44 - Uma pessoa inocente

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Observo meus pais trocando sorrisos, e uma onda de nostalgia invade meu coração. Havia perdido tanto tempo sem compartilhar momentos assim com eles. Mamãe se ergue com uma graça que sempre a caracterizou, servindo uma xícara de café para papai, antes de depositar um beijo suave em seu rosto. 

O quadro de felicidade que se desenha diante dos meus olhos é um vislumbre do passado, e meu coração se enche de uma alegria há muito esquecida. Apesar de ambos estarem vestidos de preto, prontos para o sepultamento de Maya, a atmosfera é surpreendentemente leve, como se o amor deles fosse uma luz capaz de dissipar a escuridão.

Papai, notando meu olhar, sorri para mim e, de repente, a tristeza parece mais suportável. Ele coloca uma uva em minha mão, provocando um riso espontâneo, um gesto simples, mas carregado de significado.

A reconciliação com papai é uma bênção que eu não sabia que precisava. Enquanto aprecio o sabor do café, um sorriso se forma naturalmente em meus lábios. Nossas longas conversas de ontem prometem apoio incondicional às minhas decisões, uma promessa de razoabilidade em relação a Anthony e o respeito ao nosso espaço. Essas palavras ressoam em minha mente, criando uma sensação reconfortante de segurança. Agora, mais do que nunca, acredito que podemos superar os obstáculos que surgiram em nosso caminho.

Sem crises de ansiedade recentes, sinto-me cada dia mais confiante. Pegando um pedaço do bolo de coco, deleito-me com o sabor familiar da receita de mamãe. Justo quando estou imersa nesse momento de prazer, a campainha interrompe a harmonia familiar que pairava no ar.

— Eu vou, não se preocupem. — Minha voz soa determinada enquanto me levanto e corro em direção à porta. 

A maçaneta dourada é fria ao toque, revelando a presença de Petter do outro lado. Seu rosto carrega uma expressão de desapontamento, olheiras profundas denunciando uma noite mal dormida e seu terno está amassado, refletindo sua perturbação.

— Oi, Isabelly. Posso entrar?

Com uma hesitação breve, faço um gesto convidativo com a mão, conduzindo-o até a sala. Sentamos juntos no sofá, e um silêncio denso paira no ambiente, como se algo estivesse prestes a acontecer. Seus olhos, agora exibem algo mais sombrio.

— Você está linda. Preto lhe cai bem. — Sua tentativa de amenizar a tensão é evidente no sorriso que mais se assemelha a uma careta, revelando a verdade por trás das palavras gentis.

— Acho que o preto é uma cor universal, fica bem em qualquer um.

Petter suspira, como se estivesse reunindo calma e coragem para as próximas palavras.

— Me arrependo de tudo que te fiz e quero me desculpar.

Engulo em seco, permitindo que as lembranças de nossos momentos juntos passem rapidamente pela minha mente. Ele errou, mas antes disso, era um homem bom, gentil por um tempo.

— Tudo bem, Petter... já é passado.

Um sorriso mais verdadeiro se desenha em seus lábios, uma breve conexão na tentativa de reconciliação.

— Isabelly, preciso te contar algo. Anthony foi inocentado. Não encontramos evidências suficientes contra ele. Mas há mais... — Ele pausa, como se relutante em revelar o próximo capítulo da história.

— Recebemos um vídeo. Maya cometeu suicídio. Ela confessou seu ataque, e o de Allan. 

A notícia chega como uma onda, e, por um breve momento, um suspiro de alívio escapa de meus lábios. Eu sei que fomos nós que enviamos o vídeo anonimamente, mas eles terem aceitado foi uma vitória. Um sorriso ilumina meu rosto, pois Anthony finalmente provou sua inocência, libertando-se das acusações injustas. No entanto, ao desviar o olhar para Petter, percebo uma sombra de frustração que paira sobre ele.

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