, que adentra a sala, acompanhado por um rapaz visivelmente debilitado, cercado por outros cinco homens que o seguram com firmeza, revelando os vestígios de uma violência recente. Meus olhos se fixam nele, reconhecendo-o como um dos antigos associados dos Ristrettos, um dos homens que uma vez serviram como os olhos e ouvidos da família. 

Recordo-me dos serviços que ele prestou, das vezes em que o flagrei seguindo meus passos a mando do tio Steve, tentando, em vão, me controlar.

— Por que ele está aqui? — questiono a Vittório, notando o desconforto em sua expressão ao perceber o copo de uísque entre meus dedos.

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