ILEGAIS

16 Uma corrida entre a vida e a morte

Anthony Moretti

Termino de beijar uma garota qualquer, deslizando minhas mãos pelos seus longos cabelos castanhos como se buscasse, através do toque, apagar a presença de Isabelly da minha mente. Minha carteira de cigarro já está vazia, e o calor ardente do uísque que desceu pela minha garganta ainda queima. 

Amanda até tentou me segurar em casa, mas o cheiro de Isabelly está impregnado em cada centímetro do lugar, e em cada canto, fotos dela parecem me encarar, zombando da minha insignificância para ela.

Não suporto a ideia de que ela deseja ser de outro, que nem sequer pensa em mim. Fui um completo insignificante em sua vida, e agora, enquanto Donato e ela deveriam estar retornando após a reunião com o russo, descubro que ela optou por ficar na Rússia. 

Insistiu nisso, o pai ficou orgulhoso, a filha mostrou fibra e visão, enquanto eu estou completamente destruído.

O som dos autofalantes dos carros ressoa em baladas, remixes e uma miscelânea de sons, acompanhados por luzes cintilantes que piscam em sincronia com a música. Caminho entre a multidão até meu amigo, que está sentado no porta-malas de um carro, segurando uma cerveja com expressão séria. 

Ao chegar, bato minha garrafa de uísque na sua cerveja e me sento ao seu lado.

— Anthony, acha que seus reflexos estão bons o suficiente para correr? — Romeu pergunta, seus olhos castanhos avaliando-me com preocupação, como se pudesse ver nos meus olhos a tormenta que se desenrola dentro de mim.

Um sorriso sinistro se desenha em meu rosto enquanto inclino a garrafa de uísque, tomando um gole que queima como o fogo que arde dentro de mim. Uma moça de cabelos azuis passa por mim, e eu, agindo por impulso, seguro seu braço e a puxo em minha direção. Ela se senta em meu colo, um breve susto atravessando seu rosto antes que eu a envolva com uma das mãos, deslizando meus dedos por entre seus cabelos azulados. 

Seu olhar encontra o meu, e um sorriso se forma em seus lábios. Pisco para ela, um convite mudo que ela aceita com um assentimento positivo. Nossos lábios se encontram em um beijo suave, e o gosto adocicado de morango e vodka invade minha boca. Um piercing em sua língua acrescenta uma pitada de ousadia ao momento, fazendo-me ponderar sobre a possibilidade de tal acessório em outras partes menos convencionais. Solto a garota, que se afasta com um sorriso estampado no rosto. 

Romeu me encara, as sobrancelhas arqueadas em questionamento, e eu respondo com um simples encolher de ombros.

— Estão maravilhosos! — comento com um tom escarnecedor. — Contra quem vou correr? — indago, levando a garrafa novamente aos lábios para mais um gole de uísque.

— Mike! — ele responde, e meu sorriso se alarga.

Há dias que venho caçando esse cretino, e ele tem se escondido feito um rato. Finalmente, ele aparece ao lado de sua gangue, um bando de moleques que mal saíram das fraldas, mas que agora terão que lidar com a fúria que eu descarregarei sobre todos eles.

O toque estridente da sirene reverbera, indicando o início da corrida. Sem perder tempo, dou um tapinha encorajador no ombro de Romeu e me encaminho, passo a passo, em direção ao meu carro aguardando na pista. 

A porta se abre com um rangido suave e me acomodo no banco, mas minha visão ainda está turva, por causa do excesso de bebida. Observo o carro de Mike posicionando-se ao meu lado, uma Lamborghini azul-marinho. Ele abaixa o vidro, seus olhos encontram os meus, e eu respondo com um sorriso, acompanhado de uma provocadora piscadela.

Decidido a marcar meu território, um sorriso travesso adorna meu rosto enquanto ligo o motor. Com um gesto rápido, pressiono o pedal do freio com firmeza, sentindo a vibração do carro sob mim. Os pneus traseiros esquentam com a pressão, e então, com um rápido pisar no acelerador, liberto o freio.